Ansiedade: quando nossas emoções e pensamentos nos levam ao extremo

Com tantas transformações e avanços tecnológicos no mundo, você já parou para se perguntar o quanto precisou mudar em si para se adaptar ao novo?

ansiedade

Já pensou em todos os reflexos que essa pandemia irá deixar em sua vida num mundo pós COVID-19? O quanto sua vida, e saúde mental, foram impactadas por todas essas mudanças?

Não é de hoje que o mundo vem se transformando de forma acelerada e que somos constantemente bombardeados com novidades e informações. A cada segundo algo acontece no mundo e em questão de minutos, o acontecimento vira notícia. Em contrapartida, como telespectadores, nos sentimos na obrigação de estar a todo tempo conectados e, assim,
acompanhar o maior número de movimentos possíveis, um caminho fértil para alimentar as diversas ansiedades e frustrações e, contribuir para um desequilíbrio emocional.

Eventos imprevisíveis e coisas que fogem de nosso controle afligem muitas pessoas e talvez seja um fenômeno que veio para ficar. A realidade é que vivemos na Era da Informação, onde o conhecimento se tornou uma das maiores vantagens competitivas, as mudanças acontecem a todo instante e o sentimento de ambiguidade já faz parte do nosso dia a dia. É um cenário de muitas perguntas e poucas respostas e, junto a isso, as emoções afloram, nos lembrando que somos seres humanos, estamos vivos e não conseguiremos ter controle absoluto de tudo que nos cerca. Identificar essa vulnerabilidade pode ser o primeiro passo para desenvolver maior confiança e segurança em si, fatores que contribuem para administrar, também, a ansiedade.

Segundo pesquisa da IPSO , quatro em cada dez brasileiros têm sofrido de ansiedade como consequência do surto do novo coronavírus. As mulheres são as mais afetadas. Enquanto 49% afirma se sentir mais ansiosa, 33% dos homens estão lidando com os sintomas no momento.
Os dados fazem parte de uma pesquisa semanal, chamada Tracking the Coronavírus. Os resultados deixam o Brasil em primeiro lugar entre as nações ansiosas, seguido pelo México e Rússia. Se antes o brasileiro já era ansioso, e tinha suas diversas preocupações, as mudanças exigidas pelo novo vírus trazem ainda mais cuidados e precauções. Uso da máscara,
higienização, distanciamento social, excesso de atividades e papéis na vida diária, alteração de jornada e/ou regime de empresa e até mesmo o desemprego.

O contexto por si só oferece uma série de possibilidades e sintomas característicos de ansiedade e outros transtornos, como, por exemplo a depressão e o estresse. Por isso, atenção a algumas perguntas e sinais sobre o tema.

O que diferencia a ansiedade normal da patológica?
Segundo o especialista Dr. Márcio Bernik, em entrevista concedida ao canal do médico Drauzio Varella, as manifestações físicas ou mesmo as vivências emocionais da ansiedade patológica são as mesmas para todos, até mesmo naqueles que não têm o transtorno. A diferença é no grau de prejuízo funcional na vida e atividades cotidianas do indivíduo, como incapacidade em algumas tarefas antes realizadas normalmente e/ou sofrimento excessivo.

Quais os sintomas do distúrbio de ansiedade?
Segundo o manual de classificação de doenças mentais (DSM.IV), a ansiedade é um distúrbio caracterizado pela “preocupação excessiva ou expectativa apreensiva”, persistente e de difícil controle, que perdura por seis meses, no mínimo, e vem acompanhado por três ou mais dos
seguintes sintomas: inquietação, fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, tensão muscular e perturbação do sono. Além disso, nesses casos, o nível de ansiedade é desproporcional ao acontecimentos gerados pelo transtorno, causando excessivo sofrimento e interferindo nas funcionalidades cotidianas do indivíduo.

Acho que posso sofrer de transtorno de ansiedade. O que devo fazer?
Uma vez identificado os sintomas, busque informação e ajuda profissional. Seus sintomas podem ser identificados para verificar a compatibilidade com aqueles presentes nos transtornos de ansiedade.

Recomendações:

Como todo ser humano, precisamos de tempo para digerir as transformações que acontecem em nossas vidas e, ao mesmo tempo, fazermos nossa própria gestão da mudança. Esse tempo será particular para cada um e algumas recomendações podem auxiliar. 

  • Numa sociedade cada vez mais conectada virtualmente e, com um excesso de informações em circulação, busque um período para se desconectar e cuidar de si. Se ao tentar, por vezes, você identificar que há muita dificuldade de relaxar, procure ajuda profissional para avaliar esse estado de tensão e ansiedade. 
  • Se você cobra muito de si mesmo, está sempre envolvido em inúmeras tarefas e pressionado por compromissos, tente equilibrar sua agenda e rotinas. Reservar um tempo para lazer é tão importante quanto o trabalho. 
  • Ao se sentir ansioso, busque alternativas para amenizar o sentimento. Uma possibilidade pode ser utilizar técnicas de respiração simples, mindfulness, disponíveis na internet e que podem ser feitas em sua própria casa.

Se identificado o transtorno de ansiedade, saiba que há tratamento. Procure ajuda profissional e não tenha vergonha de conversar a respeito. Comece hoje mesmo a cuidar da sua saúde mental. Conheça nossa rede de profissionais referências no tema.

Referências:

IPSOS: Dos 16 países, Brasil é o que mais sofre com ansiedade por causa da pandemia de coronavírus – https://www.ipsos.com/pt-br/de-16-paises-brasil-e-o-que-mais-sofre-com-ansiedade-por-causa-da-pandemia-de-coronavirus

Ansiedade em 4 perguntas | Marcio Bernik:
https://drauziovarella.uol.com.br/videos/em-x-perguntas/ansiedade-em-4-
perguntas-marcio-bernik/

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

Por Bruna Passarelli

Os Sintomas: Delírio, Alucinação e Ilusão (diferenças)

É comum nos cursos oferecidos pela Sociedade dos Psicólogos os participantes nos perguntarem sobre os conceitos e diferenças entre o Delírio e a Alucinação. Vendo que essa é uma dúvida comum do estudante e do interessado em psicologia, resolvi escrever este texto.

Psicopatologia e sintoma

Primeiramente, é importante dizer que tanto o delírio, quanto a ilusão e a alucinação são fenômenos de estudo do campo da psicopatologia – a área que estuda as doenças/perturbações/disfunções da mente/alma – e encontram-se na categoria dos sintomas.

“O campo da psicopatologia inclui um grande número de fenômenos humanos especiais, associados ao que se denominou historicamente de doença mental. São vivências, estados mentais e padrões comportamentais que apresentam, por um lado, uma especificidade psicológica (as vivências dos doentes mentais possuem dimensão própria, genuína, não sendo apenas “exageros” do normal) e, por outro, conexões complexas com a psicologia do normal (o mundo da doença mental não é um mundo totalmente estranho ao mundo das experiências psicológicas “normais”).”

(Dalgalarrondo, 2008 p. 27)

 

É por meio dos sintomas, sejam eles objetivos (capazes de serem apanhados pela percepção do outro) ou subjetivos (percebidos apenas pelo portador), que se constitui a dinâmica psíquico-comportamental patológica do sujeito. Deste ponto de vista, o sintoma age como um representante que aponta para um desejo e comunica uma questão particular referente aos conflitos, fantasias e questões do indivíduo. O sintoma conta muito de seu portador e, em resumo, o conjunto de sintomas costuma apontar para alguma síndrome, transtorno ou quadro clínico.

“Os signos de maior interesse para a psicopatologia são os sinais comportamentais objetivos, verificáveis pela observação direta do paciente, e os sintomas, isto é, as vivências subjetivas relatadas pelos pacientes, suas queixas e narrativas, aquilo que o sujeito experimenta e, de alguma forma, comunica a alguém.”

(Dalgalarrondo, 2008 p. 24)

O Delírio

(Imagem encontrada na internet)

Um sintoma pode pertencer ao campo da consciência, da atenção, do raciocínio, do afeto, da percepção, da memória, por exemplo, entre outros. No caso do delírio, este diz respeito à uma alteração do juízo (que é uma função do pensamento, assim como o raciocínio). Isto é, a capacidade de discernir a verdade do erro, distinguir qualidades, e utilizar a lógica para validar ou refutar sentenças. De acordo com Paim (1980) “o juízo consiste, do ponto de vista da lógica formal, na afirmação ou negação de uma relação entre dois conceitos” (p. 77). Sendo assim, alterações nesta função mental podem levar a ideias delirantes em diversas temáticas, como, por exemplo, grandeza, perseguição, relação, ciúme, influência, referência, entre outros.

“por meio dos juízos o ser humano afirma a sua relação com o mundo, discerne a verdade do erro, assegura-se da existência ou não de um objeto perceptível (juízo de existência), assim como distingue uma qualidade de outra (juízo de valor). Ajuizar quer dizer julgar.”

(Dalgalarrondo, 2008 p. 206)

Vale citar também a explanação de Cunha (2007), autora do livro Psicodiagnóstico-V:

“Os delírios (do latim de, fora, e liros, sulco; sair da trilha arada, desviar o arado do sulco) podem ser classificados de diversas maneiras: a) conforme a sua temática (de desconfiança, de perseguição, de influência, de prejuízo, de referência, de autopreferência, de ciúme, de grandeza, de descendência ou de linhagem ilustre [genealógico], de invenção, de transformação cósmica, de prestígio, de missão divina, de reforma social, de possessão diabólica ou divina, de natureza hipocondríaca, de negação e transformação, de culpa, de auto-acusação, de ruína e vários outros, de acordo com a plasticidade da trama delirante); b) conforme o grau de elaboração (sistematizados e não-sistematizados); c) conforme o curso evolutivo (agudos e crônicos)”.

(Cunha, 2007, p. 68)

Neste momento, você já deve ter percebido que estamos falando “daquela pessoa” que começa a acreditar que o ancora da televisão está enviando mensagens codificadas que só ele é capaz de decodificar; ou que os marcianos (ainda que nunca tenha visto um) o estão espionando e perseguindo; ou que está convencido de que a esposa o está traindo e enganado; ou que acredita ser Jesus Cristo, Napoleão Bonaparte ou John Lennon; etc…

A Alucinação

Por outro lado, a par das alterações do juízo, encontramos uma categoria que diz respeito às alterações da sensopercepção e é nela que se localizam a ilusão e a alucinação, e é por ela que a realidade interna e externa nos chega de forma entendível e comum à espécie.

“Todas as informações do ambiente, necessárias à sobrevivência do indivíduo, chegam até o organismo por meio das sensações. Os diferentes estímulos físicos (luz, som, calor, pressão, etc.) ou químicos (substâncias com sabor ou odor, estímulos sobre as mucosas, a pele, etc.) agem sobre os órgãos dos sentidos, estimulando os diversos receptores e, assim, produzindo as sensações. […] Por percepção, entende-se a tomada de consciência, pelo indivíduo, do estímulo sensorial. Arbitrariamente, então, se atribui à sensação a dimensão neuronal, ainda não plenamente consciente, no processo de sensopercepção. Já a percepção diz respeito à dimensão propriamente neuropsicológica e psicológica do processo, à transformação de estímulos puramente sensoriais em fenômenos perceptivos conscientes.”

(Dalgalarrondo, 2008 p. 119)

É com esta função cerebral/mental que sentimos e reconhecemos o belo ou o feio, o cheiro de uma flor ou enxofre, o toque de uma pena ou de um tijolo, o som de uma melodia ou de um ruído, bem como o gosto doce ou salgado…

(Imagem encontrada na internet.)

Se isso está no ambiente em que estamos inseridos e nos chega por uma via sensorial (tato, audição, visão…), é transduzido em energia sensitiva, levado aos centros de percepção do cérebro e reconhecido de forma normal/comum, a situação é funcional (Lent, 2010). Caso haja sensação ou percepção de algo que não está no ambiente, trata-se de uma alucinação. Em psicologia, chamamos o que está no ambiente e se manifesta a nível da consciência de “estímulo”. Sendo assim, perceber um estímulo real é o normal e esperado. Ver, ouvir, sentir sem a presença de um estímulo, como se estivesse na presença dele constitui uma alucinação e implica numa ruptura com a realidade. “Define-se alucinação como a percepção de um objeto, sem que este esteja presente, sem o estímulo sensorial respectivo” (Dalgalarrondo, 2008 p. 124). Vale dizer, que em uma situação dessas, podemos alucinar com qualquer um dos nossos sentidos e as alucinações auditivas são o tipo mais frequente encontrado nos transtornos mentais.

A Ilusão

Dentro das alterações referentes à sensopercepção, também encontramos a Ilusão, mas esta difere da alucinação, principalmente, por contar com um estímulo que está presente no ambiente. Na ilusão há o estímulo, mas este é percebido de forma distorcida.

“O fenômeno descrito como ilusão se caracteriza pela percepção deformada, alterada, de um objeto real e presente. Na ilusão, há sempre um objeto externo real, gerador do processo de sensopercepção, mas tal percepção é deformada, adulterada, por fatores patológicos diversos”.

(Dalgalarrondo, 2008 p. 119)

As ilusões geralmente ocorrem por estados de rebaixamento do nível de consciência; estados de fadiga grave; alguns estados afetivos de acentuada intensidade.

“As ilusões mais comuns são as visuais, nas quais o paciente geralmente vê pessoas, monstros, animais, entre outras coisas, a partir de estímulos visuais como móveis, roupas, objetos ou figuras penduradas nas paredes. Também não são raras as ilusões auditivas, nas quais, a partir de estímulos sonoros inespecíficos, o paciente ouve seu nome, palavras significativas ou chamamentos”.

(Dalgalarrondo, 2008 p. 124)

Em resumo, no delírio não se enxerga ou ouve nada de anormal, mas se tem ideias enganosas a respeito de algo, por tratar-se de uma alteração do juízo e estar atrelado aos processos de pensamento. Já a alucinação e a ilusão são sintomas referentes à sensopercepção, onde, respectivamente, a primeira percebe um estímulo que não está no ambiente e a segunda deforma – pela percepção – um estímulo que está no ambiente.

Referências

Dalgalarrondo, P. (2008). Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. Porto Alegre: Artmed.

Cunha, J. A. (2007). Psicodiagnóstico-V. Porto Alegre: Artmed.

Lent, R. (2010) Cem bilhões de neurônios?: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Ed. Atheneu.

Paim, I. (1980). Curso de psicopatologia. São Paulo: Livraria Editora Ciências Humanas Ltda.

Por Caio Ferreira