Instabilidade Política e a Psicanálise

Cá estamos nós, no meio de 2017, ano que chegou recheado de promessas e permeado de esperança para o povo brasileiro. Ano (suposto) da retomada do crescimento. O ano de 2016 foi marcado por acontecimentos ímpares no âmbito político, que serão contados pelas décadas, o ano e que a escolha democrática deu lugar ao impichamento da primeira presidenta mulher na história do Brasil. A insatisfação crescente da população levou milhares às ruas, em diversas cidades do país.

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(Créditos da imagem: Amarildocharge.wordpress.com.br)

Dado certo tempo da queda da presidenta, penso que é válido refletirmos sobre seus efeitos, principalmente à luz das recentes denúncias e vazamentos de certos papos gravados.

Totem e Tabu

Sigmund Freud se mostra novamente relevante para analisarmos esse causo na cena política. Em 1913 o psicanalista escreve Totem e Tabu, texto em que o pai da psicanálise tenta abrir um futuro espaço de discussão entre, o que ele chama de “psicologia dos povos primitivos” (Antropologia), e a “psicologia dos neuróticos” (Psicanálise). O psicanalista busca pesquisar e discutir o início da organização social. No texto, Freud fala sobre o totemismo e explora seu funcionamento dentro dos clãs, a partir de observações dos aborígenes australianos.

Os clãs eram grupos menores dentro de um povo, e eram identificados por um totem.

O totem funciona como uma espécie de símbolo norteador das relações dentro da sociedade. Era representado geralmente como um animal, e era tido como sagrado. Sendo assim, os integrantes do clã não poderiam matar aquele animal, nem destruí-lo. Ele era um protetor. Nas palavras de Freud (1913[1912-13]/1996): “A relação de um australiano com seu totem é a base de todas as suas obrigações sociais: sobrepõe-se à sua filiação tribal e às suas relações consanguíneas”(p. 22).

Freud mais além no texto fala do Pai edipiano e como ele se relaciona com o totem da horda primeva, e a posição que ocupava dentro da sociedade primitiva, bem como sua relação com os demais, seus filhos

Em um determinado momento os filhos do Pai, que sozinhos não poderiam fazer frente ao Pai se unem e decidem matar o pai, porém, logo depois entram em conflito entre si, e matam-se. Em suma, a sociedade não resiste se determinadas proibições forem transgredidas.

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(Imagem retirada da Internet)

Política e Psicanálise

Dilma foi impichada no mês de agosto do ano passado, para alegria de muitos e desconfiança de outros. Os acusadores da então líder vermelho e branco acharam que expurgá-la (matar o Pai) não teria efeitos, mas teve e está tendo. Michel Temer assume em meio à um governo instável, e que dá sinais de um possível colapso a frente, caso não reúna para ontem uma base aliada mais sólida. Notem a mudança dos gritos nos protestos e manifestações recentes, o “Fora Isso” virou “Fora Aquilo”. Vale lembrar que nas fases anteriores das investigações da Lava-Jato, o nome do cacique é citado algumas vezes, pelo líder da construtora que anda em foco na mega operação da Polícia Federal.

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(Imagem retirada da Internet)

Como na construção freudiana, os “filhos” da presidenta, agora digladiam-se entre si. O ex-presidente da Câmara dos Deputados e suas complicações com a Polícia Federal. Investigado e preso. Em 2016, o ex-presidente do Senado Federal descumpre uma ordem direta do STF (Supremo Tribunal Federal), e é apoiado por outros senadores. Em 2017 termina seu mandato, e fala em seu último discurso falando sobre transparência.

A queda na principal taxa de juros nacional, a Selic, para 13% ao ano, no começo de 2017, se mostrou uma tentativa de revitalizar a economia nacional, com os bancos facilitando a concessão de crédito. A confiança dos investidores no país também deveria aumentar. Lembremo-nos que a retomada da economia foi um dos principais chamarizes da posse do novo presidente.

Vejamos agora. As gravações divulgadas pelo Ministério Público Federal na semana passada causaram um alvoroço tanto no cenário político quanto no econômico. Tudo bem que o conteúdo não corresponde exatamente ao que foi anunciado de antemão, mas não é como se comprássemos gato por lebre. Onde há fumaça há fogo.

Com as investigações da polícia federal acertando figurões à torto e à direito, a exposição da esfera política nacional à mídia se torna mais intensa.O povo tem maior contato com o espaço onde circulam seus reis e rainhas, mas quem vai pro xadrez de verdade?

Há quem diga que agora a população é mais politicamente consciente, que é mais inserida no debate política, porém, não sei ao certo o quanto isso é verdade. Aprenderam o significado algumas expressões, como impeachment e delação premiada, mas será que o povo é, de fato, mais ativo?

Eu questiono à você leitor, o que acha? Quais foram os efeitos dessa turbulência que passamos ao matar o Pai?

Até a próxima

Por Igor Banin

Referências

Freud, S. Totem e Tabu (1913[1912-13]), Editora Imago, Rio de Janeiro, 1996.


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