Uma das influentes teorias sobre o desenvolvimento moral foi apresentada por Lawrence Kohlberg, um psicólogo estadunidense que viveu entre 1927 e 1987, e relacionou o desenvolvimento moral ao desenvolvimento cognitivo da pessoa.
Ele apontou que por meio de um processo maturacional e interativo, todas as pessoas têm a capacidade de chegar à plena competência moral. Em seu estudo principal, entrevistou 72 garotos de 10, 13 e 16 anos dos arredores de Chicago. Apresentava-lhes uma série de dilemas morais e esses o explicavam como chegavam às soluções, sendo que chegou a acompanhar alguns dos sujeitos por cerca de 20 anos.
O Dilema de Heinz
Um desses dilemas ficou conhecido como o dilema de Heinz e abordava a seguinte situação:
Heinz, um homem pobre, tem sua esposa gravemente doente. Os médicos acreditam que um medicamento caro pode salvá-la. No entanto, o químico local que descobriu o medicamento está cobrando um preço dez vezes maior do que Heinz pode pagar. Mesmo com ajuda da família e amigos, Heinz só consegue levantar metade do dinheiro necessário. Desesperado para salvar sua esposa, ele invade a farmácia e rouba o medicamento.
Kohlberg então fazia as seguintes perguntas para determinar o estágio de desenvolvimento moral:
1) Heinz deveria ter roubado o medicamento?
2) Mudaria alguma coisa se Heinz não amasse sua esposa?
3) E se a pessoa em risco de morte fosse um estranho, faria alguma diferença?
Embora compartilhasse a ênfase nas estruturas cognitivas, assim como Jean Piaget, a teoria moral de Kholberg difere pois esse acreditava na universalidade dos princípios morais. Dessa forma, sua visão de desenvolvimento moral também compreende considerações teóricas e filosóficas (como o imperativo categórico de Immanuel Kant) e dilemas morais propostos sob a forma de pequenas estórias. (Biaggio, 1991).
Sua teoria apresenta 3 níveis de moralidade, cada um com 2 sub estágios.
Nível 1 (Pré-Convencional ou Pré-Moral)
O nível 1 é o “Pré-Convencional” (de 2 a 6 anos, aproximadamente) e o 1º estágio é “Obediência e Punição”. Aqui o comportamento é orientado para evitar a punição e são as consequências das ações que determinam o que é certo e errado. A motivação envolve a fuga do castigo e o respeito, inquestionável, à autoridade. É a consequência física da ação que influencia o julgamento moral dessas ações.
O 2º estágio é “Hedonismo Instrumental Relativista”, onde o raciocínio moral é egocêntrico e o indivíduo segue as normas pensando em interesses próprios. A reciprocidade pode ser empregada como uma “moeda de troca”, mas não como instrumento de lealdade, gratidão ou justiça. Se uma ação satisfaz uma necessidade, ela é considerada moralmente correta
Nível 2 (Convencional)
O NÍVEL 2 é o “Convencional” (idade escolar) e o 3º estágio é o das “Relações Interpessoais/Moralidade do Bom Garoto”. Aqui o correto é aquilo pautado nas convenções e regras sociais determinadas por pessoas de autoridade, sendo que o que importa é “ser o bom menino/boa menina” para corresponder às expectativas morais dos outros. O direcionamento envolve manter as expectativas da família, grupo ou sociedade, sem levar em conta outras consequências e responsabilidades imediatas.
O 4º estágio é a “Orientação Para a Lei e Ordem / Autoridade Mantém a Moralidade”. Nesse momento, os deveres, a manutenção da ordem social e da lei orientam a moralidade. Está além da necessidade de aprovação individual exibida no estágio 3. Envolve cumprir o dever, manter a ordem e demonstrar respeito à autoridade.
Nível 3 (Pós-Convencional)
O NÍVEL 3 é o “Pós-Convencional” (adolescência), e o 5º estágio é de “Contrato Social”, onde o indivíduo determina o certo e o errado, com base em parâmetros sociais democraticamente pré-estabelecidos. As leis são consideradas como contratos sociais em vez de um mandamento rígido.
O 6º estágio é de “Princípios Éticos Universais”. Aqui a pessoa transcende sociedades e leis para buscar princípios de igualdade e dignidade, com uma ética válida para todos. Os valores morais e princípios são definidos com base em uma consciência individual que considera validade e aplicação, independente da autoridade. Também envolve princípios universais, como justiça, reciprocidade, igualdade, direitos humanos, e respeito pela dignidade do ser humano. Segundo Kohlberg, poucas pessoas atingem esse estágio.
Referências
Bataglia, P. U. R.; Morais, A; & Lepre, R. M. (2010). A teoria de Kohlberg sobre o desenvolvimento do raciocínio moral e os instrumentos de avaliação de juízo e competência moral em uso no Brasil. Estudos de Psicologia; 15(1); 25-32.
Biaggio, A. M. B.. (1991). Psicologia do Desenvolvimento. Petrópolis: Vozes.
Espíndola, M. Z. B. L. & Lyra, V. B. (2005). O desenvolvimento moral em Lawrence Kohlberg: uma revisão. Humanidades em Foco, 6:3.
Ravella, G. J. R. (2010). O pensamento moral em jovens: o juízo moral em Lawrence Kohlberg. [dissertação de mestrado]. Coimbra: Universidade de Coimbra.
Por Caio Ferreira
6 comentários
Odeth · 27 de janeiro de 2022 às 12:31
Muito obrigada
Ajudou-me muito.
Kilandi filipe david · 27 de janeiro de 2022 às 16:28
gostei muito dos conteúdo
Kilandi
José Malenga Chimuco · 24 de março de 2022 às 16:02
Gostei da matéria
José Kamungono J · 23 de março de 2023 às 02:57
Gostei da matéria
Judas Gotine · 16 de abril de 2023 às 15:20
Foi tão interessante ajudou nos bastante
Saiba Oque é desenvolvimento cognitivo - Desenvolvimento Cognitivo · 17 de abril de 2021 às 18:18
[…] hipóteses originais neste espaço (por exemplo, a hipótese de Piaget e a hipótese de Kohlberg) utilizaram um ponto de vista direto do palco para retratar a virada intelectual dos eventos. Essas […]