
Dia dos Namorados a vista. Data comemorativa que celebra, reconhece e convida os parceiros e parceiras afetivos a parabenizarem e até mesmo presentearem a união que cultivam. Uma data que convida os “enamorados” a dedicarem tempo e atenção à companhia, ao momento e até mesmo à história construída. Ao menos, é o que a data sugere, convida os brasileiros a fazerem, em sua tradição.
Mas, se desprendendo do contexto de um relacionamento afetivo, e estendendo ao movimento de se relacionar e estabelecer conexões com as pessoas do âmbito familiar e social, a reflexão aqui exercida é de enfatizar o quão necessário é reconhecer o valor, os papéis e sentimentos atribuídos aos relacionamentos mais importantes na própria vida.
A mensagem irônica da série Wellmania.

Partindo da série Wellmania, obra original da Netflix, como referência que aborda sobre excesso de trabalho, maus hábitos à construção de hábitos saudáveis, cuidado integral com a saúde, mudança no estilo de vida, realização profissional e por fim, mas não menos importante, sobre saúde mental, traumas e luto. Com muita aventura, humor e uma pitada de drama, a série provoca a conscientização sobre importância em conhecer, reconhecer e enfrentar as próprias aflições, os medos, as possíveis culpas descabidas e até mesmo o aprimoramento da responsabilidade afetiva, a fim de integrar estes movimentos como um recurso ao cuidado com a saúde.
A ironia da série, se concentra na perspectiva de que reparar e fortalecer os relacionamentos mais significativos, através da construção de diálogos esclarecedores e honestos, seja um dos pilares tão necessários quanto o seguir uma alimentação adequada, praticar exercícios físicos, ter um trabalho ou qualquer cuidado vinculado a ideia de preservar a vida da melhor maneira possível.
Ainda sobre a série, a personagem principal, inicialmente cultiva uma variedade de excessos e vícios danosos a sua integridade física, mental e emocional. E ao passo que se dedica ao processo de transformar seus hábitos e estilo de vida, ela também se aproxima e se dedica aos seus relacionamentos entre familiares e novos e velhos amigos. No decorrer destas passageiras transições, é possível observar o que os seus até então antigos excessos e vícios “escondiam”. E neste movimento, o universo de suas emoções e sentimentos ganham luz e lhe conscientiza sobre algumas novas prioridades em sua vida. E até mesmo um novo olhar sob si mesmo, lhe ajudando a reconhecer seu próprio valor.
Através de seu adoecimento e das novas privações e limitações vivenciadas, ela pôde se dar conta daquilo que realmente se manifesta como seus anseios e seus medos mais complexos e intensos. Certamente, que ao longo da série, nem tudo se restaura e ganha uma nova cara. Pelo contrário! O enfrentamento da protagonista não foi por inteiro. E o resultado disso, foi um ciclo quase que repetido se instaurando em sua vida.
Apenas hábitos saudáveis e a realização profissional não sustentam o cuidado com a saúde mental.
Mas, terminado o relato sobre a série, a reflexão segue e questiona:
- O que os excessos escondem?
- O que a falta de clareza e de autoconhecimento restringe?
- Só a construção de hábitos saudáveis e da realização da vida profissional desejada sustenta o cuidado com a saúde mental?
- Só a dedicação a estes dois pilares citados, sustenta a sensação de bem-estar e de segurança psicológica?
A princípio, em termos de uma ligeira avaliação psicológica, há uma tendência em contextualizar que para a manutenção de uma vida saudável também é crucial o cuidado com os relacionamentos mais afetivos. Cuidado este que se manifesta através da construção de momentos com os familiares, amigos e conhecidos que assumem um papel significativo na história e ainda em uma vida atual.
Diálogos honestos como fontes de “cura”.
Estabelecer diálogos honestos e corajosos se configura como um importante recurso que zela pelo reparo de velhas dores, dúvidas, fantasias, culpas, arrependimentos, necessidades, desejos e tudo aquilo que pode se configurar enquanto um obstáculo, um impeditivo que restringe a possibilidade de restaurar os relacionamentos e provocar um estado de alívio, confiança e bem-estar psicológico entre os envolvidos.
Muitas vezes, o cuidado com a saúde também conta com a necessidade de enfrentar complexos traumas; estabelecer novos acordos; clarificar antigas dúvidas; renunciar uma convivência danosa; se aproximar, se atentar e estabelecer questões que permitem conhecer o outro na sua forma de ser. Ou, quem sabe, dedicar tempo, atenção e até recursos de serviço ou financeiro, para auxiliar aquela pessoa que causa alguma certa preocupação. Enfim, o cuidar da saúde também tem a ver com se dedicar ao universo subjetivo e afetivo que os relacionamentos provocam ao longo da vida.
A proposta sugerida é de encarar e se comprometer com os relacionamentos tanto quanto se dedica a um trabalho ou a concretização de um objetivo material, por exemplo. Por vezes, as relações são fontes dos sentimentos, dificuldades e até mesmo necessidades mais impactantes nessa jornada existencial. Por isso, o convite é de perceber e reconhecer os relacionamentos que sinalizam as maiores aflições e desejos, a fim de direcionar o manejo do tempo, da atenção, do comprometimento e cuidado que se estabelece com eles. Entendendo, que este movimento seja um dos mais restauradores para uma vida saudável, com sentido e equilíbrio.
Por fim, que nesta tradição do Dia dos Namorados se integre o convite de ao longo do cotidiano, haver dedicação e atenção aos relacionamentos que a vida proporciona. Alguns, a fim de instaurar a proximidade e o fortalecimento. Aos outros, talvez um novo acordo ou um novo encontro. Ou quem sabe, em outros, para clarificar e depositar um ponto final. Seja o que for, e como for, mas que seja algo que faça valer o que os mais complexos e profundos sentimentos, em certos ruídos, nos pede a fazer.
Por Tayna Wasconcellos Damaceno.
Referências
BRACKETT, Marc. Permissão para sentir. Ed. 1. Rio de Janeiro: Editora Sextante, 2021.
RODRIGUES, Vera B.; MADEIRA, Milton – Suporte social e saúde mental: revisão de literatura. Revista da Faculdade de Ciências da Saúde. Porto: Edições Universidade Fernando Pessoa. ISSN 1646-0480.6 (2009) 390-399.
Disponível aqui – acesso em 05/06/2023.
WELLMANIA. Produção de Warren Clarke. Intérpretes: Celeste Barber,JJ Fong,Lachlan Buchanan. Roteiro: Benjamin Law e Brigid Delaney. Austrália, 2023.
Disponível aqui – acesso em 05/06/2023.
1 comentário
Observador · 21 de abril de 2024 às 15:55
A questão é nos Relacionamentos, em especial Amorosos e/ou Sexuais, a gente conversar sobre a outra pessoa! O ato sexual, via de regra, é um ato a dois! Passa pela paquera, sendo do mesmo sexo saber o que atrai no (a) outro (a), qual o “tipo”de relação: fluidamente, romance ou namoro! Quando estava “ficando” com um homem, sem saber, outro homem me “reparava” discreto na Praça de Alimentação! O que me deixou lisongeado, foi ele ter percebido o dia da semana que eu frequento. o que pode perceber as semanas que fui sozinho e ter tido iniciativa de vir a minha mesa! Até que começamos a ter relações sexuais! Sexualmente resolvidos, por si só, beneficia as demais relações interpessoais: são amistosas!