Musicoterapia: o que é e como funciona

A musicoterapia é uma forma de terapia que utiliza a música e os elementos sonoros como ferramentas para intervir na saúde mental, emocional e física das pessoas. Embora seja uma forma relativamente nova de terapia, a música tem sido usada para curar e acalmar desde tempos antigos.

O uso terapêutico da música pode ser encontrado desde a antiga Grécia. Neste período as doenças estavam envoltas às manifestações da natureza sem explicações científicas e possuíam um caráter psicossomático. Desta forma a música através de sua estrutura dos sons parecia uma fonte promissora para o restabelecimento da harmonia humana.

(Costa, 1989, apud Romão, 2015)

Um Breve Histórico Contemporâneo

Soldados ouvindo música durante a 2ª Guerra Mundial. (Reprodução / NARA [National Archives and Records Administration]).

Acredita-se que a musicoterapia tenha começado a ser praticada formalmente no século XX. Durante a Primeira Guerra Mundial, músicos voluntários tocavam para soldados feridos em hospitais militares. Mais tarde, na Segunda Guerra Mundial, a música foi usada como forma de mudar o estado mental dos soldados e também ajudar os veteranos a lidar com o estresse pós-traumático e outras neuroses relacionadas ao conflito. (Romão, 2015).

“Aproveitando as tecnologias modernas e o potencial da música para entreter, por um lado, e fornecer elevação moral e educação, por outro, os Serviços Especiais do Exército iniciaram os “V-Discs” (o V significava “vitória”) para aumentar o moral da tropa em 1943. V-discs – tipicamente discos de gramofone de 12 polegadas e 78 rpm – podiam conter mais de seis minutos de música por lado e apresentavam seleções populares, folclóricas e clássicas, geralmente gravadas especialmente para soldados. Embalados em caixas à prova d’água completas com agulhas de reposição, mais de 3 milhões de V-discs foram enviados para as tropas americanas. Toca-discos de manivela deram vida ao som gravado.”

(Tradução livre de trecho do texto “War, Vinyl and Print: Music for the Troops during World War II“, de Macklem, 2015)

Na década de 1940, a musicoterapia começou a ser estudada como uma forma de tratamento para pessoas com transtornos mentais e emocionais. Em 1950, o primeiro programa de treinamento formal em musicoterapia foi criado nos Estados Unidos.

No Brasil encontramos o marco do ano de 1968 como o de fundação de duas associações: a Associação Brasileira de Musicoterapia e a Associação Sul Brasileira de Musicoterapia. A partir dos anos 1970 a musicoterapia começou a ganhar espaço em cursos de graduação e centros de formação (Romão, 2015), como o primeiro curso de especialização em musicoterapia que foi oferecido pela Faculdade de Artes do Paraná em 1970 e o primeiro curso de graduação, pelo Conservatório Brasileiro de Música, em 1972 (Puchivailo & Holanda, 2014).

Nos anos 1980 a musicoterapia se desenvolveu na América do Sul, principalmente com os trabalhos e contribuições do argentino Rolando Benezon, que vinha da escola psicanalítica e desenvolveu o conceito de Identidade Sonora (ISO) que diz respeito a um som ou um conjunto de sons e de movimentos internos que caracterizam ou individualizam cada ser humano (Puchivailo & Holanda, 2014), e que também é dividido em ISO gestáltico, ISO cultural, ISO universal, ISO complementário e ISO grupal (Benezon, 1988).

“Esse conjunto de movimento-som condensa os arquétipos sonoros herdados onto e filogeneticamente. Evolutivamente se lhe agregam as vivências sonoro-vibratórias e de movimento durante a vida intra-ulterina, no período gestacional. Mais tarde se enriquece com as experiências vividas durante o parto, nascimento e durante todo o tempo de vida. […] Também pertencem ao ISO universal os sons de inspiração e expiração, o sussurro da voz da mãe, o atrito das paredes uterinas, o fluxo sanguíneo, a água e muitos outros que surgem da natureza e do ser humano na sua evolução”

(Benezon, 1988, p. 34-35)

Para conhecer o histórico desde a antiguidade até meados dos anos 2000, recomendo que leia o artigo “A história da musicoterapia na saúde mental: dos usos terapêuticos da música à musicoterapia“, de Puchivailo & Holanda (2014).

O primeiro artigo publicado na Revista Brasileira de Musicoterapia a respeito da Musicoterapia na Saúde Mental foi “Musicoterapia nas Oficinas Terapêuticas: trilhando e recriando horizontes”, de Claudia Lelis; Lúcia M. Romera, em 1997. As autoras discorrem sobre um projeto interdisciplinar realizado junto à Clínica Psicológica da Universidade Federal de Uberlândia. As oficinas de musicoterapia funcionavam uma vez por semana com os usuários do serviço, e também eram realizadas atividades sonoro-musicais com os estagiários. Segundo as autoras, a oficina era um lugar de reflexão e questionamento a respeito das relações humanas.

(Puchivailo & Holanda, 2014).

Conceitos, Definições e Práticas

Tudo bem, Caio, já entendi que a música compreende potenciais terapêuticos desde a antiguidade, mas afinal, do que se trata a musicoterapia? O que a diferencia de ouvir música ou então das outras terapias?

Na prática, as sessões de musicoterapia trabalham desde a escuta de uma música, até a reprodução, criação e improviso. Dessa forma, não é necessário que o paciente tenha conhecimento sobre a teoria musical ou sobre composição, mas, ainda assim, muitas vezes ele é convidado a tocar ou improvisar algo sonoro e isso tende a envolver instrumentos percussivos ou instrumentos não convencionais, uma vez que esses tendem a ser mais intuitivos. Isso é, se você der um violão (instrumento melódico/harmônico) para alguém que nunca tocou um, ela dificilmente vai conseguir utilizar aquele instrumento para externalizar algo, mas se você entregar tambores, sinos ou até lixas (instrumentos percussivos), essa pessoa terá mais aptidão em produzir um som.

Dito isso, é importante frisar que musicoterapia não é arte. A pessoa não precisa tocar bem um instrumento ou então cantar de forma afinada. O importante são os sons que emergem na sessão e como eles são interpretados dentro do complexo terapeuta-som-paciente.

De acordo com Bruscia (2000), a musicoterapia é, por natureza, transdisciplinar e então envolve elementos tanto do estudo da música quanto do estudo das terapias e abordagens terapêuticas.

MÚSICATERAPIA
PsicoacústicaPsicoterapia
Educação musicalTeoria clínica
EntretenimentoArtesterapias
Sociologia da músicaEducação especial
Quadro resumido com base em Bruscia (2000). Demais elementos e campos de estudo são elencados na publicação original.

Esse mesmo autor definiu a musicoterapia como “um processo sistemático de intervenção em que o terapeuta ajuda o cliente a promover a saúde utilizando experiências musicais e as relações que se desenvolvem através delas como forças dinâmicas de mudança” (Bruscia, 2000). Lendo Ruud (1990), também encontramos uma possível definição: “a mesma consiste numa profissão de tratamento onde o terapeuta usa a música como instrumento ou meio de expressão a fim de iniciar alguma mudança ou processo de crescimento direcionados ao bem-estar pessoal, adaptação social, crescimento adicional ou outros itens“.

Técnicas e Intervenções em Musicoterapia

Bruscia (2000) separou os 4 tipos de experiências musicais com potenciais terapêuticos: improvisação, execução (ou re-criação), composição e audição.

De acordo com um documento da UBAM – União Brasileira das Associações de Musicoterapia (2019), são destacadas e referenciadas 23 técnicas te intervenção em musicoterapia, o que inclui:

  • MATADOC _ Ferramenta de Avaliação para Distúrbios da Consciência (MAGEE et al, 2014, 2015, 2016; O´KELLY & MAGEE, 2013)
  • IMTAP Perfil de Avaliação Individual em Musicoterapia (BAXTER et al, 2007; DA SILVA, 2012)
  • IMCAP-ND __ Perfil de Avaliação Individual Músico-Centrada dos Transtornos de Neurodesenvolvimento (CARPENTE, 2016)
  • Escala ERI _ Avaliação das Relações Intramusicais (FERRARI, 2013)
  • Escala Nordoff-Robbins de Comunicabilidade Musical (ANDRÉ, 2017)
  • CIM – Classificação da Interação Musical (PAVLICEVIC, 1995)
  • 64 técnicas de Improvisação Clínica Musicoterapêutica (BRUSCIA, 1987)
  • 21 técnicas da Musicoterapia Neurológica (THAUT & HOEMBERG, 2015)
  • 38 técnicas da Abordagem Plurimodal de Musicoterapia (SCHAPIRA, 2007)
  • BMGIM _ Método Bonny de Imagens Guiadas e Música (BONNY e SAVARY, 1973; BONNY, 2002; BARCELLOS, 1999; GROCKE e MOE, 2015)

Para consultar as referências dessas ferramentas e as demais técnicas, ver o texto Justificativa Para Projetos de Musicoterapia, da UBAM.

Por Fim

Por meio da música, os pacientes podem se expressar, explorar emoções, relaxar e desenvolver habilidades sociais e cognitivas. Além disso, a música tem a capacidade de ativar áreas do cérebro relacionadas à memória, à linguagem e às emoções, o que pode ser especialmente benéfico para pacientes com lesões cerebrais e demências. Dessa forma, diferentemente do tradicional consultório de psicologia onde costumamos receber paciente em conflito com suas neuroses, na musicoterapia também encontramos muitos perfis psicóticos, autistas e pessoas buscando reabilitação ou enfrentando problemas do neurodesenvolvimento.

Referências

Benezon, R. (1988). Teoria da musicoterapia: contribuição ao conhecimento do contexto não-verbal. São Paulo: Summus.

Bruscia, K. E. (2000). Definindo musicoterapia. Rio de Janeiro: Enelivros.

Puchivailo, M. C. & Holanda, A. (2014). A história da musicoterapia na saúde mental: dos usos terapêuticos da música à musicoterapia. Brazilian Journal of Music Therapy, (16). Recuperado de https://musicoterapia.revistademusicoterapia.mus.br/index.php/rbmt/article/view/230

Macklem, Mary. (2015). War, Vinyl and Print: Music for the Troops during World War II. National Endowment for the Humanities. (Acessado em 14/03/2023). Disponível aqui: https://www.neh.gov/divisions/research/featured-project/war-vinyl-and-print-music-the-troops-during-world-war-ii

Romão, S. L. S. (2015). Os diferentes caminhos da música – um olhar sobre a musicoterapia. Colloquium Humanarum, vol. 12, n. Especial, 2015, p. 1713-1720. ISSN: 1809-8207. DOI: 10.5747/ch.2015.v12.nesp.000801

Ruud, E.. (1990). Caminhos da musicoterapia. São Paulo: Summus.

UBAM (2019). Justificativa para projetos de musicoterapia. (Acessado em 14/03/2023). Disponível aqui: https://ubammusicoterapia.com.br/wp-content/uploads/2021/05/Justificativa-para-Projetos-de-Musicoterapia.pdf

por Caio Ferreira

[VÍDEO] Psicólogo explica: o que é Transtorno de Personalidade Borderline?

Você provavelmente já ouviu falar neste nome. Borderline? O que é isso? O que isso significa? Qual é a diferença de Transtorno de Personalidade Borderline, Limítrofe e Fronteiriço? Qual é a diferença deste transtorno para o Transtorno Afetivo Bipolar?

O texto de hoje tentará explicar tudo isso. E você poderá ter uma explicação detalhada com o vídeo que foi produzido especificamente sobre este tema e encontra-se no final deste artigo, cuja leitura é recomendada para melhor entendimento do vídeo.

Transtorno de Personalidade Borderline

Me chamo Caio Cesar, sou psicólogo e psicoterapeuta. E, recentemente, me deparando com muitas dúvidas e também com informações dúbias sobre este transtorno, acredito que este se tornou um tema apropriado para ser explicado por um profissional da área em um vídeo.

O que é?

O transtorno de personalidade Borderline é um transtorno de personalidade. Com sinais e sintomas descritos tanto no DSM-V (manual estatístico e diagnóstico dos transtornos mentais, editado pela American Psychiatric Association – APA) como no CID 11 (Classificação Internacional de Doenças, editado pela OMS). Ele também pode ser chamado de Transtorno de Personalidade Limítrofe ou Transtorno de Personalidade Fronteiriço. Ambas as versões são uma tradução da palavra “borderline” que, em inglês, numa tradução literal, significaria “linha de fronteira”.

Tal nome já inicia a explicação sobre este transtorno, pois pacientes diagnosticados com ele pareciam, aos médicos que os, tratavam estarem no limite, na fronteira, na borda da realidade com o que se entende por psicose. A “linha de fronteira” entre a neurose e a psicose.

Quais os principais sintomas?

Entre os principais sintomas do Transtorno de Personalidade Borderline, podemos citas sintomas como:

  • Sensação constante e desproporcional de abandono e/ou negligência;
  • Mudança brusca de humor, ponto de vista, crenças, valores e objetivos de vida;
  • Dependência elevada de cônjuges, familiares e amigos;
  • Instabilidade emocional;
  • Explosões de raiva, crises de choro abruptas;
  • Automutilação; tentativas recorrentes de suicídio, entre outros.

AVISO IMPORTANTE:

O diagnóstico de um transtorno mental, principalmente de um transtorno de personalidade é algo que deve acontecer apenas a partir de uma avaliação multi e interdisciplinar de profissionais qualificados da área da saúde mental, como por exemplo, psicólogos (as) e psiquiatras. Se você se identificou com um ou mais destes sintomas isso não necessariamente significa que você possui este transtorno, pois sintoma não é sinônimo de diagnóstico.

É possível confundir um diagnóstico de Transtorno de Personalidade Borderline com o de outros transtornos?

Sim, e frequentemente isso acontece. Infelizmente. Daí vem a importância de um diagnóstico não se basear apenas em sintomas e, ainda que se tenha uma hipótese diagnóstica robusta, é preciso fazer um diagnóstico diferencial. No caso do Transtorno de Personalidade Borderline, alguns transtornos fazem parte da lista que deve ser eliminada antes de um diagnótico fechado.

Na maioria das vezes, o transtorno de personalidade limítrofe é diagnosticado equivocadamente como

  • Transtorno Afetivo Bipolar: também caracterizado por grandes variações no humor, comportamento e sono. Contudo, no transtorno de personalidade borderline, o humor e o comportamento mudam rapidamente em resposta a estressores, especialmente os interpessoais, enquanto no transtorno bipolar o humor é mais sustentado por mais tempo e menos reativo. E as pessoas costumam ter alterações significativas de energia e atividade.
  • Transtorno de personalidade histriônica (saiba mais sobre histeria clicando aqui) ou transtorno de personalidade narcisista: pacientes com algum desses transtornos buscam atenção e são manipuladores, mas os que têm transtorno de personalidade limítrofe também se consideram maus e se sentem vazios. Alguns pacientes atendem aos critérios dos transtornos de personalidade antissocial.
  • Transtornos depressivos (entenda mais sobre estes clicando aqui) e transtornos da ansiedade (conheça mais sobre estes clicando aqui e aqui): esses transtornos podem ser diferenciados do transtorno da personalidade limítrofe, ou borderline, pela autoimagem negativa, instabilidade dos vínculos e sensibilidade à rejeição, que são características proeminentes do transtorno de personalidade limítrofe e geralmente estão ausentes nos pacientes com um transtorno de humor ou ansiedade.
  • Transtornos de dependência química (temos um texto que trata especificamente sobre este assunto, clique aqui para acessá-lo);
  • Transtornos de estresse pós-traumático

Alguns dos transtornos que fazem parte do diagnóstico diferencial do transtorno de personalidade limítrofe também podem coexistir, ou seja: a pessoa poderá ser diagnosticada simultaneamente tanto com o Transtorno de Personalidade Borderline, como com um Transtorno de Ansiedade ou um Transtorno Depressivo, por exemplo.

É por este e outros motivos que o diagnóstico do Transtorno de Personalidade Limítrofe é um dos mais difíceis de se fechar, portanto é preciso sempre escolher bons profissionais e estes devem ter muita cautela ao fechar este diagnóstico.

Tratamento

O tratamento para o Transtorno de Personalidade Borderline envolve psicoterapia e, muitas vezes, medicação, prescrita por um médico psiquiatra que realize um trabalho em conjunto com o psicoterapeuta.

Filmes e Séries (alerta de spoiler)

Para ilustrar um pouco mais sobre o transtorno, separei alguns filmes e séries em que atores e atrizes tentaram dar vida ao contexto de pacientes que sofrem do transtorno. Segue a lista:

Atração Fatal (1987)

Sinopse:  Thriller/Drama ‧ 1h 59m – A vida de Dan Gallagher (Michael Douglas) não poderia estar melhor. Advogado de sucesso, ele vive um casamento feliz e tem uma linda filha. Até que um dia ele conhece a executiva Alex (Glenn Close), com quem tem um caso. A amante começa a exibir um comportamento descontrolado e obsessivo, e logo Dan termina o breve relacionamento. Alex não aceita ser rejeitada e começa a fazer da vida de Dan um verdadeiro inferno.

Garota Interrompida (1999)

 2h 07min / Drama, Biografia
Sinopse: Em 1967, após uma sessão com um psicanalista que nunca havia visto antes, Susanna Kaysen (Winona Ryder) foi diagnosticada como vítima de “Ordem Incerta de Personalidade” – uma aflição com sintomas tão ambíguos que qualquer garota adolescente pode ser enquadrada. Enviada para um hospital psiquiátrico, ela conhece um novo mundo, repleteo de jovens garotas sedutoras e transtornadas. Entre elas está Lisa (Angelina Jolie), uma charmosa sociopata que organiza uma fuga.

Sessão de Terapia (3ª Temporada) – Paciente Bianca (Letícia Sabatella)

Sinopse: Nesta terceira temporada, Theo retorna de um período de descanso e reflexão. No entanto, assim que retoma suas atividades, descobre que seu filho mais velho está atravessando um momento muito difícil. Esse drama familiar fará com que Theo tenha a oportunidade de se aproximar do irmão Nestor e dos seus outros filhos.
Theo continuará atendendo e a cada dia acompanharemos o trajeto de um novo paciente. Bianca Cadore uma mulher casada e que ama demais, Diego Duarte um adolescente alcoólatra, Felipe Alcântara um jovem empresário que não consegue assumir sua preferência sexual e Milena Dantas, viúva de Breno Dantas, que aparenta ter Transtorno obsessivo compulsivo.
Nas sextas Theo tentará uma nova abordagem e entra num grupo de supervisão com outros terapeutas, Rita Sanchez, Guilherme Damasceno e o supervisor Evandro Mendes. A terceira temporada da série conta com roteiros originais, uma vez que a a série original teve apenas duas temporadas

[VÍDEO] EXPLICANDO O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE

Interaja conosco! Queremos saber sua opinião! Deixe seu feedback, suas dúvidas e sugestões nos comentários. Até o próximo texto!

Por Caio Cesar Rodrigues de Araujo

Neste texto, o Psicólogo Caio Cesar Rodrigues de Araujo Santos(CRP 06/139621) fala sobre características, sintomas e tratamento do transtorno de personalidade borderline.

Saiba mais sobre nosso sócio-colunista pelo link: https://spsicologos.com/quem-somos/caio-cesar-rodrigues-de-araujo/

Caso busque atendimento psicológico, você pode nos contatar pelo link:: https://spsicologos.com/servicos/atendimento-psicologico/

Para mais informações entre em contato com a Sociedade dos Psicólogos:

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Sobre viver e navegar

Em algum momento percebi que a vida é um oceano. Longo, vasto, diferente dos mares que conhecemos nas praias, este não tem limite. Naveguei em uma embarcação familiar por muito tempo, ali cada um fazia sua parte e de alguma forma, cuidávamos uns dos outros mesmo em momentos de fortes tempestades ou grandes calmaria. Com algum tempo notava outros barcos, navios, balsas ou botes, cada grupo com seu meio de navegar, mas em algum lugar eu via pessoas à deriva, sozinhas ou distantes dos seus.

Passei algum tempo em terra firme, aprendendo a lidar com os imprevistos que acontecem em alto mar, e formas de auxiliar pessoas a encontrar equilíbrio em suas embarcações, as vezes até mesmo a como construir uma, essa foi minha formação como psicoterapeuta. Volta e meia estou lá em uma dessas escolas novamente, sempre há uma ferramenta nova para auxiliar um naufrago ou uma nova forma de fechar um buraco em um casco de barco.

Quando me tornei psicólogo, me foram dadas (ou construí) algumas ferramentas e técnicas que mudaram a minha forma de navegar. Aprendi a ter um olhar e uma escuta focada e atenta, alguém pode estar se debatendo na água bem do seu lado e você nem perceber a tempo de ajudar. Para maiores distâncias tenho uma luneta que me ajuda a ver, ajuda as vezes a encontrar uma embarcação ou porto seguro, onde o resgatado possa descansar e traçar sua nova rota. Gosto muito da habilidade de ficar em silêncio e escutar, o vazio do oceano pode no dizer muito, e assim também posso buscar compreender de onde vem e para onde vai cada uma dos que encontro, infelizmente alguns se perderam, sempre que posso ajudo com um mapa ou calculamos juntos a rota corrigir seu curso.

Tenho sempre a mão uma velha, mas muito boa boia salva vidas, em alguns casos não dá para mergulhar e ajudar, mas essa ferramenta traz lentamente a pessoa até a segurança, e esse tempo é até importante para que ela se acalme e possa aí se organizar e ir em frente.

Com o tempo me separei do grupo que me mantinha, construí minha própria embarcação, e hoje navego nas direções que acho mais importantes, independentemente de onde vá, sempre tem gente para conhecer, suas histórias me encantam, algumas me comovem, me sempre vejo que todos são capazes de encontrar aquele tesouro perdido, ou aquela ilha afastada que tanto procuram, em alguns casos fico feliz de fazer parte deste processo. O mar pode ser traiçoeiro, cheio de perigos, de tempestades e vis piratas, mas a cada dia me torno e acredito que você também, um marinheiro mais ágil, mais atento, mais hábil, e sei que alcançaremos mares mais tranquilos e estáveis. Com o tempo notamos que cada um tem sua forma de navegar, que alguns tem pressa, outros tem muita calma, alguns tem um objetivo muito bem definido, outros só querem aproveitar a vista, independentemente de onde o vento o leve. Conheci aqueles que não queriam mais navegar sozinhos, também conheci aqueles que querem aproveitar o som do oceano, da vida sem muitas pessoas por perto, e aprendemos a apreciar todas as formas de navegar.

O mar é lindo, sentir as ondas, ver as paisagens, conviver com a fauna, tudo isso pode ser muito bom, mas existem tempestades assustadoras, naufrágios trágicos, e até mesmo piratas por aí, e é natural que em algum momento tenhamos medo do que vamos encontrar por aí. Se eu puder ajudar na sua navegação, ficarei feliz, as cartas náuticas da Psicologia foram desenvolvidas para isso afinal, mas de toda forma, espero o melhor para você e todos nós.

De um psico-marinheiro da vida para todos os navegantes por aí procurando uma direção.

Por Psi. Patrício Lauro

Mulheres na fenomenologia brasileira

Dicas de livros na abordagem fenomenológico-existencialista

Em 2013, o Conselho Federal de Psicologia lançou o livro “Quem é a Psicóloga brasileira: Mulher, Psicologia e trabalho” e apresentou dados de uma pesquisa revelando que 88% da nossa classe é formada por mulheres. Apesar desta porcentagem significativa, a atuação de mulheres na ciência se tornou uma possibilidade muitos anos depois da dos homens. Nossa existência nessa área vem trazendo inúmeros desafios. Lidamos com estereótipos e preconceitos de diversas formas.

Uma pesquisa feita em pelo CNPQ (Conselho Nacional de desenvolvimento Científico) em 2020 aponta que, no Brasil, a presença feminina dentro das instituições de ensino diminui à medida que os estudos avançam. Ocupamos 58% das bolsas de iniciação científica durante a graduação e apenas 38% quando se consideram as bolsas de produtividade em pesquisas ( mestrado e doutorado).

Seguimos enfrentando os desafios de sermos Psicólogas brasileiras e profissionais da ciência!

Quem são as autoras e pesquisadoras da área que você têm interesse?

Alguns dias atrás troquei reflexões com um colega de profissão sobre a quantidade de autores homens e autoras mulheres que estudamos durante a graduação e desde então. Percebi que eu nunca tinha levantado este questionamento antes e gostaria de compartilhá-lo com vocês também. Vamos dar mais visibilidade para as autoras e pesquisadoras dentro da Psicologia? Convido-lhes a conhecer uma pequena amostra de obras brasileiras sobre a teoria fenomenológico-existencialista.

Psicologia fenomenológica: Fundamentos, método e pesquisa

Yolanda Cintrão Forghieri

capa do livro retirada da pesquisa no Google

Com uma extensa caminhada acadêmica e docente, Yolanda Cintrão Forghieri desenvolveu diversos trabalhos em Psicologia.

Nesta obra, apresenta de forma fluída alguns fundamentos sobre a fenomenologia e traz pontos sobre a metodologia de pesquisas na área.

Recebi a indicação deste livro como conteúdo extracurricular para revisar alguns pontos sobre a feno. A clareza de sua linguagem torna possível a assimilação sobre a apresentação das bases teóricas.

Outras obras e palestras da autora podem ser encontradas facilmente através de sites de busca.

Conversa sobre terapia

Bilê Tatit Sapienza

Capa do livro retirada de pesquisa no Google

Com uma linguagem sensível e poética, Bilê Tatit Sapienza discorre sobre o processo Psicoterapêutico dando luz a aspectos sutis e profundamente significativos. Desta maneira, a autora promove reflexões sobre o relacionamento que se dá entre terapeuta e cliente.

Meu contato com esta obra aconteceu antes do início do estágio em atendimento clínico na abordagem fenomenológica. Digo-lhes que foi uma leitura transformadora e extremamente acolhedora. Lembro-me que as discussões sobre o livro proporcionaram uma nova possibilidade de olhar para o processo psicoterapêutico.

Deixo aqui o convite para que conheçam também outras obras da autora como “Do desabrigo à confiança”(2013) e “Encontro com a Daseinsanalyse” (2015) .

Ser criança: Uma compreensão existencial da experiência infantil

Organização de Ana Maria Lopez Calvo de Feijoo e Elaine Lopez Feijoo

Capa retirada do site da editora IFEN.

Publicado pela Editora Científica IFEN (Instituto de Psicologia Fenomenológico Existencial do Rio de Janeiro), este livro traz reflexões sobre o modo de ser-criança na contemporaneidade, desenvolvimento infantil, entre outros temas.

Além de Feijoo e Feijoo, outras quatro autoras estão presentes: Cristine Monteiro Mattar, Joannelise de Lucas Freitas, Débora Candido de Azevedo e Débora Gil.

Para aquelas que trabalham com crianças ou tem interesse em, fica ai a indicação!

PS: A Editora IFEN publicou diversas coleções temáticas com outros artigos de autoras mulheres.

Pesquisa em Psicologia Fenomenológico-Existencial: Interpretações do Sofrimento na Contemporaneidade

Organização de Elza Dutra e Ana Andrea Barbosa Maux

Capa retirada do site da editora

Esta obra traz um pouco do que vem sendo desenvolvido em pesquisa em fenomenologia e aborda algumas inquietações que motivaram o ingresso de Psicólogas no campo acadêmico, visando produzir conhecimento crítico.

Considerando os diversos sofrimentos da existência humana, são apresentadas temáticas como suicídio, relacionamentos amorosos, tecnologia, maternidade e relações de trabalho.

O livro pode ser encontrado em formato digital e físico no site da editora e em outras livrarias online.

Elza Dutra é Professora Titular de Psicologia Clínica Fenomenológica, orienta Mestrado e Doutorado na UFRN ( Universidade Federal do Rio Grande do Norte), além de outros títulos, e coordena um núcleo de Psicologia chamado Poiesis que desenvolve diversas atividades.

Ana Andrea Barbosa Maux desenvolveu vários estudos com temáticas envolvendo a fenomenologia, incluindo estudos sobre adoção e a relação entre masculinidade e infertilidade.

Por último

Você gostaria de deixar nos comentários o nome de alguma autora brasileira, livro ou artigo como indicação? O espaço é todo seu (:

Até mais!

Bárbara de Souza Miranda

Referências:

FORGUIERI, Y.C. Psicologia fenomenológica: Fundamentos, método e pesquisa.

SAPIENZA, B. T. Conversa sobre Terapia.

FEIJOO, A. M. C.; FEIJOO, E. L. Ser criança: Uma compreensão existencial da experiência infantil.

DUTRA, E.; MAUX, A. A. B. Pesquisa em Psicologia Fenomenológico-Existencial: Interpretações do Sofrimento na Contemporaneidade.

Todas as outras referências foram feitas nos links.