O Ensino de Lacan

Primeira e Segunda Clínica Lacaniana

Jacques Lacan (1901 – 1981) foi um psicanalista francês, considerado um dos pós-freudianos.

Propôs durante seu exercício da Psicanálise, um retorno à Freud. Ele entendia que os analistas da época haviam se distanciado por demais da criação freudiana.

Seu ensino pode ser dividido entre Escritos e Seminários, os primeiros sendo coletâneas de textos escritos durante sua carreira. Já os Seminários foram aulas abertas, primeiro no Hospital Sainte-Anne, e depois na Ecole Normale Supérieure, que foram transcritos posteriormente por seus alunos.

O responsável pela obra lacaniana é Jacques Alain-Miller (1944 – ), genro de Lacan, e presidente da Associação Internacional de Psicanálise.

A Clínica do Simbólico

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(Imagem retirada da Internet)

Pode-se dividir também de forma cronológica a produção de Lacan. De 1953 a 1963, época do seminário XI, intitulado “Os quatro conceitos fundamentais da Psicanálise”, pensamos em Clínica do Simbólico. Momento onde Lacan dialogou com a teoria estrutural de Levi-Strauss, e com a Linguística de Saussure. Nesse período acentua-se o retorno à teorização freudiana.

Na clínica freudiana a ideia era acessar conteúdos, ou afetos reprimidos para o inconsciente, e com isso, o sofrimento do sujeito diminuiria. Trazer à luz do consciente o material reprimido. Como se fazia isso? Traduzindo sinais emergentes de algo do inconsciente, como sonhos, atos-falho e chistes, por exemplo (Freud, 1910/2013).

Lacan se apoiou nessas concepções, aliando-as à Linguística, falou no sujeito enquanto “sujeito de linguagem”. Aqui a primazia era dada ao sentido que era dado ao próprio sofrimento, “Certamente, a análise como ciência é sempre uma ciência do particular” (Lacan, 1953-54/1986).

No começo de sua empreitada, chamada de “Retorno à Freud”, Lacan se criticou a postura dos analistas da época (em particular a escola inglesa), que, segunda Lacan, estavam se distanciando por demais da origem, e virulência da Psicanálise. Realizava-se a chamada “maternagem”, onde o analista “digeria” os conteúdos traumáticos do paciente, buscando assim, vencer as resistências do processo analítico.

Ainda na década de 50, Lacan mudou a noção de tratamento para “experiência psicanalítica, desvirtuando o caráter médico, presente na análise. Trata-se de uma demanda do próprio sujeito, e não de uma recomendação feita à um paciente.

Neste momento, a proposta lacaniana seguia a noção freudiana de análise pela clave do Édipo. As leituras que se faziam das relações eram baseados em triângulos. Pai – Mãe – Filho.

Aqui pensamos nas famosas estruturas clínicas. O tratamento era baseado no diagnóstico estrutural, realizado pelo analista nas entrevistas preliminares. Ele é neurótico, psicótico, talvez perverso?

Essas concepções encontram algumas barreiras as aplicarmos à clínica do século XXI. Não conseguimos ler algumas formações sintomáticas, que se apresentam atualmente na clínica.

A Clínica do Real

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(Imagem retirada da Internet)

As relações mudaram, logo, a forma como exercemos a Psicanálise deve mudar. Assim pensava Lacan, já nos anos 70.

Neste período, conhecido como Clínica do Real, o psicanalista francês se afastou da Linguística e do Estruturalismo, e iniciou um diálogo com a Lógica.

Lacan se utilizava de formações topológicas para explicar conceitos psicanalíticos. Uma delas é o nó-borromeano, uma forma de representar as três instâncias da experiência humana: Real, Simbólico e Imaginário.

Mas de quê isto nos serve aqui? Esse “enodamento” deve ser avaliado, pois implica na direção que a análise irá seguir. Na primeira clínica, geralmente, saía do Imaginário rumo ao Simbólico, isto é, tentávamos “desinflar” as fantasias do sujeito pela linguagem, pelo sentido do sofrimento, pelas palavras. Já na segunda clínica, rumamos para o Real, para o reino onde não há palavras. Levamos o sujeito à compreensão de que não há compreensão. Como diz Forbes (2014), as melhores coisas da vida a gente vive sem entender.

Hoje em dia, na clínica, o que buscamos é implicar o sujeito em seu próprio desejo e em seu próprio sofrimento. Não mais explicamos as formações sintomáticas do sujeito. Não que se recuse-as, muito pelo contrário. O que escutamos na análise são justamente as manifestações do inconsciente: sonhos, chistes, atos-falhos e sintomas.

Passamos no momento atual da clínica de um “Freud explica”, para um “Lacan implica”. A surpresa é tida como técnica. Sempre a sessão é dirigida para onde o sujeito não espera.

Me parece importante concluir, recordando, que todo desenvolvimento teórico da Psicanálise só se dá ao passo que implica na atuação clínica.

Como já dizia uma velha amiga: A Clínica é soberana. E sempre será.

Até a próxima.

Por Igor Banin

Referências Bibliográficas

Forbes, J. (2014) A análise lacaniana hoje: ingredientes, indicações e modo de usar. In Psicanálise – A clínica do Real (pp. 3-20). Barueri: Manole.

Freud, S. (1910/2013). Cinco Lições de Psicanálises In Observações sobre um caso de Neurose Obsessiva. (pp. 220-286, Obras completas de Sigmund Freud, v.9). São Paulo: Companhia das Letras.

Lacan, J. (1953-1954/1986) Primeiras Intervenções sobre a questão da resistência. In Os escritos técnicos de Freud. (pp. 29-39, Os Seminários, Livro I). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

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