“Parece que todo mundo resolveu fazer psicologia!”
Recentemente ouvi a frase acima no metrô e me peguei refletindo sobre. Mais curioso do que o sentimento popular expressado através da frase, é o dado de que psicologia se tornou o segundo curso mais concorrido na Fuvest de 2016, ultrapassando cursos como Medicina (São Paulo) e Direito. A área também cresceu em número de inscritos de 3 para 4 mil entre 2012 e 2016 na Unesp.
Naturalmente, há um crescente interesse das gerações Y e Z em um curso praticamente ignorado por uma considerável parte das gerações anteriores. Se isso se deve aos mais altos índices de ansiedade e depressão que a Organização Mundial da Saúde já detectou é Outra discussão, pois devemos ser cautelosos em apontar os motivos. Até porque a própria fundação do Conselho Federal de Psicologia (CFP) se deu em 20 de dezembro de 1973, o que mostra que nossa cultura ainda está se adaptando à profissão. Inclusive a instalação dos sete primeiros Conselhos Regionais de Psicologia (CRP’s) só se deu em 27 de agosto de 1974, exatos 12 anos após a homologação da a Lei 4.119 que, no mesmo 27 de agosto de 1962, regulamenta oficialmente a psicologia como uma profissão no Brasil. Neste dia, por sinal, é também comemorado anualmente o Dia do Psicólogo.
As Pesquisas
Em 1988 o Conselho Federal de Psicologia lança o livro: “Quem é o Psicólogo Brasileiro?” (clique aqui para ler o arquivo em .PDF) contando com o comparativo da profissão com outras categorias de nível superior.
Também houve, em 2016, uma parceria entre o Conselho Federal de Psicologia (CFP) e o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) para elaboração do relatório: “Levantamento de informações sobre a inserção dos psicólogos no mercado de trabalho brasileiro” (disponível em .PDF para leitura através deste link), que utilizou, inclusive, dados próprio Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para mapear como está o psicólogo nos dias de hoje.
Este artigo visa escolher uma área específica das pesquisas acima: quanto ganhava e quanto ganha um psicólogo? Será que vale a pena ser psicólogo no Brasil? Afinal: será mesmo necessário ter algo “para se manter” antes de cursar psicologia? De bônus haverá alguns dados sobre os perfis traçados a respeito da “cara” das (os) psicólogas (os) no Brasil. Além dos dados da pesquisa, algumas informações poderão advir da própria experiência individual de quem vive exclusivamente da profissão.
“Psicologia não dá dinheiro!”
Se você é ou pretende ser psicólogo ou estudante de psicologia, provavelmente já ouviu essa frase em algum lugar. Mas será que é verdade? De onde será que ela surgiu?
Talvez ela tivesse uma certa base estabelecida lá em 1988, um ano em que provavelmente os pais e/ou avós dos que hoje são ou pretendem ser estudantes de psicologia, teriam idade semelhante a estes. Naquela época havia um dado preocupante a respeito da profissão. Por exemplo:
Dos 102.862 psicólogos graduados pelo MEC em 1985, apenas 53.338 estavam inscritos nos Conselhos Regionais de Psicologia. O que poderia indicar uma dificuldade ou desinteresse em atuar profissionalmente na área — coisa só permitida a quem estiver devidamente inscrito nos Conselhos.
(Conselho Federal de Psicologia, 1988)
Foi aí que uma informação importante se mostrou na pesquisa:
35.4% dos entrevistados diziam buscar a psicologia com um interesse mais genérico, como área do conhecimento, para autoconhecimento ou para ajudar as pessoas.
Fora que:
-
Menos de 60% dos profissionais atuavam exclusivamente na profissão. Ou seja: mais da metade ainda precisava conciliar a psicologia com outro emprego.
-
25,6% dos psicólogos em São Paulo e 18,6% no Rio de Janeiro um estavam desempregados ou trabalhando fora da área da psicologia.
-
22.3% dos profissionais não obtinham rendimento na psicologia (26.5% destes em São Paulo, 22.9% no RJ e 25% em PE)
(Conselho Federal de Psicologia, 1988)
Então talvez agora seja mais fácil entendermos de onde vem a fala de que “Psicologia não dá dinheiro”. Ela tem certo fundamento em suas raízes, já que se trata de uma profissão relativamente nova e parecia haver uma dificuldade de inserção no mercado.
Mas será que quem já estava na área ganhava o suficiente?
Quanto ganhava um Psicólogo?
Obteve-se um dado um pouco mais genérico a média salarial (excluindo o grupo que não tem rendimento). O rendimento mensal médio de psicólogos era de 10.21 salários mínimos, sendo maior São Paulo (13.2), Brasília (10.84) e Bahia (10.45).
No nordeste (7.04) e no Paraná (7.35) encontramos as remunerações mais baixas da classe. Considerando os níveis salariais de outras categorias de profissionais com nível superior, viu-se que à época o salário médio da psicologia se equiparava ao inicial de profissões mais tradicionais (como por exemplo, Engenharia, Direito, Administração etc).
Mas falávamos de um momento onde muito menos gente tinha acesso ao Ensino Superior, onde este tipo de qualificação ainda garantia um alto nível de destaque no mercado de trabalho.
Alguns dados da pesquisa sobre como era o mercado de trabalho à época:
- 43,4% dos psicólogos atuavam na área clínica
- 18,8% atuavam na área organizacional
- 14,3% na área escolar
- 11,5% na docência
E 73% dos profissionais entrevistados se dedicavam, exclusivamente, a uma área (39,3% na área clínica).
(Conselho Federal de Psicologia, 1988)
E o que mudou? Quem são os (as) Psicólogos hoje e quanto eles (as) ganham?
Sei que já falei bastante. Mas antes de prosseguirmos aos valores explícitos dos ganhos, precisamos de alguns dados para sabermos quem de fato são os (ou seriam “as”?) psicólogos (as) do Brasil atualmente.
Hoje o CFP contabiliza aproximadamente 360.000 profissionais no Brasil, sendo 146 mil devidamente empregados, destes:
- 90% são mulheres (destas: 94% dos profissionais com carteira assinada, 90% dos que são autônomos e 86,9% dos empregadores);
- 83,5% não negras;
- 16,5% negras
- 53,2% vive com um (a) cônjuge ou companheiro (a);
- 26,1% não vive nem nunca viveu;
- 20,7% não vive, mas já viveu antes.
Sabendo de alguns destes dados, fica mais fácil visualizar um dado da pesquisa que apontou que: o Rendimento Médio ficou em R$ 10.795 mensais. Algo em torno de 10 salários mínimos.
(Dieese e CFP, 2016)
Ainda é preciso conciliar a psicologia com outra profissão?
Em minha opinião: talvez não seja mais necessário. Um dado interessante é que 83,6% (aproximadamente 123 mil profissionais) têm apenas um trabalho, enquanto 13,9% (aproximadamente 20 mil) têm um trabalho adicional, ou seja: tem uma outra profissão que não seja a partir da psicologia.
E talvez isso mostre que houve algum crescimento no mercado de trabalho da área. Principalmente no Setor Público, já que 18% dos profissionais da área hoje trabalham na Administração Pública, o que era praticamente inexistente àquela época. Ou seja: podemos imaginar que há um maior reconhecimento da profissão pelo próprio Estado, que cada vez mais foi abrindo vagas na área para Concursos Públicos.
E não podemos esquecer que dos outros 74,8% que atuam nas áreas da educação, saúde e serviços sociais, deve também haver um número considerável de funcionários públicos. (Dieese e CFP, 2016)
Tá, Caio, mas quanto ganha um (a) Psicólogo (a)?!
Ok, chegou a hora do veredito. De acordo com a pesquisa:
Na média, os psicólogos no Brasil recebem, mensalmente, R$ 3.412. Sendo a região Sul (R$ 3.774) a melhor remunerada, seguida do Sudeste (R$ 3.497); enquanto o Nordeste (R$ 2.487) fica lá atrás.
(Dieese e CFP, 2016).
Os psicólogos que trabalham “por conta própria”, ganham, em média R$ 3.772 mensais, enquanto os funcionários públicos levam o segundo lugar com R$ 3.246 mensalmente. Os profissionais com carteira assinada (R$ 3.214) e sem carteira assinada (R$ 2.452) ficam mais atrás. (Dieese e CFP, 2016).
De acordo com o site glassdoor.com.br (antigo Love Mondays), o salário médio de um psicólogo em São Paulo é de R$3.570, mas esta análise foi feita apenas com o envio de 203 salários ao portal (link aqui). Se for autônomo, trabalhando sozinho, ganha em média R$ 4.473 mensais.
Já para o site salario.com.br (com informações do Ministério do Trabalho), em São Paulo-SP um psicólogo clínico ganharia em média R$ 3.990,30 por mês. No Rio de Janeiro-RJ, em média R$ 3.057,19. Sendo o profissional recém-formado o que menos receberia nos grandes centros: a partir de R$ 2.705,91.
Quanto de dinheiro dá um consultório?
Apesar de ser uma profissão que visa o cuidado e a atenção da saúde mental, os cinco anos de estudo, as constantes atualizações e o trabalho que o profissional leva para casa (revisando casos, estudando e articulando teoricamente os relatos) e alguns gastos inerente à clínica (pagar por supervisão, grupo de estudos, pós, extensão e terapia — para não deixar suas questões pessoais atrapalhar no discernimento), o dinheiro faz — e muito — parte da profissão.
É importante ressaltar que o profissional que é ético e sério jamais enxergará o tratamento como uma mera questão financeira, apesar de se tratar de seu ganha-pão; muito menos irá “segurar” um paciente por conta do valor envolvido em sua análise ou terapia. Assim como muitas profissões, há na psicologia um Código de Ética que é seguido rigorosamente, junto a um Juramento feito na Colação de Grau.Quaisquer flagrantes de não cumprimento de tais premissas podem e devem ser devidamente denunciados aos órgãos reguladores (CFP e CRP).
Em números, quanto um consultório pode render?
Vamos lá: Se um psicólogo cobrar 160 reais por sessão, média inferior da tabela de honorários do CFP (disponível clicando aqui), e realizar 1 (uma) sessão por semana, cada cliente (ou paciente) lhe trará, mensalmente, R$ 640 reais de faturamento. Havendo 10 clientes no consultório do profissional, o faturamento passará a ser R$ 6.400,00 mensais (com gastos como aluguel de consultório, água, luz, condomínio à parte) trabalhando 10 horas semanais, sendo o dobro para 20 horas e assim por diante, podendo o profissional estabelecer seu próprio valor como maior ou menor. Vale ressaltar que há também os gastos de sua análise pessoal e supervisão além dos gastos em geral
É sabido que não é tão simples ou fácil obter uma grade significativa de clientes no começo da profissão, muito menos manter uma linha fixa de rendimentos, já que pacientes vêm e vão. Mas se levarmos o tempo médio de 5 (cinco) anos — o que um profissional costuma levar para se estabelecer no mercado de outras áreas de atuação, o profissional da psicologia que aprender a administrar bem seu consultório deverá ter uma média de ganhos fixos agradáveis à nossa realidade brasileira. Mas é claro que isso se dará a partir de Networking, Marketing e Atualização do profissional através de estudos, participações em eventos e cursos livres ou não. É uma profissão de desenvolvimento profissional e científico constantes. Principalmente com a tecnologia, podendo hoje o profissional atender de qualquer lugar do mundo à distância.
Mas aos profissionais que não se adequam à categoria autônoma, há ainda um número grande de vagas em concurso (em áreas como educação, saúde, trânsito, organizacional e institucional, jurídico-forense, etc) e em empresas privadas.
Espero ter ajudado. Qualquer dúvida, deixe seu comentário.
Por Caio Cesar Rodrigues de Araujo
REFERÊNCIAS:
3 comentários
Daniela Sanchez · 11 de fevereiro de 2020 às 10:35
Muito interessante o texto, obrigada por isso 🙂
Conheça 3 Benefícios Psicológicos da Vacinação em Massa | Sociedade dos Psicólogos · 26 de janeiro de 2021 às 00:19
[…] das frases que eu mais escutei no consultório durante o ano de 2020 foi: “Eu não aguento mais essa Pandemia“, “Parece que isso […]
Como é a primeira consulta com um psicólogo? | Sociedade dos Psicólogos · 22 de outubro de 2021 às 16:46
[…] como Onde, Quando e Como Procurar Terapia? ou até está com alguma curiosidade sobre Quanto Ganha um Psicólogo no Brasil? ou mesmo procura Atendimento Psicológico é só clicar nos links […]