Minhas melhores leituras de 2022

Recomendações de leitura para o teu ano 🙂

Durante a pandemia, voltei ao antigo hábito de leitura voraz. Tem sido tão interessante que no início de 2022, fiz minha lista de melhores leituras do ano anterior, muito mais como um exercício de reflexão para mim mesmo. Decidi repetir a dose, então aqui vão as melhores obras que encontrei no último ano.

Não diria que há necessariamente uma ordem gradativa de qualidade, algo como “do pior ao melhor”, mas sim obras que me afetaram

Tive leituras fascinantes em diversos gêneros. Ficção, Não-Ficção e Histórias em Quadrinhos. A lista a seguir tenta abranger um pouco de tudo.

O Homem que passeia, mangá por Jiro Taniguchi

O estilo de Taniguchi é incomparável. Sempre reflexivo e calmo, ler uma obra do Taniguchi tem um efeito de uma sessão de meditação zen. Parar e observar o mundo à sua volta trazem efeitos de pertencimento e organização, e isso é o objetivo da maioria das obras de Taniguchi.

Nessa história acompanhamos justamente o que o título sugere: Um homem que passeia e explora diversas regiões próximas a sua casa, se deixando levar e estar, verdadeiramente no lugar. Aberto às experiências, pessoas e aventuras possíveis em cada situação.

O traço de Taniguichi é leve e refrescante. Não foi a única obra do autor que li no último ano. Na verdade, acredito que foi o autor com mais obras no último ano. Dele li também: “Um Bairro Distante”, “Tokyo Killers”, “O Gourmet Solitário”, “Zoo no Inverno” e “Guardiões do Louvre”.

Recomendo também o vídeo do Pipoca e Nanquim comentando a obra:

Alack Sinner – José Muñoz e Carlos Sampayo

Alack Sinner foi um acontecimento no meu ano. Uma história que me pegou desprevenido e que foi crescendo com o seu desenrolar.

A combinação da arte de José Muñoz e o texto de Carlos Sampayo são o máximo que se pode pedir de uma obra noir. Recheado de referências ao universo do Jazz e Nova York do final dos anos 1970 e início dos anos 1980.

Na obra acompanhamos um detetive particular, Alack após ter saído, desiludido, da força policial. Uma história que poderia parecer de início como qualquer outra sobre violência, corrupção e crimes, passa a ser sobre a vida, sobre as complexidades e camadas de cinza da vida humana. Da condição humana.

Uma arte que me foi estranha inicialmente, me ganhou quando entendi a proposta expressiva da obra. Os traços reforçam os acontecimentos e os estados internos dos personagens.

Aqui temos o vídeo da época de lançamento pela editora Pipoca e Nanquim dando mais contexto à obra:

O Marinheiro que perdeu as graças do Mar – Yukio Mishima

Um dos últimos livros lidos no ano passado me trouxe uma impressão muito positiva da escrita de Yukio Mishima, autor japonês premiado e lido em todo o mundo. Cheguei tarde nesse autor, eu sei, mas suponho que nunca é tarde para conhecer boa literatura.

Aqui acompanhamos a história de Ryuji Tsukazaki (O marinheiro que perdeu as graças do mar), e sua relação com a família Kuroda. Fusako, a mãe e Noboru, o filho. Seu propósito de vida, lugar no mundo e relação com o feminino são discutidos à minúcia.

Temas como a descoberta da sexualidade na adolescência, a sensação de impotência e castração são discutidos aqui. Sem falar de toda a temática do luto e recomeço, presentes na personagem da mãe.

Recomendo aqui a entrevista concedida em 1969:

O livro de Areia – Jorge Luis Borges

Envergonhado de dizer que este foi o meu primeiro contato com a obra de Borges (mas não o único lido no ano, ao menos), tão elogiada mundo à fora. Pudera, suas influências passeiam pelas coisas que amo: Lovecraft, Poe e Kafka.

Essa coletânea conta com alguns dos melhores textos curtos que já li. Notadamente: “O Outro”, “Utopia de um Homem que está cansado”, “O Disco” e o texto que dá nome à antologia, “O livro de Areia”.

O estilo de Borges é muito conversacional, muito fluido e envolvente. Ele mistura fantasia e realidade muito bem, com um arcabouço de referências literárias interessantíssimas.

Recomendo esse trecho de uma entrevista concedida em 1980, onde Borges comenta sobre o amor e amizade:

O Oráculo da Noite – Sidarta Ribeiro

Primeiro de não-ficção que li no ano e já ficou como um dos melhores. A vasta pesquisa de Sidarta Ribeiro sobre a função e o funcionamento do sonho e do sonhar devem ser tidos como obra obrigatória em qualquer curso de Psicologia moderno.

Sidarta nos pega pela mão e conduz através da história e do papel do Sonho na cultura ocidental, desde civilizações antigas (Egito e Grécia, por exemplo), até os mais recentes estudos da neurociência. O mais interessante para mim: ele não descarta a psicanálise, mas sim a aproxima como um complemento dos conceitos da biologia, medicina, neurofisiologia e da própria neurociência.

Aqui vemos como o sonho molda a nossa experiência desperta. Me peguei particularmente fascinado com a temática de sonhos na antiguidade. Como seria a percepção de alguém no Paleolítico, ao acordar de um sonho vívido e se perceber de volta a sua cama?

Isso me lembra o famoso problema filosófico de Chuang Tzu (filósofo taoísta), que ao sonhar que era uma borboleta, passeando pelos campos que acabara de percorrer, vendo as mesmas coisas que vira durante aquele dia.

Ele acorda e se depara com a pergunta: “Quem sou eu?”.

“Sou um homem que sonhou que era uma borboleta? Ou sou uma borboleta sonhando que se transformou em um homem?”

Interessante notar que li essa obra na mesma época em que estava descobrindo as páginas de Sandman, outro primor dos quadrinhos escritos por Neil Gaiman, que explora o tema do Sonhar por outro ângulo. Definitivamente deve aparecer entre os melhores de 2023 (desde que eu consiga terminar a saga principal até o fim do ano).

Recomendo essa edição do Roda Viva, com a participação do autor:

Menções Honrosas:

Bom, essas foram as recomendações e destaques do ano de 2022 para mim. Ansioso para saber as suas melhores leituras do ano que passou e sempre aceito recomendações, deixe-as nos comentários.

Até a próxima,

Por Igor Banin

Palavras-Chave: Leitura, livros, recomendações de leitura, melhores livros, melhores leituras, literatura, quadrinhos, graphic novel, HQ’s.

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08 Livros Para Conhecer o Zen-Budismo

Em breve teremos a primeira edição do nosso novo curso “Psicologia e Zen-Budismo”, onde trabalharemos a relação entre a prática e filosofia budistas com diversas facetas da psicologia. Desde os estudos sobre meditação e

Para celebrar esse evento, trouxe aqui uma seleção de alguns dos livros que servem de bibliografia para o nosso curso, e que podem servir de porta de entrada para quem se interessa pelo tema.

Espero que gostem!

Introdução ao Zen-Budismo

Autor: D.T. Suzuki

(D.T. Suzuki)
(Divulgação: Editora Mantra)

Ótima obra de introdução ao sistema de pensamento e práticas Zen budistas. Suzuki foi um grande divulgador do pensamento Zen no início do século XX, tendo lecionado em diversas universidades americanas, até voltar ao Japão.

Nessa obra Suzuki traz uma visão geral das práticas e da filosofia zen-budista, respondendo diversas questões como: O zen é niilista? O que é a iluminação? Como é a vida de um monge zen?

Definitivamente uma ótima sugestão para se iniciar no assunto. Destaque também para o prefácio da Monja Coen na nova edição pela editora Mantra.

Filosofia do Zen-Budismo

Autor: Byung-Chul Han

(Byung-Chul Han)
(Divulgação: Editora Vozes)

Autor bem conhecido no Brasil à partir da publicação de “Sociedade do Cansaço”, aqui Han foca em trabalhar comparativamente a filosofia zen-budista à filosofia ocidental, especialmente à partir de autores como Platão, Hegel, Schopenhauer, Nietzsche e Heidegger.

Alguns dos principais  temas pelos quais o sul-coreano passeia são a noção de Religião sem Deus, Morte e Vazio, sempre trazendo haikus (especialmente de Bashõ) para apoiar seus comentários e ilustras suas idéias.

O Gato Zen

Autora: Kwong Kuen Shan

(Kwong Kuen Shan)

Alô amantes de gatos, essa é para vocês. Essa obra bem leve e gostosa de ler combina sabedoria e fofura. Trata-se aqui de um trabalho artístico transdisciplinar, combinando pintura, desenho e literatura. A autora Kwong Kuen Shan traz quarenta ilustrações felinas combinadas a máximas chinesas, provérbios populares e outros trechos da sabedoria antiga chinesa.

Entre os pensadores que ilustram a obra estão Confúcio (criador do Confucionismo), Lao-Tsé, Mêncio e Suz Tzu (conhecido pela obra A Arte da Guerra).

Destaque para as artes delicadas que dialogam com o conteúdo das frases e e pequenos textos apresentados.

(Divulgação: Editora Estação Liberdade)

O Caminho Zen

Autor: Eugen Herrigel

(Divulgação: Editora Pensamento)

Obra importante de divulgação do Zen no ocidente. Herrigel, professor alemão de filosofia, viveu e lecionou no Japão na universidade Tohoku, em Sendai, durante segunda metade dos anos 1920.

Lá tomou contato com a cultura japonesa, e fascinou-se pela maneira como o Zen permeia quase tudo na sociedade nipônica.

Nessa obra Herrigel descreve o sistema de pensamento zen e descreve como o Zen influencia as artes, os esportes e o dia-a-dia dos japoneses. Vale a pena também mencionar que aqui Herrigel traça um panorama de como o Zen era visto naquele momento fora do Japão, em especial, na Europa.

A arte cavalheiresca do Arqueiro Zen

Autor: Eugen Herrigel

(Eugen Herrigel)
(Divulgação: Editora Pensamento)

Dobradinha do autor alemão aqui que vale a pena não só pelo registro histórico da experiência de aprendizado dele, mas também de como conceitos do Zen se aplicam às práticas esportivas no Japão.

Nesse texto Herrigel narra sua experiência enquanto um aprendiz da arte marcial do tiro com Arco e Flecha, focando no estado de mente vazia, na não-intenção e no controle de si. A relação mestre-aluno e seus percalços é bem explorada aqui, mostrando a distância entre Ocidente e Oriente enquanto à facilitar ou não as coisas para o aluno.

Vivência e Sabedoria do Chá

Autor: Soshitsu Sen XV

(Soshitsu Sen XV)
(Imagem da Internet)

Outro texto que foca em uma arte específica japonesa e como o Zen a influencia. O texto foi escrito por Soshitsu Sen XV, o 15º Grão-Mestre da Urasenke, uma das mais importantes escolas do ChaDô (O caminho do Chá).

Na obra são explorados na obra em suas implicações durante a cerimônia do Chá. São eles: Harmonia (wa), Respeito (kei), Pureza (sei) e Tranquilidade (Jaku).  

O espírito wabi (ou wabi sabi), de difícil tradução, às vezes referenciado como “rusticidade” ou simplicidade, recebe bastante relevância na obra e denota o caráter Zen da Cerimônia do Chá.

Dao de Jing (O livro do Tao)

Autor: Lao-Tsé (Laozi)

(Lao-Tsé)
(Divulgação: Editora Mantra)

Historicamente o Zen-Budismo foi muito influenciado ao chegar à china pelo taoísmo. O Chan, forma original do Zen, adquiriu diversos conceitos do Tao (ou Dao, à depender da tradução), como o pensamento ilógico (presente na prática dos Koans), a noção de Vazio constitutivo (que à meu ver, dialoga bastante com o pensamento lacaniano) e a permanência/impermanência, à partir das noções de Sopro Yin e Yang.

Essa obra é considerada uma das bases do pensamento taoísta, escrita por Lao-Tsé (ou Laozi), é composta de 81 provérbios que versam sobre o pensamento taoísta, a constituição do Universo e como se portar no dia-a-dia.

Vazio Perfeito

Autor: Lie-Tsé (Liezi)

(Liezi)
(Divulgação: Editora Mantra)

Outra obra basilar do Taoísmo, escrita por Liezi, que ao lado de Laozi e Zhuangzi é considerado um dos precursores do Taoísmo.

Nessa obra, Liezi cria diversas estórias filosóficas e poéticas onde são abordados temas como a plenitude do vazio, a viagem interior, a complementariedade da vida e da morte, a inconstância dos eventos da vida entre outros.

Destaque para a editoração e diagramação belíssima da editora Mantra, especialmente sendo uma obra bilíngue.

Além dos textos, sugiro esse vídeo da Monja Coen com um resumo sobre a história do Zen-Budismo:

Até a próxima,

Igor Banin

Minhas melhores leituras de 2021

… que podem ser boas recomendações para o teu 2022

Começo de ano é sempre a mesma história, o que fiz no ano passado, o que deixei de fazer. O que planejo para esse ano que vem chegando. Criando metas possíveis e impossíveis para esse novo ciclo.

Pensando isso, resolvi fazer algo diferente por aqui. Nos últimos anos tenho me dedicado bastante a leitura. Lendo de tudo, de tudo mesmo.

No ano passado li um total de 55 obras, principalmente de não-ficção, romances e HQ’s/Mangás*, e aqui embaixo tentei listar algumas delas que acho que valem o teu tempo nesse ano. De maneira nenhuma estão organizadas por “Do melhor ao pior”. Selecionar cinco obras foi um trabalho árduo, mas tentei escolher as obras que mais me “afetaram” nesse 2021.

01 – Escravidão, livro por Laurentino Gomes

Texto terrivelmente necessário para quem vai pensar as relações raciais no brasil de hoje. Laurentino traz aqui o resultado de sua extensa pesquisa sobre as origens do processo de Escravidão na África, até a instalação de um processo quase industrial por Portugal e Brasil.

Pensar o passado nos ajuda a entender o nosso presente e mudar o nosso futuro. Frase clichê, mas verdadeira, especialmente hoje.

O segundo volume dessa trilogia também já está disponível, e o terceiro tem previsão de lançamento para esse ano (seria bacana, já que comemoramos o bicentenário da Independência do Brasil).

02 – Solitário, graphic novel por Christophe Chabouté

Essa obra bateu forte. A história de alguém que vive sozinho em um farol pode já ter sido explorada em outros lugares, mas te garanto, não como aqui.

Chabouté trabalha aqui temas como solidão, traumas, marcas deixadas pela fala do Outro e a ressignificação possível. Muito terapêutico e cinematográfico ao mesmo tempo.

Vale notar que a obra é publicada por aqui em edição magistral pela editora Pipoca e Nanquim.

03 – As Intermitências da morte, livro por José Saramago

Feliz reencontro com o mestre português, em uma de suas obras mais premiadas. Narrando o que aconteceria se ninguém mais morresse e as implicações disso em diferentes áreas da sociedade.

Esse texto que reli esse ano traz uma das aberturas mais interessantes e sedutoras que já li em um livro: “No dia seguinte ninguém morreu. O facto, por absolutamente contrário às normas da vida, causou nos espíritos uma perturbação enorme, efeito em todos os aspectos justificado, basta que nos lembremos de que não havia notícia nos quarenta volumes da história universal, nem ao menos um caso para amostra, de ter alguma vez ocorrido fenómeno semelhante, passar-se um dia completo, com todas as suas pródigas vinte e quatro horas, contadas entre diurnas e nocturnas, matutinas e vespertinas, sem que tivesse sucedido um falecimento por doença, uma queda mortal, um suicídio levado a bom fim, nada de nada, pela palavra nada”.

04 – Shamisen, mangá por Guilherme Petreca e Tiago Minamisawa

Outra obra publicada pelo pessoal do Pipoca e Nanquim. Nesse mangá nacional, os autores contam a estória da Haru, uma musicista cega que com seu Shamisen (instrumento de cordas tradicional do Japão) consegue encantar até os deuses. Ela faz parte de toda uma classe da população que realmente existiu, as Gozes, mulheres cegas que ganhavam a vida com apresentações musicais.

Encontrei aqui muita mitologia japonesa com boas doses de emoção.

O traço delicado e fluido do Petreca foi muito influenciado pelas obras Ukyo-e (imagens do mundo flutuante), um estilo de estampa, semelhante à xilogravura, que floresceu no Japão entre os séculos XVII e XX.

05 – Introdução ao Zen-Budismo, livro por D.T. Suzuki

Obra curta e direta ao ponto. Bem o que eu precisava naquele momento. Esse texto deu início as investigações que movi de maneira mais detida no segundo semestre do ano, culminando em um trabalho sobre as relações entre Psicanálise e Zen-Budismo.

Aqui, Suzuki comenta de maneira objetiva diversos aspectos do Zen Budismo, desde suas práticas até seus preceitos e conceitos mais complicados.

Legal apontar a função dos Koans (enigmas) e dos Mondos (entrevistas semi-dirigidas). Práticas do Zen-Budismo que tem vários pontos de conexão com a prática da psicanálise.

De novo, foi difícil escolher só 5, então deixo aqui também algumas menções honrosas:

  • O Corvo, graphic novel por James O’Barr;
  • Admirável mundo novo, livro por Aldous Huxley;
  • Grama, manhwa por Keum Suk Gendry-Kim;
  • Coisa de Menina, livro por Contardo Calligaris e Maria Homem;
  • Um pedaço de madeira e aço, graphic novel por Christophe Chabouté;
  • Uzumaki, mangá por Junji Ito.

Até a próxima,

Igor Banin

*Normalmente não conto obras/textos psi pela própria natureza desses (Artigos científicos, capítulos ou partes de livros).

P.s.: Uso bastante o Skoob. App brasileiro que ajuda a organizar e classificar as leituras.  Te ajuda a manter o ritmo de leitura, contando com desafios e competição (ou não entre amigos).