Se a Pandemia trouxe um agravamento dos sintomas e dos quadros de Transtornos Mentais no Brasil, a vacinação poderia, como seu inverso, trazer benefícios?
Confira 3 Benefícios Psicológicos que a Vacinação nos traz.
A vacinação contra a Covid-19 já é uma realidade. Esperamos que seus benefícios também o sejam.
O ano de 2020 foi marcado como o ano da Pandemia de Covid-19. Em 2021, esperamos, teremos o ano das vacinas contra a doença. Pensando nestas, preparei este texto para falar sobre 3 Benefícios Psicológicos das Vacinas e das campanhas de vacinação.
Um benefício psicológico da vacinação é a possibilidade de realizar planejamentos para depois dela.
A possibilidade de fazer planos, programar uma rotina, um roteiro e, portanto, pensar no futuro, foi um direito que a Pandemia tirou da grande maioria das pessoas: o direito de se organizar mentalmente.
Quando temos uma data ou, como é o caso atual, uma programação para finalmente termos datas, se torna possível saber:
Uma data em que se poderá fazer uma viagem de lazer e/ou trabalho;
Imaginar uma data no futuro para visitar parentes, amigos e pessoas importantes com quem temos afeto, das quais precisamos nos afastar;
Estimar, mais ou menos, quando participar ou organizar uma festa importante;
Quando será possível voltar ao trabalho/aulas presencialmente, entre outras coisas.
Certamente isso permite com que não haja apenas um conjunto de incertezas catastróficas em nossa mente, o que não produz uma boa perspectivas de afetos, sentimentos e emoções a respeito de nosso futuro.
2 – Superação: O maior benefício é saber que superamos o pior momento.
Há benefício psicológico melhor do que a sensação de dar um golpe certeiro no Coronavirus?
Ir ao mercado se tornou uma perigosa aventura; agora, o simples ato de tomar cerveja em um barzinho que não estivesse vazio, converte-se numa nova espécie de sexo casual desprotegido entre pessoas desconhecidas; o transporte público torna-se a versão 2020 daquele banheiro de rodoviária, onde o maior desafio é adentrar e não tocar em nada. E o pior de tudo: não há para onde correr por tempo indeterminado.
Três das frases que eu mais escutei no consultóriodurante o ano de 2020 foi: “Eu não aguento mais essa Pandemia“, “Parece que isso nunca vai acabar” e “Parece que nada do que fazemos está adiantando”. Contudo, estas frases trazem um simbolismo importante: não havia um horizonte de SE e nem de QUANDO teríamos algum tipo de respiro. Por isso presença das vacinas nos deixa saber de 3 coisas muito importantes:
Não estamos mais “desarmados“ contra o vírus e a doença;
Todo ou parte do esforço que fizemos, deu resultado;
3 – A Esperança é mais do que um benefício psicológico: é um privilégio que a vacinação nos dará.
Dos 3, o maior benefício psicológico da vacinação é a possibilidade de esperar, de sonhar, e de esperançar por um futuro melhor.
Um dos grandes efeitos psicológicos desta Pandemia foi a drástica diminuição da possibilidade de pensar positivamente a respeito do futuro e da felicidade; a redução exponencial de nossa capacidade de ter esperança em tempos futuros.
Paulo Freire dizia que a palavra esperança nada teria a ver com o verbo “esperar” e sim com “esperançar”. Se a primeira tem como sinônimo o verbo “aguardar”, a segunda certamente amplia este significado quando se aproxima mais do verbo “animar”. Por sua vez, animar vem do latim Anima (alma). Ou seja: animar é “dar alma”, portanto: “dar vida” a algo ou alguém.
Há vacinação! Podemos ficar animados! Mesmo rodeados pela morte, será possível enchermo-nos de vida: ao menos em pensamento!
Com a esperança poderemos:
Planejar: e por isso teremos mais organização em nossa rotina;
Superar: passamos por muita coisa, contudo, sabemos que o pior já passou;
Esperançar: agora é sim, possível dizer que dias melhores virão!
Profissionais de saúde da linha de frente terão prioridade. Mas em breve, psicólogos e outros profissionais da saúde também poderão se vacinar para que, logo mais, suas palavras de cuidado abandonem os efeitos do microfone sobre sua voz.
Esperaremos e esperançaremos com muito gosto este momento, mas não só o nosso e sim o mais importante de todos: a notícia da última pessoa, da última lista, ter sido vacinada com sucesso.
Este texto foi uma adaptação da publicação “3 Benefícios Psicológicos das Vacinas“. Todos os direitos autorais foram preservados e não serão requisitados, pois trata-se de uma edição livre, gratuitamente compartilhada por seu mesmo autor.
Por que você está sonhando tanto e de maneira tão lúcida na quarentena?
Quadro “A Persistência da Memória”, Salvador Dali – 1931
Neste momento de Pandemia, principalmente em quarentena, o trabalho do sonho é mais necessário do que nunca.
Se você ainda não sabe o que é ou como funciona o trabalho do sonho, há dois textos fundamentais para explicar como tal conceito é apresentado por Sigmund Freud em seu mais famoso livro: A Interpretação dos Sonhos.
Nossos desejos inconscientes se tornam cada vez mais próximos de nós mesmos, perante a solidão ou ao cerceamento de nossos movimentos e nossas interações.
Nossos desejos conscientes, de sair de casa, de abraçar ou de visitar pessoas queridas e amadas abrem cada vez mais caminho para aquilo que não pode ser realizado roube a cena na ausência do estado de vigília. Mesmo que através de uma metáfora, de uma cena condensada ou diluída em seu sentido, nossa mente dará um jeito de nos dar uma pequena dose de satisfação de tais desejos.
E é por isso que estamos sonhando tão mais e tão mais intensamente nestes dias de quarentena. Nossas angústias e apreensões são diárias: elevação do número de mortes, pessoas ignorando a quarentena e agindo como vetores inconsequentes, tudo isso nos afeta e só resta a nossa mais privada sala de realizações para amenizar tudo isso.
Até o pior dos pesadelos diz muito sobre nós: nos bota em contato com o impensável, o intocável e o impossível que nos habita, mesmo que não o aceitemos.
Nesses tempos o sonho se faz mais necessário do que nunca, pois a realidade nunca nos bastou tão pouco!
O que nos resta é aproveitar esse boom de sonhos lúcidos (que tão acontecendo bastante, né?) ou não. Seja para enchermos nossos analistas de conteúdo, seja para termos ao menos uma montanha russa de emoções garantida nesses dias tão embotados.
Olá psicólogas e psicólogos, estudantes e leitores de todo o Brasil (e os de fora daqui que também nos acessam). Me chamo Caio. O artigo a seguir surgiu para tentar sanar certo Não Saber de nossa categoria durante este momento tão incerto que vivemos.
O texto inicialmente era destinado à psicólogas e psicologos, contudo, seu conteúdo servirá também a quem ainda se considere pouco informado a respeito do Novo Coronavirus.
Estamos em tempos difíceis. Estabelecimentos fechando, superlotação em mercados, pré-escassez de produtos como álcool gel e papel higiênico; isolamento, fechamento de fronteiras e quarentena em países Desenvolvidos e Em Desenvolvimento. Apesar de todo mundo sentir essa diferença, nem todos estão conseguindo ou até querendo se informar a respeito. E o texto tem meramente este propósito: informar. Me disponho a ler e responder a todos os feedbacks; bem como a considerar a inclusão ou exclusão de partes deste texto a partir destes — na condição de haver o devido fundamento e/ou veracidade à avaliação destes, feita por mim.
O que será falado neste artigo?
Neste artigo tentarei falar sobre os seguintes aspectos:
O que é e o que sabemos sobre o Novo Coronavirus e a doença COVID-19?
Formas de contaminação, contágio e prevenção;
Quantas pessoas estão contaminadas com o Novo Coronavirus ao redor do mundo até o momento?
Quarentena, Isolamento, Fechamento de Fronteiras e Estado de Emergência e Calamidade Pública — Efeitos sociais que Pandemia está causando no Brasil e no Mundo ;
Consequências da Pandemia no trabalho da (o) profissional da psicologia — mudanças, restrições;
Influência da Pandemia em pacientes que possuem ou não psicopatologias/Transtornos Mentais – Implicações, complicações e manejo;
Sugestões, discussões e possíveis soluções para a atuação da Psicologia em meio a este cenário Mundial nunca antes visto em sua história como ciência e profissão.
Após a publicação deste artigo completo, ele também será fragmentado em seus tópicos, linkados acima para facilitar a leitura, uma vez que sua extensão ficou bem maior do que o planejado.
Os Coronavirus são uma grande família de vírus que podem causar doenças em humanos e animais. Nos humanos, muitos tipos de coronavírus são conhecidos por causarem infecções respiratórias, que variam de um simples resfriado comum, até graves doenças como A Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS). O último tipo de coronavírus descoberto tem como causa a doença COVID-19.
A resposta também é trazida pelo mesmo órgão, chefiado pelo Doutor em Saúde Comunitária pela Universidade de Nottingham, no Reino Unido o acadêmico etíope que se tornou referência mundial a partir de suas pesquisas a respeito de epidemias, Tedros Adhanom Ghebreyesus:
“COVID-19 é a doença infecciosa causada pelo coronavirus descoberto mais recentemente (novo coronavirus). Este novo vírus e esta nova doença eram desconhecidos antes do surto começar em Wuhan, China, em dezembro de 2019″.
Ainda de acordo com a OMS, os principais sintomas de COVID-19 são febre, cansaço e tosse seca. Alguns pacientes têm dores, congestão e coriza nasal, garganta seca e até diarréia (OMS, 2020). Apesar disso, algumas pessoas não manifestam sintomas e se sentem muito bem, inclusive. A instituição também ressalta que 80% das pessoas se recuperam da doença sem a necessidade de nenhum tratamento especial e/ou hospitalizado. Contudo, uma em cada seis pessoas com COVID-19 irá desenvolver o sintoma grave da doença que é a falta de ar/dificuldade de respiração.
E quando falamos de pessoas idosas (+60 anos) e super-idosas (+80 anos) os problemas podem ser piores ainda. O mesmo vale para pessoas que têm/estão com baixa imunidade e portadores de doenças crônicas como hipertensão e diabetes (OMS, 2020). O órgão recomenda: pessoas com febre, dificuldade respiratória e tosse, devem procurar atenção médica.
Como o Vírus se Espalha?
A princípio por gotículas de secreções bucais ou nasais. Tosses, espirros; cuspes, escarros e beijos seriam formas diretas de contaminação. Contudo, se alguém tossir, espirrar, cuspir ou escarrar em uma superfície, esta também poderá conter o vírus por um prazo ainda desconhecido, em função da novidade que é a doença para o mundo. Consequentemente, as pessoas que tocarem nestas superfícies e levarem as mãos aos olhos, boca, nariz (ou ainda ao rosto e o próprio suor fizer o restante do caminho), poderão se contaminar (OMS, 2020).
Também será possível que isso seja feito através do compartilhamento de copos, talheres, travesseiros (pois pode haver saliva secretada durante o sono), etc.
A Agência ainda ressalta que:
É mais provável que o vírus seja espalhado por gotículas do que pelo ar em si;
É possível SIM contrair o vírus de quem ainda sequer manifestou (ou irá manifestar) sintomas;
A forma mais eficiente de prevenção é lavar as mãos a partir de todo e qualquer contato tátil com pessoas e objetos utilizados por você e por elas, recomenda-se também a limpeza da superfície destes objetos;
Deve-se manter a distância de 1 a 2 metros de qualquer pessoa que possa ter o vírus (5 metros em caso de espirros);
A qualquer sintoma seu e de pessoas próximas a você FIQUE EM CASA;
Havendo grandes sinais de contaminação na sua região, FIQUE EM CASA.
(OMS, 2020)
Apesar de todas as recomendações a respeito da contaminação, é praticamente impossível conter este tipo de contato nas dimensões ideais, mas sua minimização favorece na redução dos picos de infecção de uma região.
Um dos motivos para a facilidade de transmissão do vírus é o próprio tempo de incubação, período em que mesmo que o paciente não demonstre sintoma algum, já irá iniciar o contágio.
Acredita-se também que uma pessoa é capaz de infectar de duas a quatro pessoas simultaneamente, assim como essas pessoas infectadas também irão conduzir o contágio a mais 2-4 pessoas que, sucessiva e exponencialmente, contaminarão milhares de pessoas em poucos dias.
Como Desinfectar algo que contém o Novo Coronavirus?
Como matar o vírus?
Para que haja a desinfecção de uma superfície que teve contato com o vírus, é necessário que sua capacidade de reprodução e respiração sejam cessadas. E isso acontece quando destruímos sua composição principal.
O que faz isso? Água com sabão!
Mas como algo tão simples e que parou o mundo é morto apenas por água e sabão? Vejamos o que diz o especialista.
Segundo Thomas Pietschmann, virologista molecular e pesquisador no Centro de Pesquisa de Infecção Experimental e Clínica, chamado Twincore, em Hannover, na Alemanha, o Novo Coronavirus se assemelha ao vírus da Hepatite C porque ” é cercado por uma camada lipídica, ou seja, uma camada de gordura”.
Sombra e água fresca
Sabendo a composição do vírus, ja podemos nos indagar sobre qual tipo de ambiente favorece ou desfavorece sua sobrevivência e, consequentemente, sua reprodução.
Portanto “os vírus possuem mais estabilidade em baixas temperaturas. Semelhante aos alimentos que têm maior vida útil na geladeira”, já que a gordura não se dá muito bem o calor. Podemos imaginar a estrutura de algo gorduroso, manteiga por exemplo: permanecerá em sua forma ideal em menores temperaturas.
Provavelmente agora já seja possível imaginar ou, para os mais familiarizados à biologia, entender por que é tão importante lavar as mãos com água e sabão. O sabão, o detergente e shampoo são agentes utilizados para remover a gordura das superfícies. Logo: quando fazemos isso com o vírus, removemos o que o faz sobreviver. O álcool em gel 70% também realiza esta função.
O especialista ainda deixa um alerta em relação à umidade do ar: “Nos dias frios e, em sua maior parte, secos do inverno, as pequenas gotículas flutuam, junto aos vírus, por mais tempo na atmosfera do que nos dias de alta umidade”.. Contudo, ainda somos um dos países onde mais há contato humano direto.e aqui está explicado o porquê é tão dito por aí que este vírus terá mais dificuldade de se espalhar em um país tropical como o nosso
A seguir um vídeo sobre como lavar as mãos corretamente, para se prevenir do Novo Coronavirus de acordo com a própria OMS:
Detalhe: a torneira que é aberta com as mãos “sujas” (supostamente contaminadas) só é fechada pelas mãos limpas com o auxílio de um papel que impede o contato da mão com a torneira, possivelmente para prevenir a reinfecção através da superfície supostamente contaminada pela mão, que antes estava suja.
Você também poderá conferir toda a entrevista que o virologista deu ao site de Notícias DW Brasil Clicando aqui neste link.
Quantas pessoas estão contaminadas com o novo Coronavirus?
Vale ressaltar que, ao que a China conseguiu identificar, num trabalho de investigação de vários médicos, o chamado paciente zero (o primeiro a se infectar do mundo) — de acordo com o processo de rastreamento adotado a partir da investigação de dados fornecidos por mais de 250 pessoas infectadas — tenha iniciado o contágio em 17 de novembro de 2019, na cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, na China. A hipótese é que a transmissão tenha ocorrida após a ingestão de carne animal contaminada com o Novo Coronavirus. Uma das hipóteses é que tenha sido através da carne de morcego.
Mas o ponto principal de nossa atenção está na linha do tempo: do dia 17 de novembro de 2019 ao dia 20 de março de 2020, o vírus contaminou mais de 245 mil pessoas, matando mais de 10 mil, saindo de uma cidade da China para o mundo todo.
Casos Subnotificados
Deve-se levar em consideração que os Governos apenas estão testando os casos mais graves que derem entrada nos hospitais. A parte falha, no que diz respeito a conhecer o número real de casos em um país, é que: nem todos irão manifestar sintomas, assim como a maioria apresentará sintomas leves; contudo, este tipo grave de sintoma que o governo procura ter como alvo dos testes, justamente é aquele que só ocorre após quase duas semanas de infecção — período em que está pessoa irá contaminar outras sem saber que possui o vírus. (Tal modus operandi passou a funcionar no Brasil após o Governo localizar casos de contaminação comunitária, isto é, onde pessoas que não tiveram contato foram diagnosticadas com Covid-19).
Essas políticas de testagem também eram empregadas a princípio na China, mas foram substituídas pela testagem geral, principalmente das regiões em isolamento.
Estes fatores certamente ampliam muito a disseminação do vírus, então a orientação é para limitar tal contágio desenfreado por pessoas que não têm ciência de terem sido infectadas. Por conta disso, perante à percepção do aumento dos casos, Governos de todo o mundo começam a implantar políticas de isolamento, quarentena e até confinamento de suas populações, visando evitar tal transmissão comunitária.
Veja o exemplo do vídeo:
Quarentena, Isolamento, Fechamento de Fronteiras e Estado de Emergência e Calamidade Pública
O que significam os termos Quarentena e Isolamento? Por que estamos falando até em confinamento?
Agentes da Polícia Nacional Espanhola fazendo guarda de uma rua vazia, após ser decretado isolamento parcial na Espanha. A foto é do dia 15 de março em Málaga, Espanha. (via Jon Nazca/Reuters)
Quarentena: determinada mediante ato administrativo formal e devidamente motivado e deverá ser editada por Secretário de Saúde do Estado, do Município, do Distrito Federal ou Ministro de Estado da Saúde ou superiores em cada nível de gestão. Publicada no Diário Oficial e amplamente divulgada pelos meios de comunicação, com duração de até 40 dias, podendo ser prorrogada pelo tempo necessário para reduzir a transmissão comunitária e garantir a manutenção dos serviços de saúde no território.
Tanto a Prefeitura Municipal, como o Governo Estadual de São Paulo, já decretaram suspensão das aulas. A medida também ocorre em outros Estados e Cidades.
E no Mundo?
Militares usam máscaras na Catedral de Milão: ponto turístico foi fechado após surto de coronavírus na região Flavio Lo Scalzo/Reuters
E além dos países que não decretaram quarentena em todo território nacional, há os que decretaram em determinadas regiões, bem como os que decretaram quarentena voluntária.
Em cenários como estes, como as pessoas são orientadas à permanência em casa, é previsto que os comércios comecem a fechar por conta própria, as ruas já se encontrarem vazias e a sensação de quarentena ocorra mesmo sem um decreto oficial.
O colapso se estende à economia, ao abastecimento e à autoestima dos moradores.
E estas são as medidas que também chegarão à Psicologia, uma vez que causarão intensa mudança no estilo de vida, desemprego, mudança nas formas de trabalho; alteração nas relações sociais, na percepção da solidão e em casos de psicopatologias de caráter ansioso e depressivo, por exemplo.
E se o psicólogo ou a psicóloga forem seguir as determinações dos órgãos governamentais e da OMS, como poderá atender seus pacientes? Se devem ser evitados os deslocamentos, como os pacientes chegarão até o consultório? E todos deitarão no mesmo divã ou sentarão na mesma poltrona — onde outros que poderiam ter se contaminado sem saber já teriam deitado?
Numa profissão onde o tato tem seu lugar imprescindível, as restrições de contato podem contaminar nossa prática?
Consequências da Pandemia no trabalho da (o) Profissional da Psicologia — mudanças, restrições
A(O) profissional deverá observar recomendações do Ministério da Saúde, OMS, Secretarias de Saúde e autoridades civis sobre eventuais possibilidades de quarentena, resguardo, isolamento. Para fins laborais, deverá seguir a legislação vigente referente a atestado de afastamento;
Recomenda-se a prestação de serviços em locais ventilados, não fechados, que permitam manter distância de um a dois metros entre pessoas, se possível. Pois, até aquele momento, não houve orientação das autoridades para suspensão de atividades;
Caso a(o) profissional opte pela prestação de serviços psicológicos realizados por meios de tecnologia da informação e da comunicação, como o atendimento on-line, deverá seguir as orientações da Resolução CFP nº 11/2018, em especial a necessidade de realização de um cadastro prévio junto ao seu Conselho Regional de Psicologia (CRP); (CFP, 2020)
Houve também a suspensão dos eventos com maior número de atividades no Conselho.
Contudo, dois dias depois, publicou um este comunicado sobre atendimento online, dizendo que apesar de ainda ser necessária a realização de um cadastro no portal E-Psi, durante os meses de Março e Abril, não será necessário aguardar a confirmação para realizar tais atendimentos (regra imprescindível antes da Pandemia de Covid-19).
Caso você seja psicóloga (o) e deseja saber como se cadastrar para realizar atendimento online, há um tutorial gratuito, que publiquei em um texto deste blog ensinando o passo-a-passo e com dúvidas comentadas sobre o tema. Clique neste link e disponha.
Há aderência da categoria?
É muito cedo para que tenhamos dados concretos e publicados em algum local oficial. Mas no contato que tenho tido com colegas de profissão, amigos que fazem análise, supervisão ou psicoterapia e até mesmo em meus próprios atendimentos, o atendimento online/virtual/remoto tem sido um opção bastante oferecida, considerada e utilizada. Mas ainda há sessões presenciais sendo realizadas.
E o que muda?
Isso irá depender de muita coisa, inclusive das linhas teóricas. Mas apesar de ser muito difícil de determinar, em função do pouco tempo em que isso é adotado mesmo antes da quarentena, as diferenças aparecem de maneira positiva e negativa; de maneira sutil ou moderada.
Indaga-se se poderia haver um aumento da Resistência ao Tratamento, uma redução da eficácia dos atos analíticos, mas estas são Outras discussões. Em tempos onde as opções são: a) realizar o atendimento remoto; b) interromper o tratamento; ou c) correr o risco de agravar ainda mais a pandemia desconsiderando medidas de quarentena, édevemos nos adaptar à realidade e ao que ela nos permite. Contudo, listei algumas dificuldades até agora observadas:
Problemas de conexão que podem causar delay (atraso) no áudio/vídeo, assim como problemas técnicos com microfone e/ou fones de ouvido;
Problemas de privacidade, onde o paciente encontra dificuldade em encontrar um local tranquilo, silencioso e que lhe garanta a possibilidade de falar o que quer e/ou precisa. Neste cenário, alguns optam por realizarem a sessão por dispositivos móveis de seus quartos, escritórios, banhos e até dentro de seus carros;
Dificuldade de manter o silêncio das sessões, podendo ele eventualmente ser confundido com problemas de conexão;
Outrossim, pude perceber, com base na minha experiência, de pessoas que passam por tratamento desta forma e também de alguns colegas: que o processo têm funcionado. Dados estes que passam milhas astronômicas de distância de serem científicos ou bem fundamentos em alguma pesquisa, uma vez que estamos falando de algo inédito.
E também há algumas vantagens percebidas, como por exemplo:
Possibilidade de maior desinibição de alguns pacientes, pois agora pode haver a sensação de não estar falando diretamente algo a alguém, algo semelhante àquela confiança que muitas pessoas demonstram de maneira mais elevada na internet, cabendo aos terapeutas e analistas a devida atenção à fala e ao conteúdo. Algo longe de ser o caso de casos e também longe de não ser o caso de ninguém;
Maior flexibilidade de horários e, em alguns casos até de valores, de forma que fique mais confortável para ambas as partes, pois cada um está em sua residência.
Contudo, o assunto do Novo Coronavirus e os impactos que ele tem na vida das pessoas, naturalmente, se tornou recorrente no consultório. A vida das pessoas mudou e irá mudar. O futuro é um lugar mais incerto do que já era em nossos tempos ditos normais. O que se pôde perceber no consultório em função da Pandemia?
Influência da Pandemia em pacientes que possuem ou não psicopatologias/Transtornos Mentais – Implicações, complicações e manejo;
Como a nossa Psiquê pode perceber a quarentena e o isolamento?
A Itália está com suas ruas vazias. A Espanha tem locais que parecem inabitados. Alguns cidadãos Europeus estão assemelhando os carros da polícia, do exército e a cidade vazia a um cenário de Guerra. E podemos nós dizer que estão errados?
Um membro da Brigada Paraquedista do Exército Espanhol patrulha a icônica Puerta del Sol, praça no centro de Madrid, na Espanha, em 17 de Março de 2020.
Não importa quem você seja, você está sujeito a ser contaminado. Não é uma frase tão simples de se dizer ou ouvir. Muito menos quando o preço para não ser contaminado e não contaminar ninguém é a tal da liberdade. E até aquele tal do afeto, que é expressado por abraços, beijos e apertos de mão.
Algumas pessoas podem até não acreditar na veracidade ou da gravidade desta Pandemia. Outras até o fazem, mas se recusam a levar a sério as medidas de precaução, como se suas pessoas já estivessem imunes ou ainda que seja improvável a sua contaminação.
Após recomendação de quarentena de seu Ministro da Saúde, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, vai à frente do Palácio do Planalto cumprimentar e tirar foto com manifestantes. em protesto de apoio ao Presidente e repúdio aos Outros Poderes, no dia 15/03/2020. As manifestações ocorram por todo o país, mesmo após a recorrente solicitação de não aglomeração.
Agora iremos nos deparar com nós mesmos. Mais ainda: com a fragilidade de nosso corpo, com a morte da imagem Imaginária de uma pessoa que não poderia ser nada senão sadia, potente e invulnerável, como se fosse recebesse eternamente o afeto de suas figuras de proteção.
Qual será a plateia para nossas demonstrações de potência? Seja financeira, seja de influência sobre os outros. Em alguns casos sobrará a virtual, em outros não. De onde virá nosso apoio durante este período de solidão e reclusão? E se estivermos sendo descartados do convívio social em função de nossa vulnerabilidade? Como lidar com isso?
Tudo isso poderá ser causador de grande aprendizado e fortalecimento; mas também causador de certa angústia, de certa ansiedade – e o que seria a ansiedade senão também o pensamento nas mil possibilidades de um futuro incerto, mas certamente danoso? Mas que outra chance teríamos de conhecer a nós e a aos pares, trios, grupos e aglomerações afetivas que ficarão conosco durante este isolamento?
É sem dúvida um momento de intensa reflexão: voluntária ou não, mas como fica este cenário em pacientes que já lutavam com alguns aspectos deste dia-a-dia, mas de forma nada deliberada e socialmente estimulada?É triste.
Tomando como exemplo o TOC, colocarei em paralelo sintomas e necessidades nos tempos de urgência.
Caracterizado por obsessões — pensamentos ou imagens mentais de natureza recorrente, invasiva, incessante, ordenada e indesejada, que promovem severo desconforto. Nestas, em geral, há regras sobre o que pensar, organizar mentalmente ou imaginar para que haja cessão deste desconforto. E também por compulsões, onde é exigido do sujeito, por si mesmo, a realização de atos, dizeres, movimentos e até a organização do cenário externo para que haja equilíbrio internamente. Estes se tornam uma espécie de ritual, não raro fazendo parte da rotina de indivíduos durantes anos, mas que também podem ter aparição ou intensificação durante períodos específicos de sua vida. Em geral, os atos compulsivos tendem a se alinhar aos pensamentos obsessivos e/ou até serem necessários para sua cessão.
O tipo de ritual e/ou pensamento tende a variar de acordo com cada sujeito. Havendo até tipos de pensamentos e ações de múltipla ordem, em geral associados a muita ansiedade. Mas há duas formas de manifestação do transtorno que escolhi destacar: os relacionados à higienização do corpo e dos objetos/ambientes.
Rituais de Higienização Compulsiva
Para ilustrar melhor um dos casos, trouxe o vídeo a seguir, onde uma pessoa lava as mãos de maneira compulsiva dentro de uma escola:
Contudo, ao assistir este vídeo, além de me compadecer ao sofrimento de quem passa por isso, também me veio à mente algo muito incômodo: esta pessoa seguiu exatamente as recomendações da OMS sobre uma das formas de não contrair o Novo Coronavirus. Inclusive, o próprio vídeo demonstrativo do órgão pode trazer algumas semelhanças com o vídeo acima, confira novamente:
Claro que em alguns casos de TOC desta natureza o ritual chega até a tomar horas do dia do sujeito, sendo repetido até bem mais do que as 5 vezes que a OMS nos recomenda realizar tais ações.
E também não podemos esquecer da compulsão por limpeza de superfícies e ambientes:
pessoas que podem lavar a louça duas vezes;
higienizar maçanetas várias vezes ao dia;
limpar o chão, os móveis e os objetos da casa repetidas vezes e em determinadíssimos horários, entre outros.
Mas o nosso ponto é que:
Pensamentos em relação à incerteza, culpa, (pela?) a contaminação, a sujeira e a iminência de morte ou doença, podem estar associados a rituais deste tipo de TOC também. E estes não poderiam se agravar em meio a uma pandemia? Seus atos compulsivos agora podem ter, além de múltiplas e misteriosas motivações internas, uma nova e alarmante motivação externa? Sem dúvida, e este pode ser o problema;
Pensamentos obsessivos e atos compulsivos podem aparecer e se intensificar relação à associação de uma linha direta entre a contaminação e morte de terceiros, mais ainda quando estes são pais, mães, avós e pessoas de altíssima estima ao sujeito, que fazem parte dos Grupos de Risco, os mais propensos a complicações severas e até à morte com a COVID-19.
Me pergunto se também falamos de pessoas que já podem ter sentido sentimentos dúbios a respeito da vida ou morte dessas pessoas, como toda pessoa pode ter tido em alguns momentos da vida.
A culpa — mesmo que apenas em pensamento — de contaminar alguém nessas condições, principalmente por descuido — por sujeira, por falta de higienização e atenção — , é algo que deveras alguém não gostaria de carregar. Muito menos se já houve pensamentos desta ordem em algum momento, mesmo que distante, de sua vida. E geralmente nestes momentos se intensificam os rituais e o sofrimento destes pacientes.
Agora que há uma justificativa elevadamente plausível (mesmo que em níveis e intensidades diferentes) para alguns destes atos dos sujeitos, o acompanhamento destes casos será crucial para que os sujeitos consigam diferenciar seus sintomas de seus cuidados.
Transtornos de Ansiedade Generalizada, Social e Pânico; Fobias, Estresse Pós-Traumático; Depressão e Compulsão por Compras (Oniomania)
Os pensamentos a respeito de um futuro incerto, o medo irracional de objetos e situações e, pasme, aglomerações; o temor em sair de casa e a falta de prazer e vontade em relação às atividades disponíveis durante o isolamento; a compra compulsiva por itens como alimentos, álcool gel e até papel higiênico, e até armas! O conhecido panic buying. Sem contar na ansiedade que é experimentada durante todo contato social, evitando-o ao máximo.
Observando tais comportamentos da maioria da população em suas casas, estabelecimentos, cidades e até países, poderíamos até experimentar um sentimento parecido com aquele de Simão Bacamarte em Itaguaí. Mas definitivamente não podemos apressar nossos julgamentos, conforme fez, erroneamente, o médico português da obra de Machado.
Pessoa idosa se deparando com escassez de produtos de higiene pessoal,
Se em dias normais estaríamos falando de claramente de sintomas de alguns Transtornos Mentais como Depressão, Transtorno do Pânico, Agorafobia, Compra Compulsiva e TOC, nos dias de hoje, comportamentos incomuns como os que foram descritos, podem se tratar de necessidades reais. Mas nem sempre, precisamos de muita atenção neste momento:
Um paciente que sofre de hipocondria (condição caracterizada pelo medo desproporcional de ficar doente e/ou a constante confusão de condições normais a sintomas de doenças graves e/ou recorrentes) poderá experienciar ou acreditar estar vivenciando sintomas da Covid-19 em função de seu estado mental. Assim como um paciente que sofre de algum transtorno de ansiedade poderá experimentar falta de ar durante uma crise de ansiedade e confundí-la com um sintoma da doença causada pelo Novo Coronavirus. Daqui poderia acontecer, por exemplo, uma ida desnecessária aos hospitais que poderá: tirar as escassas vagas de quem precisa e até gerar uma exposição desnecessária que resulte num contágio real.
A sutileza da diferença entre o que pertence ao interno e ao externo nunca foi de tamanha importância. E aí é que entrará a importância do trabalho dos profissionais da saúde mental — mesmo que online!
Nosso trabalho envolverá pacientes da doença ou não, acometidos por esta onda esmagadora de tensão que vive o mundo. Equipes médicas sobrecarregadas, familiares em luto e até pacientes que entrem em Cuidados Paliativos necessitarão de profissionais da Saúde Mental como nunca antes visto.
Nosso papel será, além de atenuar o agravamento dos sintomas daqueles que já sofrem destas condições e tentar minimizar o impacto psicológico que estes tempos poderão trazer.
Mas o faremos com calma.
Sugestões, discussões e possíveis soluções para a atuação da Psicologia em meio a este cenário Mundial nunca antes visto em sua história como ciência e profissão
Christian Ingo Lenz Dunker é psicanalista, professor titular do Instituto de Psicologia da USP e ganhador do Prêmio Jabuti. Foto: O Estado de Sâo Paulo
Os profissionais da psicologia também são treinados para a atuação em situações de emergência e desastres. Esta é, inclusive, uma linha de atuação da profissão. Contudo, e quando eles mesmos estão em quarentena? Quando mesmo não sendo desta especialidade, precisarão agir de forma minimamente semelhante com seus pacientes e clientes que também são afetados por tal condição?
“Se você está exagerando na compulsão por notícias ou no estoque de álcool gel, verifique se não está tentando pular o trabalho de “se acalmar”. Ler, meditar, conversar livremente, escrever são práticas que ajudam para isso”.
(Dunker, C. Entrevista ao Estado de Sâo Paulo. 2020)
Em entrevista ao Estadão, Christian Dunker, psicanalista, professor titular do Instituto de Psicologia da USP, e autor de diversas obras, sendo uma delas ganhadora do Prêmio Jabuti. Quando perguntado sobre os efeitos de isolamentos/confinamentos ao redor do mundo, nos faz olhar para a semântica cultural da palavra, que poderia ser muito significante à forma com que fomos apresentados ao que fazia ilusão, em outros momentos, às situações de hoje: “o confinamento é uma experiência psíquica desafiante, pois aprendemos desde cedo que ele é uma forma de punição: ‘vá pensar no seu quarto’ ou pior ‘vá para a prisão'”.
O autor classifica o isolamento como experiência “potencialmente ansiogênica [que cria ansiedade]”, e que “Notícias, informações e cuidados podem nos acalmar desde fora, mas a angústia que a solidão causa, exige que nos pacifiquemos desde dentro..”. A orientação do Ganhador do Prêmio Jabuti é que:
“Se você está exagerando na compulsão por notícias ou no estoque de álcool gel, verifique se não está tentando pular o trabalho de “se acalmar”. Ler, meditar, conversar livremente, escrever são práticas que ajudam para isso”.
(Dunker, C. Entrevista ao Estado de Sâo Paulo. 2020)
O psicanalista nos alerta que este cenário também pode estimular nosso egoísmo, sensibilidade e até negação da realidade severa e preocupante que nos ronda. Para o pós-doutor pela Manchester Metropolitan University, estas situações podem nos remeter a algo semelhante ao desemparo, ao abandono e à desproteção.
O psicólogo ilustra o que o caos de uma pandemia pode mobilizar em nossa psiquê: tanto uma narrativa desesperada, buscando apontar que haja, por parte da humanidade, alguma forma de controle a respeito da situação de exceção, como quais sentimentos poderiam aparecer sem a presença de tais narrativas:
“Podemos simplesmente negar a situação, colocando a cabeça dentro da terra, podemos inventar conspirações delirantes de modo a nos garantirmos que no fundo há “um sentido maior nisso”. Podemos nos sentir desamparados, abandonados, como se nossos protetores tivessem tirado férias”.
(Dunker, C. Entrevista ao Estado de Sâo Paulo. 2020)
Fica a pergunta:
Se a presença do vírus e, consequentemente, a ausência da imagem que tentávamos manter perante o mundo persistir, será que o Novo Coronavirus poderá ser um antídoto para o Mal Estar que nossa Civilização estaria vivendo em função do Poder? Pois como algo microscópico poderia ter tanta facilidade em derrubar Grandes Nações e, ao mesmo tempo, nos causar tanta dificuldade perante a Grandeza (ou mania de) de alguns?Esperemos que o psicanalista esteja certo a respeito do aprendizado que este momento poderá nos prover em meio a tanto desprovimento. Pois, ao que parece, sua visão também contém certo otimismo:
“Penso que será uma dose cavalar de vitamina h que está faltando ao Brasil, ou seja menos potência de controle, arrogância e grandiosidade e mais humildade diante da vida e dos pequenos microorganismos que podem nos derrubar”.
(Dunker, C. Entrevista ao Estado de Sâo Paulo. 2020)
Leia a entrevista diretamente no site do Estado de São Paulo clicando aqui.
Há males que vem para o Bem? Parece ser exatamente o tipo de discurso que seria criticado por outra e não menos importante referência na área.
“A cada doença são atribuídos significados diferentes, mas o pano de fundo é quase sempre um ódio pela vida urbana como lugar mefítico, perigoso, onde o mal prolifera”.
(Calligaris, C. Folha de São Paulo, 11/03/2020)
Já o também psicanalista italiano radicado no Brasil, deixa sua impressão. Contardo Calligaris, que já realizou um doutorado em Semiologia com Roland Barthes e também participava das conferências do famoso psicanalista francês Jacques Lacan, dedicou sua Coluna Semanal à Folha de São Paulo às falas sobre o Novo Coronavius. Numa delas do dia 11/03, avaliou o “Coronavirus como Metáfora“, num genial comparativo da Covid-19 com outras chagas de nossa história.
Colocando tais doenças como metáforas (sintomas?) aos acontecimentos de uma determinada cultura, podendo estas serem utilizadas, em discursos oportunistas como formas de castigo aos comportamentos humanos, que alguns grupos radicais querem excluir, usando como exemplo os que era dito durante a epidemia de AIDS nos anos 80:
“A cada doença são atribuídos significados diferentes, mas o pano de fundo é quase sempre um ódio pela vida urbana como lugar mefítico, perigoso, onde o mal prolifera”.
(Calligaris, C. Folha de São Paulo, 11/03/2020)
Mas também chamou atenção à doença atual que, por coincidência ou não, poderia até servir de metáfora, de narrativa, para comportamentos e pensamentos inerentes deste determinado período civilizatório:
“Considere a Europa se fechando diante dos refugiados africanos e asiáticos, e os Estados Unidos, diante dos refugiados das Américas. Considere a Inglaterra do brexit. Considere a volta de patriotismos abstratos mundo afora. Considere a estranha vontade de construir muros. Paira no ar uma nostalgia do lar, um suposto “amor” da “nossa terra”, que é sobretudo medo do novo e do estrangeiro”.
(Calligaris, C. Folha de São Paulo, 11/03/2020)
E o produtor da serie Ps! (Psi) da HBO ressalta que: “A epidemia de coronavírus será, por um tempo, metáfora da resistência à ampliação do mundo. Mas não é o caso de se preocupar. A epidemia não vai ganhar, não como metáfora”.
É possível ler sua coluna completa clicando neste link.
“[…] é a primeira pandemia em época de televisão e de streaming e, sobretudo, a primeira em que dispomos da possibilidade ilimitada de nos relacionar com amigos, parentes e amantes. Podemos estar isolados mas nunca sozinhos”.
(Calligaris, C. Folha de São Paulo, 18/03/2020)
Uma semana depois, num considerável aumento da doença pelo mundo, suas cirúrgicas impressões se atualizam um pouco mais — fazendo um deslocamento importante de nossos olhares para o frequente estágio de negação das pessoas perante à doença, ao invés das urgências em realizar estoques de produtos como alimentos e itens de higiene, frequentemente colocado em foco.
Para citar exemplos de tais fenômenos o psicanalista cita que: “um bispo declara que o vírus é simpático e irrelevante, enquanto o medo do vírus é coisa de Satanás”; e também a aparente despreocupação do Presidente da República Federativa do Brasil, Jair Bolsonaro, frente à Pandemia:
“Outro exemplo de negação nos foi oferecido pelo presidente do Brasil, que se comportou como um garotão, o que o tornaria até simpático, se ele não fosse presidente. O que significa se comportar como um garotão? Significa uma insegurança radical, pela qual nada é tão importante quanto receber um aplauso.
Bolsonaro pode certamente entender os argumentos de seu próprio ministro da Saúde, mas é incapaz de resistir ao charme de um breve momento em que será admirado por um punhado de seguidores”.
(Calligaris, C. Folha de São Paulo, 18/03/2020)
Para o escritor ítalo-brasileiro, ao caminhar portando a bandeira que antes estava na mão de um de seus apoiadores à porta do Palácio do Planalto, o Presidente demonstrou um “exemplo perfeito de patriotismo abstrato”, pois […]um transtorno narcisista (banal nos adolescentes, mas nem tanto num idoso) prevaleceu sobre qualquer cuidado (este, concreto) com a população brasileira”, um entusiasmo que o presidente acreditava causar em seus apoiadores enquanto tentava demonstrar felicidade e patriotismo, seus atos colocavam em perigo seus “compatriotas”.
Presidente Jair Bolsonaro segurando uma Bandeira do Brasil, pega das mãos de manifestantes no Palácio do Planalto, mesmo contrariando as recomendações de seu Ministro da Saúde
Mas nem tudo é ruim na visão do Doutor em Psicologia Clínica pela Universidade de Provença, na França. Ele também acaba elogiando o canto que revelava o “sentimento de um destino compartilhado” daqueles confinados na quarentena que ocorre em sua Terra Natal, o que considera, de fato, patriotismo.
O psicanalista, que também diz na Coluna que está atendendo seus pacientes de maneira remota (online), ressaltou o lado bom que pode haver neste momento de nossa história:
“[…] é a primeira pandemia em época de televisão e de streaming e, sobretudo, a primeira em que dispomos da possibilidade ilimitada de nos relacionar com amigos, parentes e amantes. Podemos estar isolados mas nunca sozinhos”.
“O momento não é de heroísmo onipotente, mas também não de um niilismo catastrófico”.
(Bernardo Tanis, Presidente da SBPSP, 2020)
O Presidente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP), Bernardo Tanis, publicou no blog da Instituição uma carta de recomendação aos psicanalistas do Instituto. Conhecido por sua tradição, o local que foi pioneiro e é referência em oferecer, oficialmente, uma formação em psicanálise no Brasil, foi responsável pela formação em de muitos profissionais no Brasil. Entre eles, muitos psicólogos, médicos e psiquiatras.
Dentre estas orientações uma se destaca: “estarmos disponíveis para nossos analisandos, seja de modo presencial quando possível ou pelas ferramentas remotas ao nosso alcance”. Conforme já sabemos, o analista deve mostrar seu desejo: que o analisando se analise! E hoje os meios tecnológicos permitem mais flexibilidade em tempos como este.
Tivemos casos de negação da condição e dimensão reais do vírus, um dado que, mesmo denso, merece receber nosso olhar com atenção nos casos recentes.
Em ligeiro tom de advertência, Bernardo nos lembra a importância de não ficarmos próximos a nada que for extremo:
“O momento não é de heroísmo onipotente, mas também não de um niilismo catastrófico”.
(Bernardo Tanis, Presidente da SBPSP, 2020)
Mesmo considerando as medidas adotadas pelos Governos mundo afora como “importantes” e “necessárias”, o psicanalista que também é Doutor em Psicologia Clínica pela PUC-SP, deixou um importante recado sobre o momento em que vivemos:
“Como psicanalistas sabemos que a incerteza, o medo e a insegurança têm ressonância com angústias primárias e o nosso desamparo constitutivo e demandam também outras modalidades de contenção. O melhor e o pior da humanidade emergem nestas horas”.
(Bernardo Tanis, Presidente da SBPSP, 2020)
Considerações Finais
Apesar de minhas impressões vazarem ao longo da escrita, a intenção deste artigo não era bem revelá-las, mas aproveitando o inevitável, me vem à cabeça o duro golpe dado pelo vírus em nosso Saber,
Ele danifica nossos pulmões muito menos do que o faz em relação à nossa Imagem de que tudo estaria sob controle. Os Lugares que passaremos a ocupar nesta sociedade que foi contaminada pelo nosso temido e angustiante Não Saber, se tornaram plenamente incertos. O tempo que ficaremos sob o confinamento de todas as nossas certezas é, decerto, muito menos certo do que a única coisa que será Real a respeito de tudo isso: o nosso Não-Saber.
A partir da Pandemia de um vírus invisível, sofreremos daquilo que nos será indizível, inominado e inaudível a tudo que construímos como civilização até hoje, da frase que assola da criança ao Presidente; do terraplanista ao cientista; do religioso ao cirurgião: ainda não somos bons o suficiente.
Mas meus colegas sabem bem que daremos nosso jeito. A dor e a perda farão parte do processo, bem como fizeram de nossa Constituição como Sujeitos; a falta de liberdade nos fará lembrar dos dias de chuva que vivíamos lá atras, mas sem previsão de Sol tão cedo. Contudo, seja pela culpa, pela alegria ou por alguma bondade resista em meio à tantas histórias: sejamos solidários, sejamos lúcidos e pacientes. Mas não sejamos neutros — e que não nos falte ar para gritar, mesmo que pela internet — que resistimos. E será um prazer resistir, dividir e existir, pois, nas últimas aspas deste artigo:
“Diante da vastidão do tempo e da imensidão do universo, é um imenso prazer para mim dividir um planeta e uma época com você.”
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014
Organização Mundial da Saúde. CID–10 Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10a rev. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1997.
“Parece que todo mundo resolveu fazer psicologia!”
Recentemente ouvi a frase acima no metrô e me peguei refletindo sobre. Mais curioso do que o sentimento popular expressado através da frase, é o dado de que psicologia se tornou o segundo curso mais concorrido na Fuvest de 2016, ultrapassando cursos como Medicina (São Paulo) e Direito. A área também cresceu em número de inscritos de 3 para 4 mil entre 2012 e 2016 na Unesp.
Naturalmente, há um crescente interesse das gerações Y e Z em um curso praticamente ignorado por uma considerável parte das gerações anteriores. Se isso se deve aos mais altos índices de ansiedade e depressão que a Organização Mundial da Saúde já detectou é Outra discussão, pois devemos ser cautelosos em apontar os motivos. Até porque a própria fundação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) se deu em 20 de dezembro de 1973, o que mostra que nossa cultura ainda está se adaptando à profissão. Inclusive a instalação dos sete primeiros Conselhos Regionais de Psicologia (CRP’s) só se deu em 27 de agosto de 1974, exatos 12 anos após a homologação da a Lei 4.119 que, no mesmo 27 de agosto de 1962, regulamenta oficialmente a psicologia como uma profissão no Brasil. Neste dia, por sinal, é também comemorado anualmente o Dia do Psicólogo.
As Pesquisas
Em 1988 o Conselho Federal de Psicologia lança o livro: “Quem é o Psicólogo Brasileiro?” (clique aqui para ler o arquivo em .PDF) contando com o comparativo da profissão com outras categorias de nível superior.
Também houve, em 2016, uma parceria entre o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para elaboração do relatório: “Levantamento de informações sobre a inserção dos psicólogos no mercado de trabalho brasileiro” (disponível em .PDF para leitura através deste link), que utilizou, inclusive, dados próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para mapear como está o psicólogo nos dias de hoje.
Este artigo visa escolher uma área específica das pesquisas acima: quanto ganhava e quanto ganha um psicólogo? Será que vale a pena ser psicólogo no Brasil? Afinal: será mesmo necessário ter algo “para se manter” antes de cursar psicologia? De bônus haverá alguns dados sobre os perfis traçados a respeito da “cara” das (os) psicólogas (os) no Brasil. Além dos dados da pesquisa, algumas informações poderão advir da própria experiência individual de quem vive exclusivamente da profissão.
“Psicologia não dá dinheiro!”
Se você é ou pretende ser psicólogo ou estudante de psicologia, provavelmente já ouviu essa frase em algum lugar. Mas será que é verdade? De onde será que ela surgiu?
Talvez ela tivesse uma certa base estabelecida lá em 1988, um ano em que provavelmente os pais e/ou avós dos que hoje são ou pretendem ser estudantes de psicologia, teriam idade semelhante a estes. Naquela época havia um dado preocupante a respeito da profissão. Por exemplo:
Dos 102.862 psicólogos graduados pelo MEC em 1985, apenas 53.338 estavam inscritos nos Conselhos Regionais de Psicologia. O que poderia indicar uma dificuldade ou desinteresse em atuar profissionalmente na área — coisa só permitida a quem estiver devidamente inscrito nos Conselhos.
(Conselho Federal de Psicologia, 1988)
Foi aí que uma informação importante se mostrou na pesquisa:
35.4% dos entrevistados diziam buscar a psicologia com um interesse mais genérico, como área do conhecimento, para autoconhecimento ou para ajudar as pessoas.
Fora que:
Menos de 60% dos profissionais atuavam exclusivamente na profissão. Ou seja: mais da metade ainda precisava conciliar a psicologia com outro emprego.
25,6% dos psicólogos em São Paulo e 18,6% no Rio de Janeiro um estavam desempregados ou trabalhando fora da área da psicologia.
22.3% dos profissionais não obtinham rendimento na psicologia (26.5% destes em São Paulo, 22.9% no RJ e 25% em PE)
(Conselho Federal de Psicologia, 1988)
Então talvez agora seja mais fácil entendermos de onde vem a fala de que “Psicologia não dá dinheiro”. Ela tem certo fundamento em suas raízes, já que se trata de uma profissão relativamente nova e parecia haver uma dificuldade de inserção no mercado.
Mas será que quem já estava na área ganhava o suficiente?
Quanto ganhava um Psicólogo?
Obteve-se um dado um pouco mais genérico a média salarial (excluindo o grupo que não tem rendimento). O rendimento mensal médio de psicólogos era de 10.21 salários mínimos, sendo maior São Paulo (13.2), Brasília (10.84) e Bahia (10.45).
No nordeste (7.04) e no Paraná (7.35) encontramos as remunerações mais baixas da classe. Considerando os níveis salariais de outras categorias de profissionais com nível superior, viu-se que à época o salário médio da psicologia se equiparava ao inicial de profissões mais tradicionais (como por exemplo, Engenharia, Direito, Administração etc).
Mas falávamos de um momento onde muito menos gente tinha acesso ao Ensino Superior, onde este tipo de qualificação ainda garantia um alto nível de destaque no mercado de trabalho.
Alguns dados da pesquisa sobre como era o mercado de trabalho à época:
43,4% dos psicólogos atuavam na área clínica
18,8% atuavam na área organizacional
14,3% na área escolar
11,5% na docência
E 73% dos profissionais entrevistados se dedicavam, exclusivamente, a uma área (39,3% na área clínica).
(Conselho Federal de Psicologia, 1988)
E o que mudou? Quem são os (as) Psicólogos hoje e quanto eles (as) ganham?
Sei que já falei bastante. Mas antes de prosseguirmos aos valores explícitos dos ganhos, precisamos de alguns dados para sabermos quem de fato são os (ou seriam “as”?) psicólogos (as) do Brasil atualmente.
Hoje o CFP contabiliza aproximadamente 360.000 profissionais no Brasil, sendo 146 mil devidamente empregados, destes:
90% são mulheres (destas: 94% dos profissionais com carteira assinada, 90% dos que são autônomos e 86,9% dos empregadores);
83,5% não negras;
16,5% negras
53,2% vive com um (a) cônjuge ou companheiro (a);
26,1% não vive nem nunca viveu;
20,7% não vive, mas já viveu antes.
Sabendo de alguns destes dados, fica mais fácil visualizar um dado da pesquisa que apontou que: o Rendimento Médio ficou em R$ 10.795 mensais. Algo em torno de 10 salários mínimos.
(Dieese e CFP, 2016)
Ainda é preciso conciliar a psicologia com outra profissão?
Em minha opinião: talvez não seja mais necessário. Um dado interessante é que 83,6% (aproximadamente 123 mil profissionais) têm apenas um trabalho, enquanto 13,9% (aproximadamente 20 mil) têm um trabalho adicional, ou seja: tem uma outra profissão que não seja a partir da psicologia.
E talvez isso mostre que houve algum crescimento no mercado de trabalho da área. Principalmente no Setor Público, já que 18% dos profissionais da área hoje trabalham na Administração Pública, o que era praticamente inexistente àquela época. Ou seja: podemos imaginar que há um maior reconhecimento da profissão pelo próprio Estado, que cada vez mais foi abrindo vagas na área para Concursos Públicos.
E não podemos esquecer que dos outros 74,8% que atuam nas áreas da educação, saúde e serviços sociais, deve também haver um número considerável de funcionários públicos. (Dieese e CFP, 2016)
Tá, Caio, mas quanto ganha um (a) Psicólogo (a)?!
Ok, chegou a hora do veredito. De acordo com a pesquisa:
Na média, os psicólogos no Brasil recebem, mensalmente, R$ 3.412. Sendo a região Sul (R$ 3.774) a melhor remunerada, seguida do Sudeste (R$ 3.497); enquanto o Nordeste (R$ 2.487) fica lá atrás.
(Dieese e CFP, 2016).
Os psicólogos que trabalham “por conta própria”, ganham, em média R$ 3.772 mensais, enquanto os funcionários públicos levam o segundo lugar com R$ 3.246 mensalmente. Os profissionais com carteira assinada (R$ 3.214) e sem carteira assinada (R$ 2.452) ficam mais atrás. (Dieese e CFP, 2016).
De acordo com o site glassdoor.com.br (antigo Love Mondays), o salário médio de um psicólogo em São Paulo é de R$3.570, mas esta análise foi feita apenas com o envio de 203 salários ao portal (link aqui). Se for autônomo, trabalhando sozinho, ganha em média R$ 4.473mensais.
Já para o site salario.com.br (com informações do Ministério do Trabalho), em São Paulo-SP um psicólogo clínico ganharia em média R$ 3.990,30 por mês. No Rio de Janeiro-RJ, em média R$ 3.057,19. Sendo o profissional recém-formado o que menos receberia nos grandes centros: a partir de R$ 2.705,91.
Quanto de dinheiro dá um consultório?
Apesar de ser uma profissão que visa o cuidado e a atenção da saúde mental, os cinco anos de estudo, as constantes atualizações e o trabalho que o profissional leva para casa (revisando casos, estudando e articulando teoricamente os relatos) e alguns gastos inerente à clínica (pagar por supervisão, grupo de estudos, pós, extensão e terapia — para não deixar suas questões pessoais atrapalhar no discernimento), o dinheiro faz — e muito — parte da profissão.
É importante ressaltar que o profissional que é ético e sério jamais enxergará o tratamento como uma mera questão financeira, apesar de se tratar de seu ganha-pão; muito menos irá “segurar” um paciente por conta do valor envolvido em sua análise ou terapia. Assim como muitas profissões, há na psicologia um Código de Ética que é seguido rigorosamente, junto a um Juramento feito na Colação de Grau.Quaisquer flagrantes de não cumprimento de tais premissas podem e devem ser devidamente denunciados aos órgãos reguladores (CFP e CRP).
Em números, quanto um consultório pode render?
Vamos lá: Se um psicólogo cobrar 160 reais por sessão, média inferior da tabela de honorários do CFP (disponível clicando aqui), e realizar 1 (uma) sessão por semana, cada cliente (ou paciente) lhe trará, mensalmente, R$ 640 reais de faturamento. Havendo 10 clientes no consultório do profissional, o faturamento passará a ser R$ 6.400,00 mensais (com gastos como aluguel de consultório, água, luz, condomínio à parte) trabalhando 10 horas semanais, sendo o dobro para 20 horas e assim por diante, podendo o profissional estabelecer seu próprio valor como maior ou menor. Vale ressaltar que há também os gastos de sua análise pessoal e supervisão além dos gastos em geral
É sabido que não é tão simples ou fácil obter uma grade significativa de clientes no começo da profissão, muito menos manter uma linha fixa de rendimentos, já que pacientes vêm e vão. Mas se levarmos o tempo médio de 5 (cinco) anos — o que um profissional costuma levar para se estabelecer no mercado de outras áreas de atuação, o profissional da psicologia que aprender a administrar bem seu consultório deverá ter uma média de ganhos fixos agradáveis à nossa realidade brasileira. Mas é claro que isso se dará a partir de Networking, Marketing e Atualização do profissional através de estudos, participações em eventos e cursos livres ou não. É uma profissão de desenvolvimento profissional e científico constantes. Principalmente com a tecnologia, podendo hoje o profissional atender de qualquer lugar do mundo à distância.
Mas aos profissionais que não se adequam à categoria autônoma, há ainda um número grande de vagas em concurso (em áreas como educação, saúde, trânsito, organizacional e institucional, jurídico-forense, etc) e em empresas privadas.
Espero ter ajudado. Qualquer dúvida, deixe seu comentário.
(Todas as imagens contidas neste artigo foram obtidas de maneira livre e gratuita na internet. Caso você possua direitos autorais de alguma das imagens aqui contidas, por favor entre em contato com a Sociedade dos Psicólogos imediatamente).
Você saberia diferenciar medo, fobia e ansiedade? Sim? Não? Em ambos os casos: este texto será perfeito para você.
O Grito. Obra-prima em óleo sobre tela do pintor expressionista norueguês Edvard Munch. Foi pintada no ano de 1893 e atualmente pertence ao acervo da Galeria Nacional de Oslo. O Pintor se inspirara muito em Vincent Van Gogh, tendo a autoria de sua obra frequentemente confundida, como se fosse do pintor holandês. Suas cores, suas formas, seus traços e as expressões faciais ali representadas são frequentemente associadas ao sentimento de medo, fobia, angústia e ansiedade do ser humano.
O Medo
E se você pudesse sentir medo pela primeira vez?
Outro dia me peguei pensando sobre o que seria uma reação estranha e incômoda de meu corpo. Mais ainda: o que seria esta reação que ao longo de minha vida aprendi a enxergar como algo normal, mas no sentido de quase inexistente: inerente. Tal fato fez com que eu me questionasse: como poderia ser sentir isso pela primeira vez? Este questionamento se deu quando eu estava com meus pensamentos envoltos sobre o ato de sentir medo. Afinal, o que é isso?
O Medo é uma emoção. Uma emoção básica. Se você ainda tiver dúvidas sobre o que é uma emoção, consulte este texto do psicólogo Caio Ferreira. O medo é uma resposta neuropsicofisiológica, com caráter evolutivo, por vezes mais motivado à via cultural, por outras pela via instintiva. Mas sua convergência é uma só: o medo sempre causará fortes desconfortos físicos e/ou psíquicos a quem o experimenta.
O medo é uma emoção que provoca descargas de adrenalina; que aumenta ou diminui o fluxo de sangue do corpo — pode causar vasodilatação ou vasoconstrição – provocando vermelhidão ou palidez na pele; o medo dilata as pupilas para melhorar nossa capacidade de visão até em ambientes mais escuros; o medo é até capaz de provocar a liberação de urina ou fezes de maneira involuntária. E há tantas outras descrições… Embora estas interações emocionais – ocorridas em muitas áreas do cérebro, mas principalmente na integração entre a amígdala, o hipocampo e o hipotálamo – apontem principalmente um caráter de paralisia ou fuga – maior fluxo sanguíneo para maior produção de ATP e maior energia muscular para correr; liberação de urina e/ou fezes com função de afastar predadores através do odor, por exemplo – o medo também pode ser uma forma de preparar nosso corpo para uma luta. Inclusive, paralisia, luta e fuga são respostas autônomas ao medo. Tanto no ser humano como nós animais.
Por exemplo na imagem acima. Hércules, apesar de ter derrotado o Leão de Neméia através de uma árdua luta, provavelmente não teria deixado de sentir medo. Contudo, outras pessoas (e me incluo nessa lista) provavelmente não lutariam contra um leão. Algumas ficariam paralisadas, tremeriam suas mãos e pernas e ficariam com dificuldade para respirar; outras correriam; algumas até poderiam utilizar o córtex pré-frontal em conjunto com o hipocampo para lembrar daquelas técnicas aprendidas na internet sobre como agir perante um leão. Mas aqui falamos de uma exclusividade humana.
Em suma: o medo, apesar de seus desconfortos, serve para proteger a nós mesmos e à nossa espécie. Mas e quando ele acontece de maneira desmedida?
As Fobias
Fobos (Phobos) e seu pai Ares em uma carroagem retratados em Ânfora de aproximadamente 500 anos A.C.
O que une Marte a Vênus é o medo e o terror na Terra.
Phobos e Deimos eram os gêmeos que nasceram da junção do amor, da sensualidade e da beleza de Afrodite (Vênus na versão Romana) em contato com a Guerra, as Armas e os Conflitos de Ares (Marte, na versão Romana). Vale ressaltar que Afrodite era casada com Hefesto, tratando-se, portanto, também de uma traição. Bons filhos que eram, entre seus desejos e aspirações encontrava-se a vontade de sempre acompanhar o pai em suas Guerras. Desta forma, não haveria Guerra em que o Medo (Phobos) e o Terror (Deimos) não acompanhassem os homens.
Em seu papel de Daímon, alguma parte própria natureza humana se manifestava através deles. Se essas divindades não existiram na realidade, com certeza existiram através da força que seu mito tinha para permear o discurso dos guerreiros. Passam a existir no corpo de cada soldado e de cada general — através daquilo que este sente — sua aparição é inerente à Guerra. E não haverá Guerra alguma sem medo ou terror. Mas haveria menos ainda a existência de qualquer um dos dois se até o maior dos guerreiros não precisasse de amor. Então para resumir o mito: a paixão (pathos) que transita entre o amor e a guerra deu a luz ao medo e ao terror dos seres humanos.
A palavra Fobia, em sua raiz grega, deriva deste Deus ou demônio (daímon) que era Phobos, a personificação do medo.
O que é uma Fobia?
De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V) entendemos como fobia um medo específico e irracional, ou seja, além das perspectivas reais de perigo daquele objeto que causa tal medo — que pode ser um animal, uma situação e/ou um próprio objeto inanimado:
“Os indivíduos com fobia específica são apreensivos, ansiosos ou se esquivam de objetos ou situações circunscritos. Uma ideação cognitiva específica não está caracterizada nesse transtorno como está em outros transtornos de ansiedade. Medo, ansiedade ou esquiva é quase sempre imediatamente induzido pela situação fóbica, até um ponto em que é persistente e fora de proporção em relação ao risco real que se apresenta. Existem vários tipos de fobias específicas: a animais, ambiente natural, sangue-injeção-ferimentos, situacional e outros”.
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014. p. 233-234).
A palavra fobia entra como uma representação patológica do que seria a superestimação do perigo real que este medo a um objeto ou evento específico (para ser caracterizado fobia precisa ser em relação a algo específico) pode ou não acompanhar as manifestações fisiológicas mais comum a quem experiencia a emoção do medo em graus elevados. Ex: sudorese, tremores, paralisia, gritos, etc.
Curiosamente, derivando do grego Phobos, o daímon que representava o medo na Mitologia Grega, a nomenclatura deste Transtorno Mental parece ter sido escolhida de forma que também acompanhasse, em partes, a narrativa do mito.
Fobias Específicas
Certa vez, enquanto uma pessoa me relatava sobre uma fobia que possuía, correu um fato curioso: apenas por dar uma descrição mais detalhada do objeto em questão, esta pessoa demonstra tremendo desconforto, visível ao seu rosto e ao seu corpo – ambos passaram a ser protegidos pelas suas mãos.
A Fobia pode se tornar uma espécie de lente de aproximação dos perigos quem podem ou não representar aquele objeto ou evento específicos.
Talvez você conheça algumas pessoas têm nojo de barata. Sem dúvida também conhece outras que têm medo. Mas você conhece adultos, idosos anônimos e famosos que paralisariam, suariam frio, sofreriam de uma incômoda taquicardia e até chorariam como uma criança perante este mero inseto? Para o caso de conhecer: ajude esta pessoa a buscar por um psicólogo e/ou um psiquiatra, pois é possível que ela sofra de entomofobia, ou insetofobia.
Para o diagnóstico de fobia específica ser considerado, é importante ressaltar que a relação de elevada aversão e ansiedade perante o objeto deverá persistir por período igual ou superior a seis meses. Ainda se faz necessário destacar que para começarmos a distinguir um medo de uma fobia, é também preciso avaliar se e o quanto aquilo causa sofrimento e incapacitação na vida daquele indivíduo.
Alguns exemplos de Fobias Específicas
ATENÇÃO: Caso o leitor sofra de algum caso de Fobia Específica, esta seção poderá conter imagens explícitas de seu objeto fóbico.
Aracnofobia: aranha, de forma real ou imaginada;
Acrofobia: de altura; de lugares altos, de muros, sacadas, etc;
Agorafobia: de espaços abertos; shows, concertos, multidões em geral;
Claustrofobia: de lugares fechados/trancados: elevadores, túneis, etc.;
Hematofobia: de ter contato ou de apenas ver sangue ou vestígios de.
A Fobia na Psicanálise
Talvez o caso mais famoso de fobia retratado na psicanálise é o do Pequeno Hans, e sua fobia de cavalos. Caso contado por Freud. Recomendo a leitura da obra, mas para quem quiser conhecer brevemente o caso, o psicanalista Christian Dunker traz um breve resumo em seu Canal no Youtube:
A Ansiedade
“Chegou o final de semana. Finalmente eu poderei colocar em dia os estudos que deixei atrasar. Dessa vez eu vou conseguir atualizar os detalhes de minha agenda! Agora dará tempo de arrumar o meu quarto, de trocar a lâmpada do forno do meu fogão. Mas hey, primeiro eu preciso levar o cachorro para passear. Também não posso me esquecer de reservar uma hora de cada dia para ir à academia e, com certeza, de ler minhas 50 páginas diárias. É bom que eu também me lembre de relaxar, de ouvir alguma música. Será que não tá na hora de checar as minhas redes sociais? O que as pessoas poderiam estar pensando de mim? Será que aquela foto ficou muito comprometedora para o pessoal do trabalho ver? MAS EU AINDA NÃO ESTUDEI! Imagina se o cachorro ficar o dia inteiro sem passear? Eu deveria me esforçar para me organizar mais. MEU DEUS! Eu ainda não atualizei a agenda e ainda faltam 49 páginas. Acho que vou dormir. É uma pena que eu não consigo fazer nada direito”.
Esta é a síntese de alguns pequenos momentos dentro da mente de alguém que sofre de ansiedade. É como se o pensamento tivesse vida própria, como dizem muitos pacientes. E isso cansa, pensar se torna um trabalho. Um trabalho pra lá de exaustivo.
A ansiedade torna a vida do sujeito atemporal. Vive-se o passado e presente em simbiose com as possibilidades (frequentemente negativas) do futuro. É o medo em sua forma crônica, constante e às vezes invisível. É uma enxurrada de palavras preocupadas que pré-ocupam toda e qualquer atenção e relaxamento na vida de um sujeito.
Quem sofre de Ansiedade não tira Férias
Passagem do Romance “Crime e Castigo” de Fiódor Dostoiévski.
A ansiedade ocorre na mente e no corpo. Dificilmente ela age isoladamente em um dos dois, por mais que a princípio alguns sintomas dêem a entender tal fato.
Não é incomum que um paciente que sofra de ansiedade descubra isso após seu dentista lhe apontar o desgaste que o bruxismo causa em seus dentes.
Em alguns casos, quem prevê o diagnóstico é o próprio gastroenterologista, após uma forte dor no estômago que mais tarde se descobre ser uma gastrite.
Quando me perguntam sobre a relação entre gastrite e ansiedade, eu gosto de recorrer à seguinte explicação:
– A gastrite é uma condição médica onde o próprio suco gástrico, que, presente no estômago para auxiliar na digestão dos alimentos, acaba corroendo as paredes que revestem o órgão internamente – quadro muitas vezes corroborado por um padrão alimentício rico em acidez.
Contudo, há relatos de pacientes que mesmo em uma dieta praticamente alcalina apresentaram o distúrbio. Por alguma coincidência, esses pacientes geralmente têm um perfil comportamental mais ansioso. Eventualmente temos aqui um diagnóstico de um quadro conhecido como dispepsia funcional. Ou, popularmente falando: Gastrite Nervosa.
– Uma das causas da gastrite nervosa é a liberação de suco gástrico sem a presença de alimento e/ou fisiopatologia que cause tal fato. Mas o que faria o organismo ter este tipo de comportamento? Talvez um chiclete, já que ele simula uma refeição e a pessoa poderá sofrer caso se encontre de “barriga vazia”. Mas e se o paciente sofrer da condição mesmo sem o hábito de mascar chiclete?
Será que isso é algo como se o organismo estivesse pulando etapas? Como se este se atropelasse na pressa de fazer tudo de uma vez? Talvez como se a sua digestão, da mesma forma em que ocorre com os pensamentos apreensivos de um paciente ansioso, esteja lá no futuro, lhe causando desconforto agora.
O que é a Ansiedade, afinal?
A ansiedade, segundo Dalgalarrondo:
[…] é definida como estado de humor desconfortável, apreensão negativa em relação ao futuro, inquietação interna desagradável. Inclui manifestações somáticas e fisiológicas (dispneia, taquicardia, vasoconstrição ou dilatação, tensão muscular, parestesias, tremores, sudorese, tontura, etc.) e manifestações psíquicas (inquietação interna, apreensão, desconforto mental, etc.).
(DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 166).
Portanto, é importante ressaltar que estamos falando de uma condição por vezes altamente incapacitante. A ansiedade costuma trazer insônia, comprometendo a organização dos ciclos circadianos do paciente; pode atrapalhar relações de trabalho com atrasos e faltas frequentes; pode, inclusive, comprometer relações amorosas e familiares. Nada aqui se compara ao famoso “frio na barriga” antes de uma esperada viagem – causado por uma descarga de adrenalina
Lembrando disso me cabe também contar que, ao começo de minha vivência clínica, quando atendia pacientes encaminhados via convênio médico em parceria com uma instituição, era altíssimo o número dos encaminhamentos médicos com a hipótese diagnóstica de algum Transtorno de Ansiedade.
Mas o fato mais curioso, que não me foi ensinado à graduação de psicologia era que a maioria destes pacientes não era composta por pessoas encaminhadas por um psiquiatra, mas sim pelo cardiologista – em geral após uma suspeita de infarto ou cardiopatia ser descartada por uma bateria de exames realizada um pouco depois de o paciente ter dado entrada no Pronto Socorro de um hospital.
Os Sintomas da Ansiedade
Dalgalarrondo (Ibid) divide os sintomas entre mentais, ou seja, relacionados à experiência interna, subjetiva, do indivíduo; e somáticos, relativos ao corpo, à fisiologia; à parte observável diretamente.
(DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 166. Quadro 16.3)
Contudo, é preciso cuidado. Os sintomas da ansieda não lhe são exclusivos. Eles já apareceram em Outro lugar. Eles são muito semelhantes ao que se sente no medo. Entretanto, o próprio DSM-V faz questão de nos atentar às diferenças entre medo e ansiedade:
“Medo é a resposta emocional à ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura. Obviamente, esses dois estados se sobrepõem, mas também se diferenciam, com o medo sendo com mais frequência associado a períodos de excitabilidade autonômica aumentada, necessária para luta ou fuga; pensamentos de perigo imediato e comportamentos de fuga e a ansiedade sendo mais frequentemente associada à tensão muscular e vigilância em preparação para perigo futuro e comportamentos de cautela ou esquiva”.
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014. p. 233).
A partir desta afirmação, se faz importante observar que há uma clara semelhança entre os sintomas da ansiedade com a expressão de uma das sete emoções básicas: o medo. Não é atoa que há eventual confusão entre os dois termos. A ansiedade talvez se pareça mais com um medo que, a princípio, se hospedaria naquele local apenas por um final de semana, mas encontrou lá razões para permanecer por tempo indeterminado.
As próprias manifestações fisiológicas são bem parecidas às do medo e da fobia. Mas a principal diferença é que, pelo menos a princípio: a ansiedade pode não possuir relação com causa/objeto específicos. Em alguns casos, como no Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), uma crise de ansiedade pode acontecer de maneira súbita, sem causa aparente. Quem quiser mais detalhes sobre a ansiedade, recomendo a leitura de um excelente texto da psicóloga Masilvia Dinizclicando aqui.
Transtornos de Ansiedade
Você sabia que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde?
Os Transtornos de Ansiedade são diagnosticados de acordo com as recomendações da Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID 10) – gerido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) –, e/ou pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V)– regido pela American Psychiatric Association. Sempre por um psiquiatra. Contudo, o tratamento pode e deve ser realizado com vários profissionais trabalhando em equipe. A multidisciplinaridade, como forte aliada à saúde mental, é indispensável. Desde o psicólogo, o psiquiatra; à nutricionista, o terapeuta ocupacional; até ao educador físico e ao endocrinologista. Caso você sofra de algo parecido, procure urgente um profissional da área da saúde mental.
Exemplos de Transtornos de Ansiedade
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
Sendo uma de suas marcas o roer de unhas, falamos aqui de um quadro de sintomas ansiosos que persistem por pelo menos seis meses, passando a causar elevados prejuízos aos âmbitos social, produtivo e afetivo do indivíduo que sofre desta condição.
A angústia e a insônia não são raras, confira a lista de sintomas que Dalgarrondo (2008) descreve a respeito desta condição:
(DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 306. Quadro 26.1)
O TAG é algo que com alguma frequência parece não ter uma causa aparente em suas crises. E de fato não é fácil estabelecer uma linha entre os fatores que poderiam desencadear a expressão de uma crise de ansiedade.
Para ilustrar tal fato, me recordo de uma situação relatada para mim onde, todos os dias na mesma hora, um pouco após chegar ao trabalho, uma pessoa que sentia muita vontade de ser demitida começava a experimentar uma crise de ansiedade. A princípio, para alguns psicólogos e psicanalistas, a relação entre as duas coisas parecerá evidente. Contudo, foi preciso que mais detalhes fossem buscados para que se começasse, em consultório, recolher as migalhas de pão”deixadas no caminho através da fala do paciente para depois entender mais nuances que o sigilo profissional não me permitirá expor aqui. As informações deste tipo não são tão simples de se chegar ao acesso, exigindo um pouco de paciência e atenção da parte do terapeuta. O tratamento para o TAG é realizado com psicoterapia e, em casos mais acentuados, há o uso de medicamentos em conjunto.
Transtorno do Pânico
É o medo de sentir medo. Um dos mais incapacitantes transtornos de ansiedade. Suas manifestações se estendem através de descargas do sistema nervoso autônomo; exatamente por isso, seus sintomas são até mais incapacitantes do que no caso de outros transtornos. Por exemplo: “batedeira ou taquicardia, suor frio,
tremores, desconforto respiratório ou sensação de asfixia, náuseas, formigamentos
em membros e/ou lábios” (Dalgalarrondo, 2008, p. 305).
(DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 306. Quadro 26.1)
Ainda de acordo com Dalgalarrondo (2008) , algo é unânime entre os pacientes: a sensação de que irá morrer a qualquer momento. Em crises mais intensas pode haver até certo grau de despersonalização. O ataque de pânico costuma ocorrer por mais tempo que o convencional. Quando estas crises de pânico se repetem com certa frequência por um período de 6 meses, pode-se começar a indagação a respeito de um diagnóstico relacionado ao Transtorno do Pânico (podendo ser com ou sem agorafobia).
Pacientes que sofrem de Transtorno do Pânico começam a evitar sair de casa com medo dos ataques; pedem demissão, terminam relacionamentos e, em casos mais graves até cometem suicídio em função da insuportabilidade de seu sofrimento.
A Ansiedade tem tratamento
Agora que você já sabe a diferença entre medo, fobia (que no DSM-V também é considerada um transtorno de ansiedade) e ansiedade teremos o objetivo principal em pauta: auxiliar na busca pelo tratamento, inclusive estimulando pessoas próximas a fazerem o mesmo. Se o leitor se identifica com a maior parte dos sintomas e algum dos transtornos aqui apresentados, a recomendação é que procure um psicólogo e/ou um psiquiatra o mais rápido possível, mesmo que apenas para tirar a dúvida. A internet não serve para isso.
A diferença é feita na hora da procura por um profissional. Mas a difusão do conhecimento sobre o assunto também poderá ajudar para que mais pessoas consigam entender que talvez seja a hora de escutar a opinião de quem dedicou, e ainda dedica a vida pessoal e profissional para ajudar quem passa por este tipo de sofrimento. Compartilhar este texto e deixar seu feedback também ajudarão à difusão deste conhecimento. Faça a sua parte. Até a próxima.
*Todas as imagens contidas no texto foram obtidas de forma gratuita na internet. Caso alguma delas seja de sua autoria, entre em contato com a Sociedade dos Psicólogos o mais rápido possível*.
American Psychiatric Association et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014.
Cabral, A.; Nick, E. Dicionário Técnico de Psicologia. São Paulo. Editora Cultrix. 2006.
Dalgalarrondo, P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Artmed Editora. 2008. Darwin, C. Aexpressão das emoções no homem e nos animais. São Paulo: Companhia das Letras. 2009. (Obra original publicada em 1872). Ekman, P. A linguagem das emoções: revolucionando sua comunicação e seus relacionamentos reconhecendo todas as expressões das pessoas ao redor. São Paulo: Lua de Papel. 2003.
Lent, R. Cem bilhões de neurônios?: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Ed. Atheneu. 2010. Rafailov, Igor. “Dicionário Igor de Fobias.” Forum de Fobias, 2003.