A Psicologia por Trás do Fascínio por Filmes de Terror!

As pessoas têm diferentes preferências quando se trata de filmes, e um gênero que desperta interesse e fascínio em muitos é o terror. Embora a apreciação de filmes de terror possa parecer paradoxal, uma explicação psicológica pode nos ajudar a entender por que algumas pessoas gostam de experimentar o medo e o suspense proporcionados por esse gênero cinematográfico.

Uma das teorias psicológicas que aborda esse fenômeno é a teoria da excitação emocional. De acordo com essa teoria, a excitação emocional experimentada durante a exposição ao terror é interpretada como uma resposta positiva, já que o cérebro percebe a sensação de medo como algo excitante e estimulante. Essa excitação pode liberar neurotransmissores como a dopamina, que estão associados à sensação de prazer e recompensa.

Além disso, os filmes de terror permitem às pessoas experimentar uma emoção intensa em um ambiente seguro. Eles proporcionam uma catarse emocional, permitindo que os espectadores liberem suas próprias emoções reprimidas ou experimentem emoções fortes de uma maneira controlada. Isso pode gerar uma sensação de alívio e satisfação, pois as emoções são experimentadas em um contexto fictício.

Outra explicação psicológica está relacionada à necessidade humana de buscar sensações novas e desafiadoras. Os filmes de terror oferecem um ambiente no qual as pessoas podem enfrentar seus medos e testar seus limites emocionais. Essa busca por emoções intensas e novas experiências pode ser uma forma de autotranscendência, permitindo que as pessoas se conectem com algo maior do que elas mesmas.

Um olhar neuropsicológico

Os filmes de terror têm o poder de ativar uma série de mecanismos neurológicos em nosso cérebro. A exposição a cenas assustadoras e ameaçadoras desencadeia uma resposta emocional intensa, que envolve várias regiões e sistemas cerebrais. Alguns dos principais mecanismos neurológicos ativados durante a experiência de assistir a filmes de terror incluem:

  • Sistema de resposta ao medo: O cérebro possui um sistema especializado em detectar e responder a ameaças, conhecido como sistema de resposta ao medo. Esse sistema envolve regiões como a amígdala, que desempenha um papel crucial na avaliação e processamento emocional do medo. Durante os filmes de terror, cenas assustadoras podem estimular a amígdala, desencadeando uma resposta de alerta e preparando o corpo para lidar com uma possível ameaça.
  • Liberação de neurotransmissores: A exposição a estímulos assustadores nos filmes de terror pode levar à liberação de neurotransmissores como a dopamina, norepinefrina e adrenalina. Essas substâncias estão envolvidas na regulação das emoções, aumentando a excitação e a ativação do sistema nervoso central.
  • Ativação do sistema nervoso autônomo: Os filmes de terror também podem ativar o sistema nervoso autônomo, que controla funções corporais automáticas como a frequência cardíaca, respiração e sudorese. Cenas de suspense e terror podem aumentar a frequência cardíaca e a respiração, preparando o corpo para lidar com uma situação de perigo iminente.
  • Ativação do córtex pré-frontal: O córtex pré-frontal, uma região do cérebro associada ao pensamento crítico, tomada de decisão e controle emocional, também é envolvido durante a experiência de assistir a filmes de terror. Essa região pode estar envolvida na avaliação e interpretação das ameaças apresentadas no filme, bem como na regulação das respostas emocionais.
  • Ativação do sistema de recompensa: Apesar de causarem medo e suspense, os filmes de terror podem estimular o sistema de recompensa do cérebro. A sensação de alívio e satisfação após a experiência de medo pode levar à liberação de endorfinas e outros neurotransmissores associados ao prazer, proporcionando uma sensação de recompensa e prazer emocional.

Nossas questões existenciais

Além dessas explicações psicológicas, é importante mencionar que as preferências individuais podem variar de acordo com a personalidade, história de vida e contexto sociocultural de cada pessoa. O gosto por filmes de terror pode ser influenciado por fatores como a exposição prévia a esse gênero, crenças pessoais sobre o medo e a capacidade de lidar com situações de tensão.

O existencialismo pode oferecer uma perspectiva interessante para explicar por que algumas pessoas gostam de filmes de terror. Essa corrente filosófica enfatiza a liberdade individual, a responsabilidade pela própria existência e a busca por significado na vida. Ao explorar a relação entre o existencialismo e o gosto por filmes de terror, podemos identificar algumas explicações possíveis:

Experiência da angústia existencial: O existencialismo reconhece a angústia como uma parte intrínseca da condição humana. Os filmes de terror podem despertar sentimentos de medo e angústia, levando os espectadores a confrontar sua própria mortalidade e fragilidade. Para algumas pessoas, essa experiência pode ser uma forma de confrontar e explorar a natureza intrínseca da existência humana.

Busca por autenticidade: O existencialismo enfatiza a importância da autenticidade e da busca por uma existência verdadeira e genuína. Os filmes de terror podem proporcionar um espaço para os espectadores experimentarem emoções intensas e autênticas, permitindo-lhes confrontar seus medos e desejos ocultos. Essa experiência pode ser vista como uma busca por uma vivência mais autêntica e significativa.

Reflexão sobre a liberdade e responsabilidade: O existencialismo ressalta a importância da liberdade individual e da responsabilidade pela própria vida. Os filmes de terror muitas vezes retratam situações em que os personagens enfrentam escolhas difíceis e desafios extremos. Essas narrativas podem levar os espectadores a refletir sobre suas próprias escolhas e responsabilidades na vida, despertando uma consciência mais aguçada sobre a liberdade e a responsabilidade pessoal.

Exploração dos limites e possibilidades humanas: O existencialismo encoraja a exploração dos limites e das possibilidades da existência humana. Os filmes de terror, ao apresentarem situações extremas e ameaçadoras, oferecem aos espectadores uma oportunidade de explorar o desconhecido, testar seus limites emocionais e confrontar seus medos. Essa experiência pode ser vista como uma busca por uma vivência mais plena e enriquecedora.

Em suma, o interesse por filmes de terror pode ser explicado pela busca por emoções intensas e novas experiências, pela sensação de excitação e estimulação emocional, pela catarse emocional proporcionada e pela possibilidade de enfrentar medos de forma segura. É uma combinação complexa de fatores psicológicos e individuais que contribui para o fascínio que muitas pessoas têm por esse gênero cinematográfico.

Referências:

Sartre, J. P. (2007). O Existencialismo é um humanismo.

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Hoekstra, S. J., Harris, R. J., & Helmick, A. L. (2017). From fear to flow: Personality and information processing in the enjoyment of horror. Journal of Media Psychology, 29(1), 19-26.

Tamborini, R., & Stiff, J. B. (2018). The experience of suspense. Em M. B. Oliver, A. A. Raney e J. Bryant (Eds.), Media effects: Advances in theory and research (4ª ed., p. 281–299). Routledge.

Atenciosamente,

Psi. Patrício Lauro

CRP 18/03237

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