Comentário sobre Jun, de Keum Suk Gendry-Kim

Sobre Autismo e Visibilidade

Divulgação: Pipoca e Nanquim

Neste mês a editora Pipoca e Nanquim publicou Jun, nova graphic novel da sul-coreana Keum Suk Gendry-Kim. Já citei por aqui o trabalho “Grama” (2017) da mesma autora que definitivamente vale a leitura e atenção também.

Mais uma vez, a autora nos surpreende e emociona com uma história delicada e sensível. Dando visibilidade e trazendo à tona à uma gama de pessoas em sofrimento e seus familiares. Keum trabalha o tema de inclusão da diferença por meio da arte de maneira genial.

Aproveito para comentar essa obra nesse momento já que em Abril temos o Dia da Conscientização sobre o Autismo (02/04), e todo o mês é dedicado à inciativas de visibilidade desse transtorno. Comentei aqui no blog da Sociedade dos Psicólogos sobre o tema também.

Apenas para contextualizar, o chamado Abril Azul começou em 2007 como uma iniciativa da ONU (Organização das Nações Unidas) para dar mais visibilidade ao transtorno. Em 2018, o dia 02 de Abril passa a fazer parte do calendário brasileiro oficial.

Jun

A graphic novel em questão trata da história de Jun, um garoto portador do Transtorno do Espectro Autista. Acompanhamos sua infância, adolescência e início da vida adulta, sempre à partir do ponto de vista de sua irmã mais nova, Yun-Seon. Seguimos desde aproximadamente os 04 anos de vida de Jun, o diagnóstico e o impacto disso na vida da família.

Temas como a disputa entre irmãos, o cuidado excessivo para o filho “deficiente” e o “abandono” sentido pela irmã que tem que fazer por vezes o papel de cuidadora, além de todo o sofrimento sentido pela família, são tratados aqui com naturalidade. Aqui vemos pais que tentam esconder o filho por vergonha, e por sentirem o julgamento de outros que não entendem/não aceitam a diferença. Só enxergam o incômodo.

Divulgação: Pipoca e Nanquim

Sua audição aguçada o leva à maravilhar-se com qualquer coisa que emita sons. Em momentos a autora o mostra detido no movimento e som de um ventilador, por exemplo.

Divulgação: Pipoca e Nanquim

A música vai ganhando mais e mais espaço na vida de Jun e de sua família a partir do momento que Jun passa à fazer apresentações de Pansori, um gênero folclórico de música originário da Coréia do Sul. Uma certa mistura de teatro e música com fortes referências à história do país.

É interessante notar que Jun foi baseado em uma pessoa que Keum conheceu de maneira pessoal quando fazia aulas de música próximo a sua casa. No posfácio ela aborda como foi essa experiência.

Arteterapia e Autismo

Na história, Jun passa por diferentes tentativas infrutíferas de tratamento de linguagem e estimulação precoce. Apenas no contato com a música, Jun pode expressar e entrar em contato com sua família e com o mundo:

“Existe uma porta entre o meu irmão e nós.

Nós sempre pedíamos para ele abrir a porta e vir para o mundo em que vivemos.

Não passava pela nossa cabeça o quanto isso era difícil pra ele.

Se você não puder abri-la, meu irmão, nós a abriremos pra você. E iremos te buscar.

Pois essa porta abre para os dois lados.”

(Gendry-Kim, 2022, p. 223-224).

Com isso, penso que vale a pena ressaltar a importância do uso da arte em alguns tratamentos. “A educação e a arte têm seu poder de alagar a imaginação e refinar os sentidos, promovendo mudanças significativas nos olhares em direção a novas percepções sobre o mundo” (Costa; Soares; Araújo, 2020, p.7).

Divulgação: Pipoca e Nanquim

À nível histórico, a arte terapia ganha força à partir dos anos 1940, desdobrando-se da terapia ocupacional e ganhando contornos próprios (Gómez, 2016).

Considero que a linguagem não é a mesma para todos. Talvez se trate de outra linguagem para muitos e com isso os conseguimos alcançar:

“En definitiva, podemos concluir que la Arteterapia proporciona a las personas con TEA un medio de comunicación no verbal y alternativa, sobre todo, para aquellos cuya utilización del lenguaje o comprensión del mismo sea parcial o inexistente. Para las personas con autismo el arte puede suponer el puente entre sus pensamientos internos y el mundo que le rodea.”

(Gómez, 2016, p.37)

Gosto do exemplo do texto Epepe, do romancista húngaro Ferenc Karinthy citado pela psicanalista Violaine de Montclos (2020). Nele, um ilustre linguista pega um avião errado e acaba chegando num país cujo idioma não consegue entender e com isso fica preso no lugar. Alguém lost in translation. Isso, para mim, é o Autismo.


Até a próxima,

Igor Banin

Referências Bibliográficas

Costa, I; Soares, J; Araújo, P (2021). A arte no processo de desenvolvimento de pessoas portadoras do Transtorno do Espectro Autista (TEA). In Research, Society and Development, v. 10, n. 8.

Gendry-Kim, K.S. (2022). Jun. São Paulo: Pipoca e Nanquim.

Gómez, J. (2016). Arteterapia y Autismo: El desarrollo del arte en la escuela. In Publicaciones Didácticas. (pp. 31-48, Publicaciones Didácticas, nº69).

Montclos. V. (2020). Seu paciente favorito. São Paulo: Perspectiva.


[VÍDEO] Psicólogo explica: o que é Transtorno de Personalidade Borderline?

Você provavelmente já ouviu falar neste nome. Borderline? O que é isso? O que isso significa? Qual é a diferença de Transtorno de Personalidade Borderline, Limítrofe e Fronteiriço? Qual é a diferença deste transtorno para o Transtorno Afetivo Bipolar?

O texto de hoje tentará explicar tudo isso. E você poderá ter uma explicação detalhada com o vídeo que foi produzido especificamente sobre este tema e encontra-se no final deste artigo, cuja leitura é recomendada para melhor entendimento do vídeo.

Transtorno de Personalidade Borderline

Me chamo Caio Cesar, sou psicólogo e psicoterapeuta. E, recentemente, me deparando com muitas dúvidas e também com informações dúbias sobre este transtorno, acredito que este se tornou um tema apropriado para ser explicado por um profissional da área em um vídeo.

O que é?

O transtorno de personalidade Borderline é um transtorno de personalidade. Com sinais e sintomas descritos tanto no DSM-V (manual estatístico e diagnóstico dos transtornos mentais, editado pela American Psychiatric Association – APA) como no CID 11 (Classificação Internacional de Doenças, editado pela OMS). Ele também pode ser chamado de Transtorno de Personalidade Limítrofe ou Transtorno de Personalidade Fronteiriço. Ambas as versões são uma tradução da palavra “borderline” que, em inglês, numa tradução literal, significaria “linha de fronteira”.

Tal nome já inicia a explicação sobre este transtorno, pois pacientes diagnosticados com ele pareciam, aos médicos que os, tratavam estarem no limite, na fronteira, na borda da realidade com o que se entende por psicose. A “linha de fronteira” entre a neurose e a psicose.

Quais os principais sintomas?

Entre os principais sintomas do Transtorno de Personalidade Borderline, podemos citas sintomas como:

  • Sensação constante e desproporcional de abandono e/ou negligência;
  • Mudança brusca de humor, ponto de vista, crenças, valores e objetivos de vida;
  • Dependência elevada de cônjuges, familiares e amigos;
  • Instabilidade emocional;
  • Explosões de raiva, crises de choro abruptas;
  • Automutilação; tentativas recorrentes de suicídio, entre outros.

AVISO IMPORTANTE:

O diagnóstico de um transtorno mental, principalmente de um transtorno de personalidade é algo que deve acontecer apenas a partir de uma avaliação multi e interdisciplinar de profissionais qualificados da área da saúde mental, como por exemplo, psicólogos (as) e psiquiatras. Se você se identificou com um ou mais destes sintomas isso não necessariamente significa que você possui este transtorno, pois sintoma não é sinônimo de diagnóstico.

É possível confundir um diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline com o de outros transtornos?

Sim, e frequentemente isso acontece. Infelizmente. Daí vem a importância de um diagnóstico não se basear apenas em sintomas e, ainda que se tenha uma hipótese diagnóstica robusta, é preciso fazer um diagnóstico diferencial. No caso do Transtorno de Personalidade Borderline, alguns transtornos fazem parte da lista que deve ser eliminada antes de um diagnótico fechado.

Na maioria das vezes, o transtorno de personalidade limítrofe é diagnosticado equivocadamente como

  • Transtorno Afetivo Bipolar: também caracterizado por grandes variações no humor, comportamento e sono. Contudo, no transtorno de personalidade borderline, o humor e o comportamento mudam rapidamente em resposta a estressores, especialmente os interpessoais, enquanto no transtorno bipolar o humor é mais sustentado por mais tempo e menos reativo. E as pessoas costumam ter alterações significativas de energia e atividade.
  • Transtorno de personalidade histriônica (saiba mais sobre histeria clicando aqui) ou transtorno de personalidade narcisista: pacientes com algum desses transtornos buscam atenção e são manipuladores, mas os que têm transtorno de personalidade limítrofe também se consideram maus e se sentem vazios. Alguns pacientes atendem aos critérios dos transtornos de personalidade antissocial.
  • Transtornos depressivos (entenda mais sobre estes clicando aqui) e transtornos da ansiedade (conheça mais sobre estes clicando aqui e aqui): esses transtornos podem ser diferenciados do transtorno da personalidade limítrofe, ou borderline, pela autoimagem negativa, instabilidade dos vínculos e sensibilidade à rejeição, que são características proeminentes do transtorno de personalidade limítrofe e geralmente estão ausentes nos pacientes com um transtorno de humor ou ansiedade.
  • Transtornos de dependência química (temos um texto que trata especificamente sobre este assunto, clique aqui para acessá-lo);
  • Transtornos de estresse pós-traumático

Alguns dos transtornos que fazem parte do diagnóstico diferencial do transtorno de personalidade limítrofe também podem coexistir, ou seja: a pessoa poderá ser diagnosticada simultaneamente tanto com o Transtorno de Personalidade Borderline, como com um Transtorno de Ansiedade ou um Transtorno Depressivo, por exemplo.

É por este e outros motivos que o diagnóstico do Transtorno de Personalidade Limítrofe é um dos mais difíceis de se fechar, portanto é preciso sempre escolher bons profissionais e estes devem ter muita cautela ao fechar este diagnóstico.

Tratamento

O tratamento para o Transtorno de Personalidade Borderline envolve psicoterapia e, muitas vezes, medicação, prescrita por um médico psiquiatra que realize um trabalho em conjunto com o psicoterapeuta.

Filmes e Séries (alerta de spoiler)

Para ilustrar um pouco mais sobre o transtorno, separei alguns filmes e séries em que atores e atrizes tentaram dar vida ao contexto de pacientes que sofrem do transtorno. Segue a lista:

Atração Fatal (1987)

Sinopse:  Thriller/Drama ‧ 1h 59m – A vida de Dan Gallagher (Michael Douglas) não poderia estar melhor. Advogado de sucesso, ele vive um casamento feliz e tem uma linda filha. Até que um dia ele conhece a executiva Alex (Glenn Close), com quem tem um caso. A amante começa a exibir um comportamento descontrolado e obsessivo, e logo Dan termina o breve relacionamento. Alex não aceita ser rejeitada e começa a fazer da vida de Dan um verdadeiro inferno.

Garota Interrompida (1999)

 2h 07min / Drama, Biografia
Sinopse: Em 1967, após uma sessão com um psicanalista que nunca havia visto antes, Susanna Kaysen (Winona Ryder) foi diagnosticada como vítima de “Ordem Incerta de Personalidade” – uma aflição com sintomas tão ambíguos que qualquer garota adolescente pode ser enquadrada. Enviada para um hospital psiquiátrico, ela conhece um novo mundo, repleteo de jovens garotas sedutoras e transtornadas. Entre elas está Lisa (Angelina Jolie), uma charmosa sociopata que organiza uma fuga.

Sessão de Terapia (3ª Temporada) – Paciente Bianca (Letícia Sabatella)

Sinopse: Nesta terceira temporada, Theo retorna de um período de descanso e reflexão. No entanto, assim que retoma suas atividades, descobre que seu filho mais velho está atravessando um momento muito difícil. Esse drama familiar fará com que Theo tenha a oportunidade de se aproximar do irmão Nestor e dos seus outros filhos.
Theo continuará atendendo e a cada dia acompanharemos o trajeto de um novo paciente. Bianca Cadore uma mulher casada e que ama demais, Diego Duarte um adolescente alcoólatra, Felipe Alcântara um jovem empresário que não consegue assumir sua preferência sexual e Milena Dantas, viúva de Breno Dantas, que aparenta ter Transtorno obsessivo compulsivo.
Nas sextas Theo tentará uma nova abordagem e entra num grupo de supervisão com outros terapeutas, Rita Sanchez, Guilherme Damasceno e o supervisor Evandro Mendes. A terceira temporada da série conta com roteiros originais, uma vez que a a série original teve apenas duas temporadas

[VÍDEO] EXPLICANDO O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE

Interaja conosco! Queremos saber sua opinião! Deixe seu feedback, suas dúvidas e sugestões nos comentários. Até o próximo texto!

Por Caio Cesar Rodrigues de Araujo

Neste texto, o Psicólogo Caio Cesar Rodrigues de Araujo Santos(CRP 06/139621) fala sobre características, sintomas e tratamento do transtorno de personalidade borderline.

Saiba mais sobre nosso sócio-colunista pelo link: https://spsicologos.com/quem-somos/caio-cesar-rodrigues-de-araujo/

Caso busque atendimento psicológico, você pode nos contatar pelo link:: https://spsicologos.com/servicos/atendimento-psicologico/

Para mais informações entre em contato com a Sociedade dos Psicólogos:

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6 dicas para calouros em Psicologia

Dicas e reflexões sobre o início da graduação

Março marca o início do semestre letivo em muitas faculdades e com isso muitos calouros entram em contato com o mundo universitário pela primeira vez. Dentro desse mar de mudanças e novidades que muitas vezes significam o início de uma nova fase na vida, uma dose de ansiedade, empolgação e diversos outros sentimentos podem estar presentes. Vamos conversar um pouco sobre isso tudo? Separei seis dicas relacionadas a esse tema e convido você a caminhar por elas comigo, topa?

1- Tá empolgado e quer fazer tudo esse semestre? Calma, respira!

Muitos centros acadêmicos possuem várias atividades para além das aulas da graduação e pode ser que toda a empolgação de estar iniciando algo novo desperte a vontade de fazer várias delas.

A graduação levará em torno de 10 semestres ( pode variar se seu curso for período integral). Isso significa que não é necessário que você engula todos os livros, cursos e atividades extras durante o primeiro semestre! Pode ser que você esteja sedento por aprender, mas reflita sobre como isso pode ser feito de maneira que não te prejudique. Às vezes, atividades que são empolgantes inicialmente podem se tornar sobrecargas. Se essa reflexão fizer sentido para você, busque olhar quanto tempo suas aulas ocupam na sua rotina e quais outras atividades é POSSÍVEL inserir.

Vale ressaltar que em 2021 foi publicado um artigo na revista Sustinere nomeado Saúde Mental e vida universitária: desvendando Burnout em estudantes de Psicologia. O artigo apresenta dados de uma pesquisa realizada por Castro-Silva, Maciel e Melo e apresenta a importância do monitoramento da saúde mental dos estudantes durante a formação universitária.

2- Sinta como os conteúdos das disciplinas te afetam pessoalmente

Pode ser que a caminhada na graduação em Psicologia te apresente conteúdos que balancem sua visão de mundo. Mas como assim?

Que a graduação nos faz entrar em contato com conteúdos nunca vistos antes não é uma grande novidade, né? Mas a graduação em Psicologia e em outros cursos da área de Humanas trazem especificamente conteúdos sobre aspectos da sociedade e das relações humanas e o contato com todas essas novas informações pode proporcionar reflexões significativas sobre sua vida e seus relacionamentos.

Tendo essa possibilidade em vista, aproveite a existência de espaços de reflexões junto aos alunos e professores. Debates, trabalhos em grupo e grupos reflexivos podem ser experiências que auxiliem no processo de acomodação dos novos conteúdos estudados.

3- Reflita a respeito de realizar um processo de Psicoterapia

Um outra possibilidade de espaço para acomodar e pensar sobre todas as reflexões levantadas durante a graduação pode ser a realização de um processo de Psicoterapia ou de Análise. Para aqueles que ainda não tiveram contato direto com sessões de Terapia, de um modo geral elas constituem um espaço de abertura e reflexão com o objetivo de acolher demandas. Nas palavras de Pompeia e Sapienza (2004), a “terapia é pró-cura, isto é, terapia é para cuidar”. Os autores também caracterizam a terapia como um processo que pode proporcionar um reencontro da expressão do nosso modo de sentir.

Além disso, a experiência pode ser interessante também para vivenciar como é ser acompanhado por um(a) Psicólogo(a).

4- Tudo bem ter incertezas

No decorrer da graduação, descobrimos que a ciência Psicologia se desenvolveu em diferentes áreas de atuação como a clínica, escolar, hospitalar, organizacional e jurídica, entre outras. Isso sem falar que dentro de cada área de atuação existem diversas abordagens e temáticas diferentes. Pode ser que você sinta afinidade para algumas dessas áreas desde agora, mas e se esse não for o caso?

Vale a pena retomar a importância de ter calma e paciência consigo mesmo e o questionamento: será que é necessário ter essa clareza desde agora? Ou será que está tudo bem não ter essa resposta ainda ?

As próprias matérias e estágios do curso apresentarão a possibilidade de entrar em contato com as diferentes áreas dentro da Psicologia. Outra sugestão é explorar os cadernos temáticos do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, você já ouviu falar neles?

5- Aproveite seus professores

Lembro-me do constante sentimento de admiração pelos meus professores da graduação. O conhecimento deles e a maneira como eles conduziam a turma por um processo de aprendizagem que envolvia desconstruções e reconstruções constantes era encantador para mim. Essa última dica tem um toque bem pessoal, mas não perde sua relevância: Aproveite o contato com seus professores! Eles trilharam anos de prática e pesquisa até o momento presente e estão ai, aula após aula, compartilhando a bagagem deles com vocês. Pergunte e participe de maneira ativa e presente, claro, se isso fizer sentido para você.

Após a graduação, conversar com alguém sobre dúvidas e reflexões sobre a prática caracteriza uma supervisão. As supervisões são riquíssimas e importantes, contudo existe investimento financeiro para realizá-las. Para refletirmos, a última tabela de valores do Conselho Federal de Psicologia-CFP, trouxe o valor médio de R$334,00 para Supervisão de atividades Psicológicas.

Toda a graduação envolve investimento financeiro também, tanto nas mensalidades como nos custos com materiais, transporte, moradia, etc…Mas especificamente nesse momento, os professores tendem a estar disponíveis para vocês sem que isso signifique algum tipo de investimento adicional.

6- Sinta a experiência da graduação e cuidado com comparações

Finalizo esta postagem com uma última reflexão: sintam a experiência da graduação em Psicologia e aproveitem a construção da história de vocês entrelaçada a esta ciência. Cada um tecerá uma caminhada única em relação a graduação, alguns com certas afinidades e outros com outras.

Tome cuidado com comparações. Caso você as perceba reflita sobre o quão construtivas ou destrutivas elas são para você.

E ai, o que achou das dicas? Fique à vontade para deixar seu comentário!

Obrigada pela companhia

Bárbara de Souza Miranda

Psicóloga – CRP 06/150368

Referências

POMPEIA, J.A.; SAPIENZA, B.T. Uma caracterização da Psicoterapia. In: POMPEIA, J.A.; SAPIENZA, B.T. Na presença de sentido: Uma aproximação teórica a questões existenciais básicas. São Paulo: EDUC; Paulus, 2004, 153-170.

CASTRO-SILVA, I.I.; MACIEL, J.A.C.; MELO, M.M. Saúde mental e vida universitária: desvendando burnout em estudantes de Psicologia. in: Revista Sustinere, Rio de Janeiro, v.9, n.1, p.5-22, jan-jun, 2021.

Imagens retiradas do site https://pixabay.com/pt/ – acesso em 07/03/2022 às 22:40.

Dor crônica e sofrimento emocional

A dor crônica pode chegar à nossa vida de muitas formas, acidentes, sequelas de alguma doença, ou até mesmo por origem emocional. A dor crônica é a que persiste por mais de três meses, ou um mês após a resolução da lesão, geralmente indica disfunção do sistema nervoso ou das fibras nervosas do membro afetado e, na maioria dos casos, ocorre com uma doença crônica, como artrite fibromialgia, osteoartrite de coluna ou joelho, reumatoide, entre outros.

Pode se destacar como as principais dores crônicas, as dores nociceptivas ou somáticas, que se referem a uma lesão ou inflamação nos tecidos da pele, o que é compreendido pelo sistema nervoso como uma ameaça e gera dor enquanto durar a lesão; a dor neuropática, ocorre devido à disfunção do sistema nervoso, seja no cérebro, medula espinhal ou nervos periféricos, é comum que venha na forma de queimação, picada ou formigamento; dor mista ou inespecífica, é a dor causada por componentes da dor nociceptiva e neuropática ou de causas desconhecidas.

Em qualquer um desses casos, o que temos de fato é como ser acompanhado por algum tipo de dor persistente ou recorrente acarreta não só em mal estar físico, mas muitas vezes em prejuízos psíquicos.
Um dos principais pontos é como a dor pode ser um limitador no dia a dia do acometido, tudo que for cerceado, principalmente aquilo que era querido e afetuoso, trabalho, esporte, lazer e outros, passa não apenas por um processo de luto, mas pode ser uma dolorosa marca em sua vida.

Podemos citar por exemplo aqueles que tem alguns movimentos limitados ou impedidos, afetando seu esquema corporal, sua concepção de funcionamento, de limites e de como fazer cada coisa, desde situações simples como dar um passo, até ao trabalho e movimentos finos e específicos, levando a frustração de não alcançar os resultados já esperados.

A dor crônica também pode afetar profundamente a autoimagem do acometido, visto que a sua posição dentro de seus grupos sociais, como a família por exemplo, tende a mudar quando estes o consideram inapto de desenvolver o que já era de seu costume e responsabilidade, levando a sentimentos de fracasso ou incapacidade.

Neubern vai propor a necessidade de ressignificação destas vivências e novas adequações, pontos que podem ser alcançados pela hipnose clínica ou psicoterapia em diversas abordagens por exemplo.

Em outras palavras, a hipnose, em tal dimensão, não se restringe a um procedimento catártico, uma vez que abrange a criação de um contexto seguro que ofereça continência, organização e possibilidades de produção de sentidos diante dos novos arranjos experienciais entre figura e fundo. (Neubern, 2014)

Essa pessoa passa a ter sua liberdade limitada e por consequência não pode expressar-se como gostaria enquanto indivíduo, podendo levar a uma vida inautêntica e angustiada. Dentro de nossas diversas complexidades vivenciais, nossos corpos representam a ferramenta de que dispomos para expressar tudo que existe de maneira virtual, ou seja, tudo aquilo que hoje existe no nosso psiquismo, pensamentos e sentimentos, nossas considerações e maneiras de ver o mundo, a partir do momento que não se pode mais realizar aquilo que consideramos correto, aquilo que idealizamos para a vida, ou ainda aqueles pequenos atos que parecem corriqueiros, passamos a limitar também quem somos, uma vez que muito disso passa a ficar apenas em nós, impossibilitado de vazão e expressão física e prática no mundo e nas relações.
Tratar situações como essas tem muitos caminhos, psicoterapia, hipnose, além claro do uso da medicação para a situação física em si. Todas essas vão buscar maneiras de levar o indivíduo a encontrar novas maneiras de se expressar, de ressignificar a dor, de dar novos sentidos a sua existência, a compreender melhor como suas emoções se relacionam com o que sentem, a gerir melhor crises e perceber que a dor ou condição física não é o centro de suas vidas, que mesmo com determinadas limitações ainda são seres capaz de a partir de determinada resiliência viver de maneira satisfatória e feliz.

Atenciosamente

Patrício Lauro

Referências

NEUBERN, Maurícioda Silva. Fenomenologia, Hipnose e Dor Crônica: Passos para Uma Compreensão Clínica.2014.

NEUBERN, Maurício da Silva. Hipnose e sentidos físicos em psicoterapia: sobre a reconstrução da experiência do sujeito. 2012.

O dia em que procurei um terapeuta existencial

Aconteceu quando eu ainda era um estudante de psicologia, que como outros passou boa parte da graduação pensando não precisar da tão falada psicoterapia, mas com a realidade dos atendimentos chegando tão rápido, decidi ir e falar de uma ou outra coisa que me incomodava, “bobagem sabe”, “coisa do dia a dia”, “coisas que todo mundo vive”. Então foi assim, escolhi um profissional que já conhecia, sabia ser alguém sério, marquei a sessão e fui, chegando lá não sabia muito bem o que dizer, na sala de espera já me perguntava se realmente tinha sido uma boa ideia, por que afinal “eu não precisava, era só pela faculdade mesmo”. Deu o horário, o terapeuta me acompanhou até o consultório, eu escolhi uma poltrona e me sentei, e aí, a partir desse momento comecei uma das melhores experiências da minha vida.

Conversei por uma hora com outra pessoa que realmente me ouviu, que estava atento a cada palavra, que demonstrou profundo interesse por cada banalidade ou “besteira” que eu contava e que fui percebendo não ser tão banal assim, e que nem era tanta “besteira”, que ali haviam coisas importantes que precisavam sair de dentro do meu imaginário, que precisavam ser ditas em voz alta, não para o psicólogo, mas para mim mesmo.

Ao contrário do que eu esperava, não houveram muitas perguntas, mesmo estudando psicologia, eu ainda carregava o estereótipo das mídias de que o terapeuta vai te aplicar “zilhões” de perguntas, de que ele iria querer invadir meus mais profundos segredos e que de alguma forma poderia até mesmo saber se eu estivesse mentindo em algum momento, mas não as poucas perguntas que vieram foram simples, diretas e cirúrgicas, e talvez nem fossem bem perguntas, era o famoso “fale mais sobre isso” ou “como é isso pra você”, mas foi tão bem aplicado, que me levava a pensar em respostas e relacionar vivencias e sentimentos que eu nunca havia considerado, que talvez nunca tivesse de alguma forma relacionado.

Logo nessa primeira sessão, passei a compreender que força e coragem frente a vida não tinham nada a ver com aguentar tudo calado, ou suportar a dor sem demonstrar, mas sim tem relação com compreender, ter a real bravura de encarar-se, de sentir de verdade e saber o motivo do que se sente, de avaliar as escolhas, boas e ruins e lidar de verdade com a responsabilidade, e não com viver a famosa má-fé de “está tudo bem”, logo de cara aprendi a importância que meus sentimentos e emoções tinham e quando  eles precisavam ser demonstrados e expostos, assim como passei a pensar que haviam momentos que eram só meus, e tudo bem. Passei a me aceitar melhor, fisicamente e emocionalmente, e a não esperar tanto o julgamento dos demais sobre a vida, mas sim ter a minha percepção e criar consciência desta.

Quando a sessão acabou, eu saí do prédio e senti algo inédito, uma profunda leveza, um alívio enorme, como se existisse um peso invisível sob meus ombros que tinha finalmente sido aliviado. O que quero dizer aqui é que com um terapeuta existencial, encontrei empatia e acolhimento, encontrei realmente um espaço meu que não simplesmente me ligou a uma pessoa que tinha técnicas de psicologia para aplicar em mim, mas que me colocou realmente em contato comigo mesmo.

Deixo este relato, pois tenho a esperança de que por aí tem uma outra pessoa nesse ponto crítico de ir ou não a terapia, e espero que essa vivência possa auxiliar na sua escolha.

Atenciosamente

Patricio Lauro