Buscar ser melhor ou buscar ser feliz?

Ao expor tal questionamento, você entende que se trata de caminhos opostos ou que ambas questões se direcionam ao mesmo destino, a felicidade? 

Para explorar tal reflexão, inicialmente podemos considerar alguns estudos levantados pela Dra. Maria Sirois, reconhecida psicóloga clínica na área da Psicologia Positiva. Sirois sinaliza em seus estudos que buscar ser um ser humano melhor mediante até os piores momentos, nos coloca diante da possiblidade de fortalecer nossa resiliência

Segundo a Dra. Sirois, em uma entrevista sobre Resiliência na Psicologia Positiva, ela caracteriza a resiliência como uma poderosa fonte para superação de desafios e elevação de nossas capacidades, inclusive a de prosperar e de cultivar o estado de bem-estar e felicidade

Como se constrói a resiliência?

Ao que se atribui atenção?

De acordo com a Dra. Maria Sirois, a resiliência é fruto de um combo construído através da atenção e de escolhas sábias direcionadas à um questionamento: “como viver melhor?“. 

Tal questionamento nos coloca diante de um novo compromisso. Ou seja, nos convida a vivermos engajados na busca por esta vida melhor. Além de facilitar nossa aproximação com nossas paixões e com aquilo que atribuímos importante significado. Em outras palavras, aquilo que realmente nos importa. 

O que escolher de forma sábia para cultivar a resiliência?

Para resiliência se fazer presente. Ou seja, para superarmos certas dificuldades e elevarmos nosso potencial, é preciso priorizar algumas escolhas, tais como: 

  • Reconhecer e se aventurar em nossas qualidades, para elevar a autoestima e autoconfiança. 

É preciso coragem e confiança para superar os obstáculos. 

  • Preservar um estado de otimismo fundamentado, para minimizar o excesso de preocupações, medos, fantasias e até o elevado estado ansioso. 

Compreender o contexto, se atentar ao todo. Considerar os aprendizados e possíveis ganhos. Considerar e estabelecer caminhos práticos para superação de determinadas situações, caracterizando o otimismo fundamentado.

  • Estabelecer conexões

Como dito por Passareli e Silva (2007), em seu artigo sobre Psicologia Positiva, estabelecer conexões se trata de propiciar relações naturais e agradáveis.  

E sobre tais conexões, que importância há em reconhecer as qualidades nos outros nos que cercam. E também de manter a perspectiva otimista nos relacionamentos, até mesmo mediante decepções e conflitos, a fim de que a resiliência também seja um recurso para o resgate e fortalecimento das relações.

 

Buscar ser melhor, um possível caminho para felicidade

Priorizar o potencial de resiliência, considerando a atenção e escolha sábia, rumo ao que há de melhor em cada indivíduo, situação ou relação, conforme propagado pela Psicologia Positiva, tende a ser um possível caminho para tão desejada felicidade. 

E para complementar este possível feliz caminhar, nada mais que necessário do que sinalizar as emoções positivas, grandes facilitadoras no desenrolar entre um momento difícil e outro.  

Conforme já compartilhado em Lista de 10 Emoções Positivas, são elas: 

  • amor 
  • alegria 
  • gratidão 
  • serenidade 
  • interesse 
  • esperança 
  • orgulho 
  • diversão 
  • inspiração 
  • admiração 

Quanto a elas, as emoções positivas, é preciso treiná-las e praticá-las. É preciso saber que elas existem. É preciso se atentar a elas e permitir escolhe-las, não como algo pronto. Mas sim como algo a ser aprendido e cultivado. 

Por fim, um “papo” sobre resiliência, conexões e emoções positivas para um complexo, mas possível caminho chamado felicidade. 

Por Tayna Wasconcellos Damaceno.

Referências

FERREIRA, Caio A Psicologia Positiva e o Estudo da Felicidade. Novembro de 2018. 

Disponível aqui. Acesso em 07/12/2021. 

FERREIRA, Caio. Lista de 10 Emoções Positivas. Janeiro de 2019.  

Disponível aqui. Acesso em 07/12/2021. 

PASSARELI, Paola e SILVA, José Aparecido. Psicologia Positiva e o Estudo do Bem-Estar Subjetivo. Estudos de Psicologia, Campinas, 24(4) – 513-517, Outubro – Novembro de 2007. 

Disponível aqui. Acesso em 07/12/2021.

Tais Targa – Resiliência na Psicologia Positiva – com Maria Sirois e Henrique Bueno 

O que a Dinamarca pode nos ensinar sobre felicidade

Nos últimos meses o tema felicidade tem me chamado atenção. Entre alguns livros que já li sobre o assunto, um em especial me chamou atenção: ” O segredo da Dinamarca – Descubra como vivem as pessoas mais felizes do mundo”.

Eliane Ratier: Livros- O Segredo da Dinamarca- Helen Russel

À primeira vista, este título me deixou curiosa. Que a Dinamarca era um país desenvolvido e que tem muito a ensinar, eu já sabia, mas o que será que o país que ocupa o 3º lugar no ranking de felicidade (World Hapiness Report), ficando atrás apenas dos seus países vizinhos (Finlândia e Islândia), faz de diferente dos demais?

Para medir o nível de felicidade, o relatório leva em consideração 7 dimensões, que também compõem um indicador chamado FIB (Felicidade Interna Bruta), conceito que nasceu em 1972, num pequeno país no Himalais, Butão, e posteriormente se espalhou pelo mundo a partir de iniciativas da ONU (Organização das Nações Unidas).

Para este ranking, os critérios considerados são:

  • PIB per capita
  • Apoio social
  • Vida saudável
  • Expectativa de vida
  • Liberdade
  • Generosidade
  • Ausência de corrupção

Tão intrigada como eu fiquei ao ler o título desse livro, a autora, uma jornalista inglesa também ficou ao se mudar com o marido para a Dinamarca. Ao descobrir que a Dinamarca fazia parte dos países escandinavos, considerados os mais felizes do mundo, ela começou uma pesquisa com os dinamarqueses para descobrir o que fazia ou contribua para a sua felicidade. Além do choque térmico e da língua dinamarquesa ser uma das mais difíceis de se aprender, a jornalista compartilha algumas dicas e lições aprendidas interessantes que podem nos inspirar nessa jornada em busca da felicidade:

  1. “Esqueça das noves às cinco”: Em um dos seus primeiros capítulos já é possível notar que a relação que os dinamarqueses têm com seus trabalho é diferente do que vivemos por aqui. Recentes estatísticas mostram que os dinamarqueses trabalham, em média, 34 horas por semana e ficar horas depois do expediente por conta de alguma demanda ou projeto pode, inclusive, ter o efeito contrário nos colegas de trabalho e ser encarado como um problema de produtividade.
  2. O lazer ocupa um espaço considerável na vida das famílias e entende-se como lazer qualquer atividade para apreciar a sua própria companhia e/ou a de seus amigos e família. Existe até mesmo um termo para isso: fique “hugge”, ou seja, lembre-se dos prazeres da vida através de pequenas coisas, como acender uma vela aromatizada, preparar um café para si mesmo e preparar uma refeição e receber os amigos em casa por longas horas (aliás, uma boa mesa de jantar dinamarquesa é aquela que tenha, pelo menos, 8 lugares para receber a família e amigos).
  3. “Faça você mesmo”: é muito comum que os dinamarqueses coloquem a criatividade em prática para produzir seus próprios utensílios. Faz parte do ensino das escolas incentivar essa prática e a colaboração.
  4. “Use seu corpo”: o esporte e a atividade física fazem parte do dia a dia dinamarquês a ponto de existir uma infinidade de clubes e todas as pessoas estarem vinculadas a, pelo menos, um. A prática de exercício físico não só uni as pessoas, mas também libera endorfina, apoiando na percepção de bem-estar.
  5. Confiança: os dinamarqueses têm um alto grau de confiança uns nos outros e, inclusive, em suas instituições públicas. A confiança é tanta a ponto de deixar o gerente do banco tomar as melhores decisões com o seu dinheiro mesmo sem te consultar e pedir sua autorização imediata.
  6. Imagine fazer parte de uma sociedade onde o Estado preocupa-se com o bem-estar social. Paga-se uma alta taxa em impostos (e os dinamarqueses pagam com orgulho), mas todas as escolas são públicas, e de qualidade, e o cidadão, mesmo que já empregado,  tem a opção de parar tudo e voltar a estudar para ter uma nova profissão, recebendo, nesse período, de 80% a 90% do que ganhava. Essas são alguns das práticas sociais que a autora descreve em seu livro.

Essas são algumas das lições que aprendi com o livro e me despertaram para o que já venho há muito tempo aprendendo com a Psicologia Positiva, o caminho para essa busca de bem-estar e felicidade não está em possuir coisas, mas sim em apreciar e balancear as experiências e os eventos, poisitivos ou não, que acontecem internamente e ao nosso redor. Confiar mais em si e adotar hábitos que tragam maior felicidade pode ser um bom começo para esse longo processo.

Referências e Recomendações

Com pandemia, Brasil fica na 41ª posição em ranking global da felicidade

FIB – Instituto Movimento pela Felicidade

por Bruna Passarelli

Motivação: Um mecanismo biológico que impacta nossas vidas

Falta de motivação também pode ser um problema biológico. Entenda como o ambiente alimenta um mecanismo biológico conectado a motivação e cinco dicas para a estimular em seu dia a dia.

A pandemia tem gerado inúmeras reflexões para cada um de nós. Uma delas, muito presente em discussões e estudos recentes, é a produtividade e a motivação. Que a produtividade de quem está em modelo homeoffice aumentou, não temos dúvidas. Mas, será que a motivação acompanha essa alta? E sendo a motivação tão importante para a nossa produtividade, é possível a estimular? 

Para responder essa pergunta, me peguei refletindo sobre o que é produtividade. Em qualquer busca online, encontro que produtividade “é uma relação entre o que foi produzido e os recursos empregados para se atingir tal objetivo”.

É fácil entender que, culturalmente, associa-se produtividade com a quantidade de atividades que alguém produz. E a qualidade, ou seja, o resultado daquilo que se produziu é deixado de lado ou não recebe a mesma evidência que o fator quantidade. Levando em consideração esse conceito, será que as pessoas Será que as pessoas continuarão a se motivar 

Quando estamos motivados, certamente nosso engajamento em certa atividade e produtividade aumentam, algo que podemos associar com o Estado de Flow, teoria já explicada por aqui pelo psicólogo Caio Ferreira. 

A motivação pode ser intrínseca, algo que vem de dentro de nós, e extrínseca, externo ao ser humano, aquele reforço presente no ambiente ou advindo das pessoas ao nosso redor. Seja qual for o tipo de motivação, uma dose de autoconhecimento se faz necessária para entender o que o ambiente pode nos oferecer e que irá alimentar nossa motivação

Daniel M. Cable em seu livro chamado “Vivo no trabalho”, de Daniel M. Cable, explora o conceito de motivação para além de variáveis físicas e emocionais conectadas a ela. Segundo o autor, a motivação não se restringe apenas aos nossos interesses. Há um mecanismo biológico conectado a ela, que quando compreendido e bem trabalhado pode potencializar a motivação e os resultados. 

O ser humano tem um mecanismo natural, chamado “seeking system”, ou em tradução livre “sistema de busca”. Esse modelo de comportamento e de reação neurológica faz com que sejamos motivados a explorar novos territórios para extrair significado deles e, com isso, aprendizado. Quando o sistema é ativado e a curiosidade despertada, o sistema neurológico libera um neurotransmissor em nosso corpo e células, chamado dopamina, responsável pela sensação de prazer e regulação de humor. A dopamina em conjunto com outros neurotransmissores, como a adrenalina e noradrenalina, alimenta um sistema de recompensas no corpo, como, por exemplo, o sono, a fome e o humor. 

Isso significa na prática que quando temos algo que desperta nossa atenção e curiosidade, somos impulsionados a responder esse estímulo, ressignificando o que nos é apresentado e, com isso, aumentando nosso interesse e motivação para encontrar novos estímulos que despertam novamente nossa curiosidade e liberem, novamente, as sensações de prazer em nosso corpo. 

Ideia que faz sentido e aparenta ser simples, mas difícil de ser implementada, pois não são raras as vezes em que precisamos ser produtivos (no sentido de quantitativo) e deixamos o piloto automático e a rotina tomar conta de nossos dias (a própria rotina cumpre um papel importante em nossa vida social moderna, pois nos economiza tempo e energia).

Então, o que fazer para estimular esse sistema de busca e aumentar nossa motivação?

Não existe uma receita de bolo para aumentar a motivação. Mas, se pudesse desenhar passo a passo, diria que em primeiro lugar é importante ser gentil consigo mesmo. Entender que a motivação pode estar ausente em alguns dias e se permitir dar uma folga é um passo libertador para não se cobrar tanto e evitar frustrações futuras. 

Em segundo lugar, aumentar a consciência sobre si mesmo. Isso significa entender o que te motiva e o que não motiva. Encontre um propósito para si mesmo. E ele não precisa ser algo grandioso, para a vida. Pode começar de forma tímida, levando em consideração o seu dia atual, talvez a próxima semana e com o passar do tempo se transformar em algo que tenha um horizonte maior.

Em terceiro lugar, permita-se expressar o melhor de si em seu dia a dia e com as pessoas que te cercam. Há estudos que afirmam que quando temos a oportunidade de exercitar nossos talentos e pontos fortes todos os dias, a probabilidade de obter maior satisfação com nossas entregas e desfrutar de melhor qualidade de vida aumentam em até três vezes. (Buckingham, Marcus, 2015)

Em quarto lugar, exercite olhar para o que te cerca sob uma ótica diferente do que você faria de costume. Inclua a curiosidade na sua rotina e valorize a diversidade, pois ela tem um grande poder para construir perspectivas inovadoras. 

Em quinto e último lugar, valorize a si mesmo e experimente aprender e ensinar coisas novas todos os dias. Somos eternos aprendizes e uma vez que nos reconhecemos como tais, a vida se torna uma jornada cada vez mais interessante e motivadora.  

Referências e Recomendações

Buckingham, Marcus. Descubra seus pontos fortes. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.

Cable, Daniel M. Alive at work: The neuroscience of helping your people love what they do. Boston: Harvard Business Review Press, 2018.

Você conhece o Estado de Flow?

Zoom Fatigue: O que é esse esgotamento mental e como amenizá-lo

Por Bruna Passarelli

Explicando Seligman: Felicidade Autêntica e Florescimento (Psicologia Positiva)

Quando a psicologia decide investigar a felicidade e o bem-estar (subjetivo) humanos, ela passa, inevitavelmente, sob os terrenos abertos pela Psicologia Positiva e pelo seu fundador, o psicólogo Martin Seligman, PhD. Isso, pois foi a corrente da Psicologia Positiva que conseguiu, de forma pioneira, investigar, compreender e intervir com sucesso sobre as chamadas forças e virtudes do homem e ampliar o foco da psicologia científica tradicional que, até então, partilhava do modelo médico e estava voltada, quase que totalmente, a curar/tratar doenças. É então, com a Psicologia Positiva que não apenas temos hoje estudos sobre os fenômenos e impactos das emoções positivas na vida das pessoas, ou do “estado de flow”, ou do “mindfulness”, ou da resiliência, por exemplo, entre outras contribuições, mas também podemos falar de uma psicologia preventiva e fortalecedora tão sólida quanto a tradicional psicologia reparadora de danos.

Vale dizer que a Psicologia Positiva (PP) está saindo da adolescência, isto é, ela foi fundada em 1998 e, portanto, é um corpus de estudo científico relativamente novo. Para saber mais sobre seus antecedentes, nascimento, propósito e principais contribuições, recomendamos o texto A Psicologia Positiva e o Estudo da Felicidade.

Martin Seligman

Psicólogo Martin SeligmanMartin Elias Pete Seligman (1942 – ) é um Psicólogo estadunidense considerado o pai da da PP. Ele é um dos principais divulgadores internacionais dessa corrente e foi responsável pela sua criação, em 1998, enquanto Presidente da American Psychological Association (APA). Ficou conhecido como “a voz”, ao lado de Mihaly Csikszentmihalyi, conhecido respectivamente como “o cérebro” e também pai da teoria flow. Seligman preparou o terreno para o nascimento da PP, contactou patrocínios, escreveu artigos, livros, desenvolveu ferramentas de mensuração e possibilitou outras tantas contribuições para esse campo. Entre seu legado, vale destacar a obra Character Strengths and Virtues: A handbook and classification (CSV) (sem tradução para a língua portuguesa) que, resumidamente, é o equivalente ao DSM para a PP, isto é, ao invés de catalogar, de forma rigorosa, doenças e tratamentos, cataloga forças, virtudes e as respectivas avaliações e intervenções sob elas.

Felicidade Autêntica

felicidade autêntica martin seligmanUm dos pilares da PP é o estudo das emoções positivas no âmbito pessoal e coletivo (instituições positivas) e, buscando compartilhar sua visão, Seligman estrutura o livro Felicidade Autêntica (Authentic Happiness, 2002) em 3 eixos:

  • Estudo das emoções positivas;
  • Estudo dos traços de personalidade positivos (como forças e virtudes);
  • Estudo das instituições positivas ou aquelas que promovem aspectos positivos no ser humano.

“A crença de que existem maneiras rápidas de alcançar felicidade, alegria, entusiasmo, conforto e encantamento, em vez de conquistar esses sentimentos pelo exercício de forças e virtudes pessoais, cria legiões de pessoas que, em meio a grande riqueza, definham espiritualmente. Emoção positiva desligada do exercício do caráter leva ao vazio, à inverdade, à depressão e, à medida que envelhecemos, à corrosão de toda realização que buscamos até o último dia de vida.”

(Seligman, 2010, p. 16)

Por meio de relatos de pacientes, relatos de pesquisas, questionários, fatos históricos, teorias, estatísticas, porcentagens e muita emoção, Seligman apresenta uma teoria da felicidade. Resumidamente, ele diz que a felicidade é alcançada por meio da emoção positiva, do engajamento e do significado. Falar cientificamente sobre a felicidade não é fácil, mas um avanço foi feito ao correspondê-la em elementos mais bem definidos e mensuráveis.

Esses 3 elementos, por sua vez, fazem referências a 3 tipos de vida:

  • Vida prazerosa ⇒ emoções positivas
  • Vida engajada ⇒ engajamento (flow)
  • Vida significativa ⇒ sentido

Nessa teoria, Seligman não apenas divide a felicidade, mas fala de 3 caminhos que levam à ela. A vida prazerosa é aquela onde temos alta concentração, quantidade, frequência e intensidade de emoções positivas (diversão, orgulho, contemplação, gratidão, serenidade…). Na vida engajada, o sujeito utiliza suas forças pessoais e envolve-se em atividades com ela. Essa felicidade se relaciona diretamente com o estado de flow – um estado em que o indivíduo fica envolvido, concentrado e absorvido, sem sentir fome e/ou perder a noção do tempo, por exemplo, durante uma tarefa (comum em escritores, pintores, músicos, atletas mas alcançável por qualquer pessoal). Na vida significativa, a pessoa valoriza os sentimentos de buscar, servir e pertencer a algo maior ou a algum propósito que envolva suas virtudes.

Florescer

Florescer florescimento martin seligman psicologia positiva9 anos depois da publicação do Felicidade Autêntica, com novas e importantes pesquisas sobre a felicidade, Seligman publica o Florescer (Flourish: a visionary new understanding of happiness and well-being, 2011), onde faz uma mudança teórica significativa, ao deixar de abordar o conceito de felicidade, para abordar o de bem-estar. Com essa mudança, as formas de felicidade anteriormente descritas passam a ser elementos da nova teoria.

O novo modelo é representado didaticamente pelo acrônimo PERMA

  • P – Positive emotion (Emoção positiva)
  • E – Engagement (Engajamento)
  • R – Relationships (Relacionamentos)
  • M – Meaning (Significado)
  • A – Accomplishment (Realização)

Dessa forma, cada elemento contribui, mas não define o bem-estar. A tabela abaixo compara os temas, padrões de mensuração e objetivos correspondentes às duas teorias.

psicologia positiva martin seligman
(Seligman, 2012, p. 19)

Referências e recomendações de leitura:

Achor, S. (2012). O jeito Harvard de ser feliz. São Paulo: Editora Saraiva.

Peterson, C., & Seligman, M. E. P. (2004). Character strengths and virtues: A handbook and classification. New York: Oxford University Press and Washington, DC: American Psychological Association.

Pureza, J. R.; Kuhn, C. H. C.; Castro, E. K. & Lisboa, C. S. M. (2012). Psicologia positiva no Brasil: Uma revisão sistemática da literatura. Revista Brasileira de Terapias Cognitivas. 2012, 8 (2), pp.109-117.

Seligman, M. E. P. (2010). Felicidade autêntica: usando a nova psicologia para a realização permanente. Rio de Janeiro: Objetiva.

Seligman, M. E. P. (2012). Florescer: uma nova compreensão sobre a natureza da felicidade e do bem-estar. Rio de Janeiro: Objetiva.

Para saber mais e já sobre Psicologia Positiva:

Por Caio Ferreira

As 3 Grandes Forças em Psicologia

Psicologia? Psicanálise? Behaviorismo? Gestalt-Terapia? Perls? Skinner? Freud? Como é estruturado o saber psicológico? O que é o que?

O texto de hoje visa explanar sobre as chamadas 3 Grandes Forças em Psicologia, a fim de traçar uma organização teórica e cronológica acerca do behaviorismo, psicanálise e das linhas humanistas-existenciais.

A Psicologia enquanto ciência

Wundt e estudantes de psicologia em Leipzig

1879 é considerado o ano de nascimento da psicologia. Naturalmente que já se falava de psicologia e de temas como mente, comportamento, felicidade, sofrimento, percepção, inteligência, emoção, saúde, doença, entre outros tópicos basilares, desde a antiguidade, porém, 1879 é o ano em que W. M. Wundt (1832-1920) funda o 1º laboratório de psicologia experimental (Psychologische Institut, na Universidade de Leipzig – Alemanha). É a partir dessa data que a psicologia começa a criar um campo de conhecimento próprio, com metodologia própria e separada do saber filosófico.

Esta ciência tem de investigar os fatos da consciência, suas combinações e relações, de tal modo que possam, finalmente, descobrir as leis que governam tais relações e combinações.

(Wundt, 1912/1973, p. 1)

Os primeiros psicólogos experimentais (além de Wundt vale citar Ernst Heinrich Weber [1795-1878] e Gustav Theodor Fechner [1801-1889]) se debruçaram sobre temas como consciência, introspecção, sensação e percepção, limiares de percepção, atenção e emoções, por exemplo e utilizaram, principalmente, técnicas da chamada psicometria e psicofísica, para analisar e medir esses fenômenos.

A partir dessas investigações surgem ramificações, movimentos e escolas próprias como o estruturalismo, o funcionalismo, o behaviorismo (1ª grande força), a psicanálise (2ª grande força) e a psicologia humanista-existencial (3ª grande força). Essas correntes psicológicas são arcabouços teórico-práticos que influenciam a forma com que o psicólogo compreende e intervém sobre as questões humanas.

1ª Grande Força em Psicologia: o Behaviorismo

skinner, watson e pavlov
(Skinner, Watson e Pavlov com um cão, respectivamente)

O behaviorismo (ou comportamentalismo) nasce como uma crítica ao introspeccionismo e às teorias mentalistas (como a psicanálise), isto é, quando o indivíduo busca acessar, se conscientizar e relatar seus estados internos. Para os behavioristas, o introspeccionismo é falho e, além de fornecer informações errôneas, afasta a psicologia do seu verdadeiro objeto de estudo – o comportamento.

O problema mentalista pode ser evitado com procurarmos diretamente as causas físicas anteriores, desviando-nos dos sentimentos ou estados mentais intermediários. A maneira mais rápida de fazer isto consistem em limitarmo-nos àquilo que um dos primeiros behavioristas, Max Meyer, chamou de “a psicologia do outro”; considerar apenas aqueles fatos que podem ser objetivamente observados no comportamento de alguém em relação com a sua história ambiental prévia. Se todas as ligações são lícitas, não se perde nada por desconsiderar uma ligação supostamente imaterial.

(Skinner, 1974/2006, p. 16)

Dessa forma, essa corrente da psicologia se debruçou sobre o que pode ser observado e mensurado diretamente, isto é, o ambiente e o comportamento da pessoa, ou seja, as contingencias ambientas e comportamentais (estímulos anteriores e posteriores referentes à uma ação).

Podemos entender estímulo como “uma alteração detectável no meio em que o indivíduo está inserido” (Lombard-Platet, Watanabe & Cassetari, p. 37, 2008), o que compreende, por exemplo, alterações na luminosidade, temperatura, sons, cheiros e qualquer coisa captada pelos órgãos sensoriais. O comportamento, em um primeiro momento, tem ser uma ação observável e mensurável, isto é, o behaviorista não analisa o “sofrer” ou a “diversão”, mas pode analisar, em intensidade e frequência, o chorar, a diminuição da fala, a mudança na postura, o gritar, o sorrir, o pular, o correr…. Também falamos de comportamentos involuntários (respondentes, como alteração de pupila, sudorese, salivação, erubescer…) e voluntários (operantes, como acender a luz, pegar uma revista, andar até a padaria…). De uma forma resumida, os comportamentos involuntários são eliciados pelos estímulos antecedentes (condicionamento clássico, pavloviano ou respondente) enquanto os comportamentos voluntários são emitidos, reforçados, punidos ou extintos pelas suas consequências – o estímulo posterior (condicionamento operante). Com o avanço da corrente behaviorista passou-se a falar também dos chamados comportamentos encobertos, isto é, aqueles que não são observados diretamente por outrem (como pensar, sonhar, imaginar…). É importante dizer também que seu desenrolar/legado fez nascer a TCC – Terapia Cognitivo-Comportamental.

Autores do Behaviorismo

Os 3 principais e “clássicos” autores do behaviorismo são I. Pavlov (1849-1936), responsável pela descoberta do comportamento respondente; J. B. Watson (1878-1958), considerado o fundador da corrente, pai do behaviorismo metodológico e famoso pelo experimento do pequeno Albert; e B. F. Skinner (1904-1990), pai do behaviorismo radical, que ampliou as “Leis do Efeito” (de E. L. Thorndike) enquanto compreensão do comportamento operante, grande autor sobre processo de aprendizagem, criador da Caixa de Skinner, famoso pelos experimentos e demonstrações com ratos e pombos.

2ª Grande Força em Psicologia: a Psicanálise

consciente inconsciente id ego superego
(Representação da compreensão Freudiana sobre o aparelho psíquico humano: 1ª e 2ª tópica)

Aqui temos o papel do influente Sigmund Freud (1856-1939) e a importância da vida psíquica inconsciente, onde emergem temas como psicossomática, desenvolvimento psicossexual, neurose, histeria, mecanismos de defesa, sonhos, desejos e censuras. A psicanálise nasce na psicologia e dialoga, principalmente, com a psicologia clínica, todavia, hoje ela está para além da questão clínica, aparecendo como uma forma de estudar os aspectos dinâmicos da sociedade, economia, política e pensamento. Dessa forma, hoje temos muitos psicanalistas que não são psicólogos, mas possuem formação básica em filosofia, sociologia, medicina, letras e outras graduações. Falamos também de psicanálises, isso pois se trata de uma das linhas teórico-práticas que mais apresentam diferenças conceituais e intervencionistas de autor para autor, o costuma causar confusões naquilo que diz respeito às compreensões iniciais na temática. Mas, independente das diferenças do psicanalista em questão e como ele vai compreender aspectos do psiquismo, as psicanálises se aproximam quando compreendem um processo de conhecimento/tratamento/cura que, necessariamente e para sua efetividade, precisa passar pelo outro. Isto é, só sei de mim, pelo outro – e sobre essa questão específica, recomendo o seminário A Utopia do Autoconhecimento, veiculado no Café Filosófico, por Ricardo Goldenberg.

As psicanálises também costumam compartilhar a questão da transferência, isso é, padrões específicos relacionados às relações interpessoais passadas que direcionam a forma como a relação presente se manifesta e se estabelece – a transferência diz sobre seu portador e seu manejo pode ressignificar/resolver conflitos reprimidos. A noção da influência dos processos inconscientes também é basilar sobre o discurso do sujeito (discurso aqui, não compreende apenas a fala).

Digamos que alguém — um paciente em análise, por exemplo — nos relata um de seus sonhos. Nós supomos que desse modo ele faz uma das comunicações que se comprometeu a fazer iniciando um tratamento psicanalítico. Uma comunicação com meios inadequados, é certo, pois o sonho não é uma expressão social, um meio de entendimento. Não compreendemos o que ele quer dizer, e ele próprio não sabe o que é. Então temos que tomar rapidamente uma decisão: ou o sonho, como nos asseguram os médicos que não são psicanalistas, é um indício de que a pessoa dormiu mal, de que nem todas as partes do seu cérebro descansaram igualmente, de que alguns pontos quiseram continuar trabalhando, sob a influência de estímulos desconhecidos, e só puderam fazê-lo de modo bastante incompleto. Se assim for, será correto não nos ocuparmos mais do produto — psiquicamente sem valor — da perturbação noturna; pois o que tal pesquisa traria de útil para nossos propósitos? Ou então — percebemos que desde o início já decidimos de outra forma. Fizemos o pressuposto, adotamos o postulado — bem arbitrariamente, deve-se admitir — de que também esse sonho incompreensível teria de ser um ato psíquico inteiramente válido, de sentido e valor plenos, que podemos usar como qualquer outra comunicação na análise.

(Freud, 2010 pp. 95-96)

O clínico Freud foi influenciado, principalmente, por J.-M. Charcot (1825-1893), com quem aprendeu sobre histeria e hipnose, e J. Breuer (1942-1925) com quem estudou o método catártico (a cura pela fala). Sua obra é grande, estruturada e desenvolve o nascimento da psicanálise por meio de contato com outros saberes (biologia, física e literatura) e por meio dos processos de análise clínica e da autoanálise do próprio Freud.

Durante muito tempo, o aspecto mais conhecido e discutido da obra de Freud era o da teoria da libido, que ele elaborou inspirado nos modelos da eletrodinâmica ou da hidrodinâmica vigentes na ciência da época. Assim, o conceito de libido, que Freud concebeu como sendo a manifestação psicológica do instinto sexual, recebeu sua origem na tentativa de explicar fenômenos, tais como os da histeria, que Freud explicava como sendo resultantes do fato de que a energia sexual era impedida de expandir-se através de sua saída natural e fluía, então, para outros órgãos, ficando restringida ou contida em certos pontos e manifestando-se através de sintomas vários. Freud chegara à conclusão de que as neuroses, como a histeria, a neurose obsessiva, a neurastenia e a neurose de angústia (fobia), teriam sua causa imediata no aspecto “econômico” da energia psíquica, ou seja, num represamento quantitativo da libido sexual.

(Zimerman, 2007, p.23)

Autores da Psicanálise

Para além do próprio Freud, podemos citar a influência de nomes como J. Lacan (1901-1981), que propôs um retorno sistemático à obra de Freud e a relacionou com os saberes da antropologia, linguística e estruturalismo, além de ter desenvolvido conceitos como Real, Simbólico e Imaginário; M. Klein (1882-1960), expoente da chamada “escola inglesa de psicanálise” foi uma das primeiras psicanalistas a atender crianças e sua contribuição se dá, principalmente, na compreensão dos componentes e fenômenos associados à vida psíquica primitiva; D. Winnicott (1896-1971) que abordou o papel do ambiente-cuidador para com o desenvolvimento emocional do sujeito e trouxe, entre outros, os conceitos de criatividade primária e tendência antissocial.

3ª Grande Força em Psicologia: a Psicologia Humanista-Existencial

Como uma reação ao behaviorismo e à psicanálise, a partir da segunda metade dos anos 1950 (e ganhado maior desenvolvimento e destaque durante as duas décadas posteriores), surge a 3ª Força. Contrária a uma visão determinista do homem (seja pela questão dos condicionamentos comportamentais ou pelo determinismo do inconsciente), ela valoriza a experiência consciente e trabalha com tópicos como: livre arbítrio; autorrealização; criatividade; esperança; potencial; sentido; contato; decisão; congruência; responsabilidade; entre outros…

(Abraham Maslow)

Seu fundador é considerado A. Maslow (1908-1970), famoso por desenvolver a “pirâmide hierárquica das necessidades básicas” e quem primeiro cunhou o termo “psicologia positiva“, em uma contraposição à chamada “psicologia negativa” – tradicional e focada na doença, no transtorno, no sofrimento e em seu tratamento/cura. Dessa forma, a Psicologia Humanista incorporou a visão de homem e mundo referente aos movimentos intelectuais do humanismo, do existencialismo e da fenomenologia. Dentro dela, vamos encontrar abordagens distintas como a Gestalt-Terapia, a Abordagem Centrada na Pessoa, ou a Logoterapia, por exemplo, onde cada uma tem suas particularidades clínicas e acabam por se aproximar mais do humanismo ou do existencialismo, a depender da linha téorico-prática, mas todas fazem parte da 3ª força que, segundo Schultz & Schultz (2008), integra os seguintes pontos essenciais:

  1. uma ênfase na experiência consciente;
  2. uma crença na integralidade da natureza e da conduta do ser humano;
  3. a concentração no livre-arbítrio, na espontaneidade e no poder de criação do indivíduo;
  4. o estudo de tudo o que tenha relevância para a condição humana.

Dentre as abordagens clínicas dessa corrente psicológica, aquela que mais me identifico e acabei por estudar é a Gestalt-Terapia (não confundir com Psicologia da Gestalt). Essa abordagem é sempre uma terapia do contato e seu manejo é pautado no aqui-agora, sendo que a relação terapeuta-paciente funciona do ponto de vista dialógico, onde o terapeuta confronta e frustra o paciente que tenta se esquivar ou fugir do seu contato e experiência com o presente. A fenomenologia pauta o setting clínico e, desta forma, a interpretação não é adequada, mas sim a descrição. A farsa, as atuações e as incongruências não se sustentam na Gestalt-Terapia, uma vez que são valorizadas e validadas as experiências mais espontâneas e verdadeiras de alguém.

Gestalt-terapia é uma das forças rebeldes, humanistas e existenciais da psicologia, que procura resistir à avalanche de forças autodestrutivas, autoderrotistas, existentes entre alguns membros de nossa sociedade. Ela é “existencial” num sentido amplo. […] Nosso objetivo como terapeutas é ampliar o potencial humano através do processo de integração. Nós fazemos isto apoiando os interesses, desejos e necessidades genuínas do indivíduo.

(Perls, 1977, p.19)

A Gestalt-Terapia deve ser experimentada para melhor compreensão – ela não se basta enquanto teoria. Caso tenha curiosidade em saber como é uma sessão com abordagem gestáltica, recomendamos que participe de uma 😉 E recomendamos também que assista um, das várias sessões gravadas, com F. Perls – pai da GT. (após esse vídeo, colocamos também um atendimento de Carl Rogers, com a mesma mulher, para finalidades didáticas e comparativas).

Autores da Psicologia Humanista-Existencial

Como já foi dito antes, há abordagens mais humanistas e outras mais existenciais. C. Roger (1902-1987) pai da Abordagem Centrada na Pessoa e dos Grupos de Encontro, estudou sobre o crescimento pessoal, as relações interpessoais e os processos experienciais; F. Perls (1893-1970) ex-psicanalista, pai da Gestalt-Terapia, contribuiu naquilo que diz respeito à visão holística sobre o indivíduo, sobre o papel do terapeuta na conscientização das incongruências, bem como sobre as dificuldades da pessoa em experienciar e desfrutar do presente. V. Frankl (1905-1997), pai da Logoterapia, tem uma abordagem mais existencialista que se relaciona com a temática do sentido da vida – que começou a ser desenvolvida quando esse foi prisioneiro em um campo de concentração nazista.

Referências

Freud, S. (2010). O mal-estar na civilização, novas conferências introdutórias à psicanálise e outros textos (1930-1936). São Paulo: Companhia das Letras.

Lombard-Platet, V. L. V.; Watanabe, O. M. & Cassetari, L. (2008). Psicologia experimental: Manual teórico e prático de análise do comportamento. São Paulo: Edicon.

Schultz, D. P. & Schultz, S. E. (2008). História da psicologia moderna. São Paulo: Cengage Learning.

Skinner, B. F. (1974/2006). Sobre o behaviorismo. São Paulo: Cultrix

Stevens, J. O. (Perls, F. et al.) (1977). Isto é Gestalt. São Paulo. Summus.

Wundt, W. (1912/1973). An introduction to psychology. Translation R. Pintner. London: George Allen & Company, Ltd.

Zimerman, D. E. (2007). Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica: uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed.

Por Caio Ferreira