Dia Mundial do Enfermo – “O doente é mais importante do que a sua doença”, reflexões do Papa Francisco e a Psicologia

Recentemente, o Papa Francisco fez menção ao Dia Mundial do Enfermo, celebrado no dia 11 de Fevereiro, desde 1992.

Em seu discurso, o Papa Francisco expressou que “o doente é mais importante do que sua doença”. Também destacou a importância em cultivar a escuta, explorar a história, os anseios e os medos de quem vivencia um processo de adoecimento.

Discurso este, que se assemelha aos princípios cultivados pela Psicologia, em suas diferentes abordagens e áreas de atuação. Considerando, claro, a importância de explorar o indivíduo em sua totalidade.

O que é enfermidade? E quais são seus impactos?

Por enfermidade, de modo breve e geral, entendemos que se trata de um desequilíbrio na condição biopsicossocial e espiritual.

Em um processo de adoecimento, o enfermo não só vivencia seus desequilíbrios pertinentes a doença. Mas também passa a lidar com outras consequências, tais como:

  • novas necessidades;
  • mudanças na rotina;
  • mudanças em seus relacionamentos;
  • impactos na autoestima;
  • instabilidade psicológica, se aproximando de manifestações de medo, angústias, desesperanças, frustrações e outras tantas.

A enfermidade provoca uma série de mudanças. E seguindo pela via das possíveis consequências psicológicas, é importante considerar que o indivíduo pode se deparar e até se agravar diante de sentimentos de tristeza, desamparo e solidão, por mais que esteja em tratamento e cercado de apoio.

O que as mudanças nos relacionamentos podem causar no enfermo?

A estranha sensação de vivenciar o desconhecido, se agrava perante a forma diferente que as pessoas ao redor passam a tratar o indivíduo.

Por vezes, essa forma diferente se manifesta por excessos, sejam eles voltados a certos comportamentos que expressam indiferença afetiva e distanciamento das pessoas com o indivíduo. Ou até mesmo, seu outro extremo, o excesso de cuidar, de se fazer presente, de se preocupar e até de poupar o ser que adoece, das situações mais simples de seu dia a dia.

Estes exemplos de modos diferentes de tratar a pessoa que passa por uma enfermidade, podem causar ainda mais os sentimentos de medo, desamparo e solidão. Afinal, a pessoa passa a ser vista de forma diferente. Em suas relações, ela tende a ser vista através de sua doença, e não mais pela sua totalidade de ser.

Neste sentido, a Psicologia faz das palavras do Papa mencionadas aqui, as suas. O princípio de relações humanizadas se estende ao gesto de cuidar, principalmente quando se trata de situações de adoecimento.

Como lidar com o indivíduo que vivencia o adoecer?

Como via de regra, é importante olhar o ser que adoece enquanto ser que está em processo de mudança, e não unicamente como uma doença.

É eficaz preservar o olhar de que o indivíduo permanece o mesmo enquanto ser humano, como alguém que vivencia as próprias opiniões, gostos, preferências, sentimentos, conhecimentos, capacidades, limites, responsabilidades e tudo o que contempla alguém com seus direitos e sua próprio história.

Por isso a menção e o lembrete: “o doente é sempre mais importante que a doença”. Ele é muito mais, algo além de sua doença.

Como ajudar de forma positiva?

  • procure tratar o ser enfermo como um todo;
  • mantenha o gesto de respeito, empatia e atenção ao que ele tem a oferecer e a dizer;
  • cultive o gesto de escutá-lo e até mesmo de perguntar o quê for necessário;
  • preserve a autonomia e o seu senso de responsabilidade dele;
  • explore sua história, suas descobertas, dificuldades, sentimentos e aprendizados vivenciados no momento atual;
  • dentro do possível e se possível, também peça ajuda ao enfermo. O senso de capacidade e pertencimento nutrem a autoestima.

Por último, mas não menos importante, cuide de você. Perceba como a situação te afeta. Se preciso e possível, busque ajuda também.

O cuidado consigo causa um efeito dominó: ajuda a si mesmo, a situação e o enfermo. E se tratando de cuidado, nas relações e em qualquer situação, ele pode “faiar”. Mas o importante é tentar!

Por Tayna Wasconcellos Damaceno.

Referências

AYRES DE AlMEIDA, Raquel e MALAGRIS, Lucia. A Prática da Psicologia da Saúde. Revista SBPH,  Rio de Janeiro ,  v. 14, n. 2, p. 183-202, Dezembro de 2011.

Disponível aqui. Acesso em 11/02/2022.

JAGURABA, Mariangela. Dia Mundial do Enfermo, o Papa: garantir atendimento médico a todos os doentes. Vatican News, 2022.

Disponível aqui. Acesso em 11/02/2022

PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO CÓDIGO DE ÉTICA DOS PSICÓLOGOS. Conselho Regional de Psicologia SP.

Disponível aqui. Acesso em 11/02/2022.

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