Falta de motivação também pode ser um problema biológico. Entenda como o ambiente alimenta um mecanismo biológico conectado a motivação e cinco dicas para a estimular em seu dia a dia.
A pandemia tem gerado inúmeras reflexões para cada um de nós. Uma delas, muito presente em discussões e estudos recentes, é a produtividade e a motivação. Que a produtividade de quem está em modelo homeoffice aumentou, não temos dúvidas. Mas, será que a motivação acompanha essa alta? E sendo a motivação tão importante para a nossa produtividade, é possível a estimular?
Para responder essa pergunta, me peguei refletindo sobre o que é produtividade. Em qualquer busca online, encontro que produtividade “é uma relação entre o que foi produzido e os recursos empregados para se atingir tal objetivo”.
É fácil entender que, culturalmente, associa-se produtividade com a quantidade de atividades que alguém produz. E a qualidade, ou seja, o resultado daquilo que se produziu é deixado de lado ou não recebe a mesma evidência que o fator quantidade. Levando em consideração esse conceito, será que as pessoas Será que as pessoas continuarão a se motivar
Quando estamos motivados, certamente nosso engajamento em certa atividade e produtividade aumentam, algo que podemos associar com o Estado de Flow, teoria já explicada por aqui pelo psicólogo Caio Ferreira.
A motivação pode ser intrínseca, algo que vem de dentro de nós, e extrínseca, externo ao ser humano, aquele reforço presente no ambiente ou advindo das pessoas ao nosso redor. Seja qual for o tipo de motivação, uma dose de autoconhecimento se faz necessária para entender o que o ambiente pode nos oferecer e que irá alimentar nossa motivação
Daniel M. Cable em seu livro chamado “Vivo no trabalho”, de Daniel M. Cable, explora o conceito de motivação para além de variáveis físicas e emocionais conectadas a ela. Segundo o autor, a motivação não se restringe apenas aos nossos interesses. Há um mecanismo biológico conectado a ela, que quando compreendido e bem trabalhado pode potencializar a motivação e os resultados.
O ser humano tem um mecanismo natural, chamado “seeking system”, ou em tradução livre “sistema de busca”. Esse modelo de comportamento e de reação neurológica faz com que sejamos motivados a explorar novos territórios para extrair significado deles e, com isso, aprendizado. Quando o sistema é ativado e a curiosidade despertada, o sistema neurológico libera um neurotransmissor em nosso corpo e células, chamado dopamina, responsável pela sensação de prazer e regulação de humor. A dopamina em conjunto com outros neurotransmissores, como a adrenalina e noradrenalina, alimenta um sistema de recompensas no corpo, como, por exemplo, o sono, a fome e o humor.
Isso significa na prática que quando temos algo que desperta nossa atenção e curiosidade, somos impulsionados a responder esse estímulo, ressignificando o que nos é apresentado e, com isso, aumentando nosso interesse e motivação para encontrar novos estímulos que despertam novamente nossa curiosidade e liberem, novamente, as sensações de prazer em nosso corpo.
Ideia que faz sentido e aparenta ser simples, mas difícil de ser implementada, pois não são raras as vezes em que precisamos ser produtivos (no sentido de quantitativo) e deixamos o piloto automático e a rotina tomar conta de nossos dias (a própria rotina cumpre um papel importante em nossa vida social moderna, pois nos economiza tempo e energia).
Então, o que fazer para estimular esse sistema de busca e aumentar nossa motivação?
Não existe uma receita de bolo para aumentar a motivação. Mas, se pudesse desenhar passo a passo, diria que em primeiro lugar é importante ser gentil consigo mesmo. Entender que a motivação pode estar ausente em alguns dias e se permitir dar uma folga é um passo libertador para não se cobrar tanto e evitar frustrações futuras.
Em segundo lugar, aumentar a consciência sobre si mesmo. Isso significa entender o que te motiva e o que não motiva. Encontre um propósito para si mesmo. E ele não precisa ser algo grandioso, para a vida. Pode começar de forma tímida, levando em consideração o seu dia atual, talvez a próxima semana e com o passar do tempo se transformar em algo que tenha um horizonte maior.
Em terceiro lugar, permita-se expressar o melhor de si em seu dia a dia e com as pessoas que te cercam. Há estudos que afirmam que quando temos a oportunidade de exercitar nossos talentos e pontos fortes todos os dias, a probabilidade de obter maior satisfação com nossas entregas e desfrutar de melhor qualidade de vida aumentam em até três vezes. (Buckingham, Marcus, 2015)
Em quarto lugar, exercite olhar para o que te cerca sob uma ótica diferente do que você faria de costume. Inclua a curiosidade na sua rotina e valorize a diversidade, pois ela tem um grande poder para construir perspectivas inovadoras.
Em quinto e último lugar, valorize a si mesmo e experimente aprender e ensinar coisas novas todos os dias. Somos eternos aprendizes e uma vez que nos reconhecemos como tais, a vida se torna uma jornada cada vez mais interessante e motivadora.
Referências e Recomendações
Buckingham, Marcus. Descubra seus pontos fortes. Rio de Janeiro: Sextante, 2015.
Cable, Daniel M. Alive at work: The neuroscience of helping your people love what they do. Boston: Harvard Business Review Press, 2018.
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