O Que São Mecanismos de Defesa do Eu

(Figura 1 – Imagem CC)

Primeiramente, há defesa, quando há ameaça. Falaremos hoje sobre os chamados “mecanismos de defesa do Eu” (ou “mecanismos de defesa do Ego” – a depender da tradução).

Trata-se de um conceito desenvolvido por Sigmund Freud, que é incontornável quando se analisa algo por meio da ótica psicanalítica – a defesa sempre emerge e revela muito sobre seu portador.

Visão geral da psicanálise

Freud apresentou uma teoria de compreensão e tratamento do aparelho mental que é caracterizada, em resumo, por ser topográfica, dinâmica e econômica, isto é:

  • referente à 1ª tópica e as instâncias mentais consciente, pré-consciente e inconsciente;
  • à 2ª tópica e as relações entre Isso, Eu e Supereu (ou Id, Ego e Superego – a depender da tradução);
  • e à quantidade de catéxis libidinal investida sobre um objeto.

Ele partiu de uma visão evolucionista e relacionou o homem aos outros animais, diferenciando a pulsão (relativa ao homem) do instinto (relativa aos outros animais), sendo que, ambos dialogam com necessidades biológicas e desejos básicos para a manutenção e continuidade da vida, entretanto, a pulsão guarda relação com o chamado “representante psíquico” que atua na dialética entre o desejo e o objeto final (visado pela pulsão) – a energia motriz desse movimento é a libido. Freud também fala de homeostase e apresenta o seu valor nesta dinâmica. Para quem não conhece o termo, homeostase (ou homeostasia) é a tendência ao equilíbrio / à estabilidade que um organismo necessita para desempenhar, de forma adequada, suas funções (substâncias químicas em concentrações ideais, temperatura, pressão etc…)

Isso Eu Supereu consciente inconsciente
Figura 2 – A principal metáfora ilustrativa sobre sobre as porções consciente e inconsciente da psique – o iceberg – (imagem encontrada na internet).

Pois bem, onde entram as defesas?

Nem todos os desejos são satisfeitos e nem sempre a homeostase é constante. Quanto há perturbações no equilíbrio psíquico há defesas. Defesas essas que podem aparecer frente à realidade externa e à realidade interna – funcionam como um intermediador entre a realidade e aquilo que é percebido.

“A percepção de um acontecimento, do mundo externo ou do mundo interno, pode ser algo muito constrangedor, doloroso, desorganizador. Para evitar este desprazer, a pessoa “deforma” ou suprime a realidade — deixa de registrar percepções externas, afasta determinados conteúdos psíquicos, interfere no pensamento.”

(Bock; Furtado & Teixeira, 1999/2001, p. 78)

Freud chamou essa “deformação” de mecanismos de defesa e os alocou como uma função do Eu (do Ego). Em resumo, o papel do Eu é mediar as demandas entre o Isso (relacionas à satisfação imediata do desejo) e o Supereu (relacionadas à censura/proibição/castração, à moralidade e a busca de um ideal). É o Eu que protege toda a personalidade contra uma ameaça, contra uma falha, contra uma falta – ele visa a integridade.

Conteúdos bizarros excluídos do consciente: a repressão

algo bizarro
(Figura 3 – Imagem CC)

Estudando as histéricas, Freud observou que muitas memórias afetivas externalizadas durante o tratamento psicanalítico haviam sido reprimidas (ou recalcadas – a depender da tradução) até então, isto é, não é que elas haviam sido meramente esquecidas, mas, por guardarem relação com temas inaceitáveis perturbadores e particulares para cada paciente (e sua inserção sócio-cultural), elas haviam sido, de forma intencional e inconsciente afastadas da consciência e realocadas para onde a pessoa não tem contato, equilibrando assim, por meio de uma defesa psíquica, a homeostase do sujeito – uma vez que o contato e a percepção do tema é conflituosa, impede-se o processo e neutraliza-se a ameaça.

De uma forma geral, os principais temas associados ao mecanismo de repressão costumam ser sobre:

  • Medos;
  • Experiências constrangedoras;
  • Necessidades egoístas;
  • Motivações violentas;
  • Desejos imorais;
  • Desejos sexuais inaceitáveis.

Discorrendo acerca de suas descobertas envolvendo a repressão (ou recalque – a depender da tradução), certa vez Freud escreveu:

“Tratava-se em todos os casos do aparecimento de um desejo violento mas em contraste com os demais desejos do indivíduo e incompatível com as aspirações morais e estéticas da própria personalidade. Produzia-se um rápido conflito e o desfecho desta luta interna era sucumbir à repressão a idéia que aparecia na consciência trazendo em si o desejo inconciliável, sendo a mesma expulsa da consciência e esquecida, juntamente com as respectivas lembranças”.

(Freud, 1970, p. 16)

Nesta mesma obra, que foi originalmente proferida por meio de 5 conferências na Clark University, Massachusetts, em 1909, Freud faz uma comparação didática da repressão para com o auditório que estava:

“Talvez possa ilustrar o processo de repressão e a necessária relação deste com a resistência, mediante uma comparação grosseira, tirada de nossa própria situação neste recinto. Imaginem que nesta sala e neste auditório, cujo silêncio e cuja atenção eu não saberia louvar suficientemente, se acha no entanto um indivíduo comportando-se de modo inconveniente, perturbando-nos com risotas, conversas e batidas de pé, desviando-me a atenção de minha incumbência. Declaro não poder continuar assim a exposição; diante disso alguns homens vigorosos dentre os presentes se levantam, e após ligeira luta põem o indivíduo fora da porta. Ele está agora `reprimido’ e posso continuar minha exposição”.

(Freud, 1970, p. 17)

O pai da psicanálise observou e falou, ao longo de sua obra, de vários mecanismos de defesa que fazem parte da dinâmica relacional na vida pessoas, como: repressão, projeção, regressão, identificação, negação, descolamento, conversão, entre outros… autores posteriores, como M. Klein e a própria filha A. Freud, contribuíram de forma significativa para a elaboração dessas e de outras defesas – defesas essas que fazem parte do “funcionamento normal” do indivíduo ou das possibilidades de atuação frente às frustrações da realidade; e defesas essas que revelam o sintoma – a verdade emergente da personalidade e dos desejos do sujeito neurótico em sua relação conflituosa com a falta.

Diz me como te defendes e te direi quem és!

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Referências consultadas

Bock, A. M. B.; Furtado, O. & Teixeira, M. L. T. (2001). Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva.

Fadiman, J. & Frager, R. (1986). Teorias da personalidade. São Paulo: HARBRA.

Freud, S. (1970) . Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos: Vol. XI: 1910[1909]. Rio de Janeiro: Imago.

por Caio Ferreira

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