O papel do Dia das Crianças para adultos

O dia 12 de outubro é conhecido no Brasil como Dia das Crianças, o dia em que celebramos este período da existência onde somos livres (ou deveríamos ser) para brincar, sonhar, criar e destruir, tudo com um punhado de brinquedos e muita imaginação.

Hoje busco uma reflexão de como essa data pode ser importante para adultos, para muito além do ato de presentear os pequenos, mas para resgatar sua própria criança, ou tudo que ela gostaria que você continuasse sendo. Então neste dia observe, veja em cada criança a espontaneidade, a ausência de culpa, de malícia, veja como a vida é sempre leve como uma brincadeira e como cada dor pode desaparecer um segundo após a queda. Onde nos perdemos?

Nós adultos, responsáveis e sabedores das coisas, acabamos por criar uma ou adotar sistemas de vida que não são nossos, aceitamos do mundo e da sociedade as diversas “facilidades” de vida que cobram um preço alto demais, nossa autenticidade, o melhor que sua infância tinha para lhe dar, por isso, neste dia vamos prestar atenção nas crianças.

O filósofo Friedrich Nietzsche, pontuou sobre como a criança é um espírito livre, como a sua pura vontade, espontaneidade e verdade são a mais profunda afirmação da vida, e elas demonstram como o desejo de querer a felicidade não precisa ser carregado de culpa. Elas esquecem as dores, e até mesmo as surras, elas seguem em frente e brincam mais uma vez.

Pautadas em sua imaginação a criança cria universos, e logo em seguida os destrói, se sente livre para pintar a realidade da cor que achar melhor, a criança vive profundamente sua vontade, de maneira muito espontânea. E essa maneira de viver faz com que seja pra elas impossível de compreender o adulto, pois a criança apenas faz, ela age por seus motivos, porque quer, e não submete isso a nenhum sistema moral previamente, ela vive seu momento com o que ele tem a oferecer.

E nós, adultos que buscamos viver os “bons costumes”, e isso é segundo Nietzsche o caminho para se sufocar, cada vez mais carregado de bagagem social, a pessoa se afoga em si mesma, e perde totalmente aquela espontaneidade da criança, vive o esperado, o designado e deixa de criar realidades, deixa de colorir a própria vida.

“A criança é a inocência, e o esquecimento, um novo começar, um brinquedo, uma roda que gira sobre si, um movimento, uma santa afirmação”. (NIETZSCHE, 2004)

E é isso que o filósofo enxerga na humanidade, para Nietzsche a vida humana é vontade de potência, é nossa complexidade de sentimentos, desejos e vontades nos impulsionando para encontrar nossa satisfação e felicidade, para conquistar, para criar, para dominar, de ser senhor de si mesmo e determinar sua realidade com sua criatividade, vontade e esforço. E dentro do fluxo caótico do universo, nós podemos ser crianças, criando, dando sentido e quando necessário, destruindo e começando tudo novamente, sem pesar pelo recomeço, mas sim com muita alegria no coração.

 NIETZSCHE, F. Além do bem e do mal: Prelúdio a uma filosofia do porvir. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo, Comp. das Letras, 2003.

 NIETZSCHE, F. Assim Falou Zarathustra. Martin Claret: São Paulo, 2004

Atenciosamente,

Psi. Patrício Lauro

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