Em algum momento percebi que a vida é um oceano. Longo, vasto, diferente dos mares que conhecemos nas praias, este não tem limite. Naveguei em uma embarcação familiar por muito tempo, ali cada um fazia sua parte e de alguma forma, cuidávamos uns dos outros mesmo em momentos de fortes tempestades ou grandes calmaria. Com algum tempo notava outros barcos, navios, balsas ou botes, cada grupo com seu meio de navegar, mas em algum lugar eu via pessoas à deriva, sozinhas ou distantes dos seus.
Passei algum tempo em terra firme, aprendendo a lidar com os imprevistos que acontecem em alto mar, e formas de auxiliar pessoas a encontrar equilíbrio em suas embarcações, as vezes até mesmo a como construir uma, essa foi minha formação como psicoterapeuta. Volta e meia estou lá em uma dessas escolas novamente, sempre há uma ferramenta nova para auxiliar um naufrago ou uma nova forma de fechar um buraco em um casco de barco.
Quando me tornei psicólogo, me foram dadas (ou construí) algumas ferramentas e técnicas que mudaram a minha forma de navegar. Aprendi a ter um olhar e uma escuta focada e atenta, alguém pode estar se debatendo na água bem do seu lado e você nem perceber a tempo de ajudar. Para maiores distâncias tenho uma luneta que me ajuda a ver, ajuda as vezes a encontrar uma embarcação ou porto seguro, onde o resgatado possa descansar e traçar sua nova rota. Gosto muito da habilidade de ficar em silêncio e escutar, o vazio do oceano pode no dizer muito, e assim também posso buscar compreender de onde vem e para onde vai cada uma dos que encontro, infelizmente alguns se perderam, sempre que posso ajudo com um mapa ou calculamos juntos a rota corrigir seu curso.
Tenho sempre a mão uma velha, mas muito boa boia salva vidas, em alguns casos não dá para mergulhar e ajudar, mas essa ferramenta traz lentamente a pessoa até a segurança, e esse tempo é até importante para que ela se acalme e possa aí se organizar e ir em frente.
Com o tempo me separei do grupo que me mantinha, construí minha própria embarcação, e hoje navego nas direções que acho mais importantes, independentemente de onde vá, sempre tem gente para conhecer, suas histórias me encantam, algumas me comovem, me sempre vejo que todos são capazes de encontrar aquele tesouro perdido, ou aquela ilha afastada que tanto procuram, em alguns casos fico feliz de fazer parte deste processo. O mar pode ser traiçoeiro, cheio de perigos, de tempestades e vis piratas, mas a cada dia me torno e acredito que você também, um marinheiro mais ágil, mais atento, mais hábil, e sei que alcançaremos mares mais tranquilos e estáveis. Com o tempo notamos que cada um tem sua forma de navegar, que alguns tem pressa, outros tem muita calma, alguns tem um objetivo muito bem definido, outros só querem aproveitar a vista, independentemente de onde o vento o leve. Conheci aqueles que não queriam mais navegar sozinhos, também conheci aqueles que querem aproveitar o som do oceano, da vida sem muitas pessoas por perto, e aprendemos a apreciar todas as formas de navegar.
O mar é lindo, sentir as ondas, ver as paisagens, conviver com a fauna, tudo isso pode ser muito bom, mas existem tempestades assustadoras, naufrágios trágicos, e até mesmo piratas por aí, e é natural que em algum momento tenhamos medo do que vamos encontrar por aí. Se eu puder ajudar na sua navegação, ficarei feliz, as cartas náuticas da Psicologia foram desenvolvidas para isso afinal, mas de toda forma, espero o melhor para você e todos nós.
De um psico-marinheiro da vida para todos os navegantes por aí procurando uma direção.
(O filme Divertida Mente [Inside Out], 2015, Disney-Pixar, ilustra bem várias questões relacionadas ao desenvolvimento e ao uso das emoções)Todos os dias e em quase todos os momentos estamos em contato com as nossas emoções e a psicologia científica estuda emoções desde o seu surgimento. Embora muitas estruturas, fenômenos e leis tenham sido investigadas, ainda não há um consenso sobre o que são as emoções e como elas acontecem. Diversos modelos de experiência emocional já foram propostos ao longo da história e, no texto de hoje, vou abordar algumas das principais teorias e descobertas que tocam a vida emocional humana. Quando falamos de emoção, falamos daquilo que é pulsional e mobiliza o comportamento em virtude de uma função (social/comunicação; proteção/sobrevivência); falamos daquilo que te faz sorrir e pular de alegria, de forma involuntária, frente à uma conquista, por exemplo; e falamos daquilo que acontece com você no caso de se deparar com um leão enorme rugindo na sua frente: você paralisa por um instante, sua pálpebra superior se eleva e sua pupila dilata, você encara a fera enquanto seu cérebro cuida de desviar o sangue do seu corpo em direção às suas pernas e, antes que você pense muito, já se percebe correndo/fugindo.
Falar de emoção é também se emocionar, olhar para si, para seus sinais corporais, expressões faciais, pensamentos associados, sentimentos, alterações respondentes (cardíacas, sudorese, enrubescer…). É falar sobre as valências emocionais, isso é, suas intensidades e sensações associadas (positivas ou negativas). É viver emoções primarias (básicas/universais) e secundárias (sociais/culturais). É tentar diferencias emoções, sentimos e afetos. É apreciar a leveza e a paz que um alívio pode trazer e perceber também que o nojo te protege de ingerir algo tóxico e prejudicial. Venha pela trilha emocional e lembre-se sempre que “as emoções determinam a qualidade das nossas vidas” (P. Ekman).
Charles Darwin: o pai do comportamento emocional
O comportamento emocional é essa força viva, universal e involuntária que faz o indivíduo responder de maneira previsível quando o assunto é a experiência emocional genuína/espontânea (quando uma pessoa, de fato, sente uma emoção). O trecho abaixo apresenta alguns exemplos do comportamento emocional.
O sorriso verdadeiro durante a vivência da alegria;
O paralisar, correr ou lutar frente à situação de perigo;
A elevação do pitch vocal e “tremor na voz” durante a sensação de ansiedade;
A dilatação e a contração pupilar referente não a alteração da luminosidade do ambiente, mas à alteração emocional particular de alguém;
O aumento no uso de gestos manipuladores durante a emoção negativa;
O ruborizar durante a vergonha ou raiva, por exemplo.
(Ferreira, 2018, p. 11)
(Duchenne realizou experimentos de eletroestimulação em músculos da face humana, durante uma investigação sobre a fisiologia das emoções que influenciou Darwin.)
Se hoje podemos falar de comportamento emocional universal, vale lembrar que foi em 1872 que Charles Darwin publicou “A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais”, onde propôs, de forma pioneira, que as emoções e suas expressões não seriam produto cultural ou decorrente de processos de aprendizagem, mas seriam universais e partilhadas, de maneira comum, por todos os membros de uma mesma espécie. Trocando em miúdos, segundo Darwin, todos os cachorros do mundo expressam raiva e medo da mesma forma e todos os humanos do mundo expressam alegria e tristeza da mesma forma, por exemplo, e isso acontece de forma instintiva – como resultado de uma interação dialética evolutiva entre a espécie, sua sobrevivência e seu meio. Ao longo do livro, Darwin relaciona diversos comportamentos (encolher-se, eriçar de pelos, empalidecer, elevar a pálpebra, abrir a boca, abaixar as sobrancelhas, franzir o nariz etc…) com base em suas funções práticas para lidar com uma situação
Como a surpresa é provocada por algo inesperado ou desconhecido, quando nos assustamos, naturalmente desejamos descobrir a causa tão logo quanto possível. E consequentemente, abrimos bem os olhos, de forma que o campo de visão seja ampliado, e os olhos possam mover-se facilmente em qualquer direção.
(Darwin, 1972/2009 p. 241)
Darwin chegou a essas suas conclusões por meio de suas próprias observações e arcabouços teóricos sobre a evolução e seleção natural, contou também com o aporte de relatos enviados por colegas viajantes que contavam como eram as expressões emocionais das pessoas em diferentes pontos da Terra e também se baseou nos trabalhos do Dr. Duchenne, que em 1862 publicou uma pioneira investigação fotográfica sobre a expressão facial das emoções em seres humanos.
Teoria James-Lange
Uma das primeiras teorias da emoção, dentro da chamada psicologia moderna, foi proposta por William James (1842-1910) e Carl George Lange (1834-1900), que chegaram às mesmas conclusões após trabalharem de forma independente. A premissa básica é que a sensação emocional vem depois de uma excitação fisiológica e, dessa forma, as emoções são vistas como a experiência de conjuntos de alterações corporais que acontecem após um estímulo emocional.
Para exemplificar, se pensarmos em uma situação que envolve um urso raivoso na nossa frente, a tendência é pensar que sentimos medo e então corremos/fugimos, mas a teoria James-Lange aponta uma outra ordem para os comportamentos. Ela vai nos dizer que primeiro há as alterações fisiológicas (elevação dos batimentos cardíacos, dilatação da pupila e comportamento de correr) para depois, com o conjunto disso, ser experienciada a emoção de medo. Trocando em miúdos, diz que não sentimos medo e por isso fugimos, mas fugimos e por isso, sentimos medo. Nessa visão, o princípio vale para todas as emoções e seus comportamentos associados, isso é, ficamos tristes porque choramos e não o contrário. Caso você se pergunte, por exemplo, por que se sente alegre? A teoria de James-Lange diria que, como você está respirando rápido e seu coração está mais acelerado, seu cérebro concluiu que você está alegre.
Estímulo emocional → Padrão de resposta fisiológica → Experiência afetiva
Talvez essa lhe pareça uma teoria absurda (é até considerada contra intuitiva), mas já existem estudos de informação retroativa (facial feedback hypotesys) que apresentam dados sobre como certas mímicas faciais e comportamentos acabam por disparar neurotransmissores específicos relacionados com estados emocionais (assunto esse, para outro post).
Teoria Cannon-Bard
Uma teoria posterior criticou a visão de James-Lange, ao afirmar que as mesmas manifestações fisiológicas poderiam estar presentes em emoções muito distintas, isso é, o medo é acompanhado sim por aumento da frequência cardíaca e sudorese, mas essas mesmas alterações fisiológicas acompanham outras emoções como a raiva, e até estados patológicos, como a febre. Dessa forma, Walter Cannon (1871-1945) e Philip Bard (1898-1977) propuseram que o sistema nervoso central seria o causador, tanto das manifestações fisiológicas, quanto da experiência emocional, e isso ocorreria ao mesmo tempo, como processos paralelos (e não sequenciais, em comparação com a teoria anterior). A teoria Cannon-Bard é conhecida também como uma teoria “talâmica” das emoções, em referência à estrutura cerebral “tálamo”, pois foi Bard quem descobriu que todas as informações sensoriais, motoras e fisiológicas tem que passar pelo diencéfalo (particularmente o tálamo), antes de serem submetidas a qualquer processamento adicional.
Dessa forma, frente ao mesmo urso raivoso, pela teoria Cannon-Bard, as mudanças fisiológicas (elevação dos batimentos cardíacos, dilatação da pupila e comportamento de correr) ocorrem ao mesmo tempo em que a sensação de medo enviada.
(Quadro comparativo entre as teorias James-Lage e Cannon-Bard)
O circuito de Papez
(imagem ilustra os componentes originais do circuito de Papez [interligados por setas grossas], e aqueles acrescentados por outros pesquisadores [interligados por setas finas]. Lent, 2010, p. 720).A teoria Cannon-Bard foi a primeira tentativa concreta de compreensão das bases neurais emocionais e acabou atraindo a atenção de vários neurocientistas. James Papez (1883-1958) foi um deles e foi responsável por mudar a noção de um “centro emocional cerebral” para um “sistema” ou “circuito cerebral das emoções“, isso é, revendo a literatura da época e apontando um conjunto de regiões associadas à experiência emocional.
Papez percebeu que essas regiões eram conectadas reciprocamente de modo “circular”, o que revelava uma rede neural que ficou conhecida como circuito de Papez. Mais tarde aproveitou-se um termo antigo criado pelo neurologista Paul Broca, e o circuito de Papez passou a ser conhecido como sistema límbico.
(Lent, 2010, p.720)
Paul Ekman: a teoria neuro-cultural
Uma vez que começamos com as propostas universais de Darwin, quero fechar o texto com descobertas emocionais que dialogam com as hipóteses dele. Com fins de recapitulação, Darwin disse, em 1862, que as expressões emocionais são inatas e universais. Com pesquisas transculturais realizadas, principalmente nos anos 1960 e 1970, foi possível validar a afirmação de Darwin para 6 emoções básicas com expressões faciais universais (alegria, tristeza, raiva, nojo, medo e surpresa), isso é, independente de onde nasceu e como foi criada uma pessoa, ao entrar em contato com uma dessas emoções, ela vai movimentar músculos na face que são organizados, conhecidos e previsíveis.
Um dos psicólogos responsáveis por mapear as expressões faciais universais foi Paul Ekman (1934- ) que, em um de seus estudos, comparou a expressão emocional entre japoneses e estadunidenses e percebeu que eles apresentavam as mesmas expressões faciais quando estavam sozinhos assistindo aos vídeos do estudo, mas que os japoneses, mais do que os estadunidenses, mascaravam emoções negativas (medo e nojo) com a exibição de um sorriso. Essa investigação apontou um fenômeno que hoje é conhecido como “regras de exibição” ou “costumes” (display rules) e, sobre elas, Ekman diz:
são socialmente aprendidas, muitas vezes culturalmente diferentes, a respeito do controle da expressão, de quem pode demonstrar que emoção para quem e de quando pode fazer isso. Eis por que, na maioria das competições esportivas públicas, o perdedor não demonstra a tristeza e o desapontamento que sente. As regras de exibição estão incorporadas na advertência dos pais: “pare de parecer contente”. Essas regras podem ditar a diminuição, o exagero, a dissimulação ou o fingimento da expressão do que sentimos.
(Ekman, 2003, p. 22)
(Paul Ekman e nativos Fore na Papua Nova-Guiné)
Em outro estudo posterior, Ekman foi para a Papua Nova-Guiné analisar a expressão emocional de uma tribo socialmente isolada – os Fore. Lá, com máquina fotográfica e fotografias de faces emocionais, ele chegou a conclusão sobre a universalidade de 6 emoções básicas inatas. Vale dizer que outros pesquisadores, como Carroll Izard, estavam, ao mesmo tempo, realizando estudos paralelos e chegaram a conclusões que também apontavam para a existência de expressões faciais universais. Ekman desenvolveu então a teoria neuro-cultural das emoções, que aponta características universais e inatas relacionadas às estruturas e ao funcionamento cerebral, mas também aponta a influência da cultura naquilo que diz respeito à permissividade ou não de uma exibição emocional. Foi só o começo…nos anos 70, uma ferramenta científica de mensuração da ação facial foi criada, o Facial Action Coding System (FACS), que permite analisar e medir qualquer expressão facial realizada por um ser humano. Nos anos 80, novas evidências foram encontradas e a emoção desprezo foi incorporada à lista das emoções básicas universais. Estudos comparativos entre atletas cegos e atletas com visão foram feitos e as expressões forma sempre as mesmas. Por meio das pesquisas de Ekman, hoje falamos também das famílias das emoções, isso é, o saber que a alegria compreende prazeres sensoriais, alívio, diversão, contemplação…. que o medo compreende ansiedade, receio, terror… que a raiva compreende aborrecimento, irritação, fúria… Por meio do legado de Paul Ekman, podemos também nos entreter assistindo o Lie to Me e nos deleitar com o, sempre emocional, Divertida Mente.
Referências
Darwin, C. (2009). A expressão das emoções no homem e nos animais. (Leon de Souza Lobo Garcia, Trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Obra original publicada em 1872).
Ekman, P. (2003). A linguagem das emoções: revolucionando sua comunicação e seus relacionamentos reconhecendo todas as expressões das pessoas ao redor. São Paulo: Lua de Papel.
Ferreira, C. (2018). Estudos sobre a mensuração científica da face humana: vol. 1 – o guia do emocionauta. São Paulo: CICEM Ed.
Lent, R. (2010) Cem bilhões de neurônios?: conceitos fundamentais de neurociência. São Paulo: Ed. Atheneu.
Quer saber mais sobre as emoções humanas? Sua estrutura, função e expressão? Inscreva-se já para o próximo curso presencial Introdução à Psicologia das Emoções. Mais informações aqui: http://cicem.com.br/introducao-psicologia-das-emocoes-sp/
Como funcionam as emoções? Por que existem? São importantes? Para que? São inatas? Ou são aprendidas? São culturais? Ou são universais? O que as ativa? Qual sua influência? São influenciadas? …
Esses tipos de perguntas têm me guiado nos meus estudos, trabalhos e pesquisas recentes. Algumas já foram respondidas, mas outras levam a mais e mais perguntas, por uma busca emocional insaciável. Considero-me hoje, um emocionauta e o meu foguete é a emoção. Aprendi a amar as emoções e não trocaria as minhas por nada. Compartilho de Paul Ekman, quando ele afirma: “emotions determine our quality of lifes” (as emoções determinam a nossa qualidade de vida – tradução livre).
Mas então, para começarmos, o que é uma emoção? Podemos compreender esse conceito, como fora definido, de forma analítica, por Freitas-Magalhães, em 2011, na sua obra O Código de Ekman:
Apesar da dificuldade na definição de emoção enquanto conceito consensual, a literatura atesta, porém, o envolvimento dos processos neuronais, motores e experienciais. A emoção é uma resposta automática, intensa e rápida, inconsciente e/ou consciente, perante o perimundo, e um impulso neuronal que leva o organismo a produzir uma acção (p.36)
A partir disso, podemos levantar questões como:
– Por que elas existem?
– Qual a importância das emoções?/ (Há importância?)
– Esse fenômeno é partilhado por todo mundo ou há diferenças?
– Qual foi o caminho traçado para se chegar ao conhecimento que temos hoje sobre essa temática?
Entre outros questionamentos, mas é em especial sobre a última pergunta, que o texto de hoje vem responder, de forma breve.
Ao falar sobre a origem e os principais estudos sobre a psicologia das emoções, uma das literaturas obrigatórias é a obra de Charles Darwin intitulada “The Expression of the Emotions in Man and Animals”, datada de 1872, que abordou, de forma pioneira e a nível científico, ideias que são aceitas até os dias de hoje, sobre o funcionamento das emoções. Neste livro, Darwin propôs, e pautado também por evidências de sua teoria evolucionista, que as emoções seriam básicas e universais, ou seja, partilhadas entre os membros da mesma espécie, e que suas exibições faciais também seguiriam este princípio, pois acionariam os mesmos músculos faciais frente às mesmas reações.
Anos mais tarde, já no século XX, a antropóloga Margaret Mead levantou a questão e discordou de Dawrin, afirmando que as emoções não eram universais, mas sim um produto variável de uma respectiva sociedade e cultura para outra diferente.
Com a necessidade de confirmar qual dos dois teóricos estaria certo, o psicólogo Paul Ekman foi a campo e pesquisou em países distintos como Japão, Estados Unidos e Brasil, para além do trabalho com aborígenes isolados socialmente, como a tribo virgem dos Fore, da Papua Nova Guiné. Estes estudos, juntaram evidencias suficientes para encerrar a questão e validar as afirmações de Darwin, até porque o também psicólogo Caroll Izard realizou estudos paralelos, com a mesma finalidade, no mesmo período, e chegou às mesmas conclusões.
Figura 1 – Fonte: Freitas-Magalhães, A. & Ferreira, C. (2017). F-M Basic Emotions FaceReader 7.0 (F-MBEFR7). Porto: Facial Emotion Expression Lab.
Paul Ekman catalogou 7 emoções básicas e universais, que correspondem a processos neuropsicofisiológicos específicos, capazes de acionar os mesmos músculos faciais em sujeitos de qualquer lugar do planeta. As 7 emoções básicas são: Alegria (Joy); Tristeza (Sadness); Medo (Fear); Raiva (Anger); Aversão (Disgust); Desprezo (Contempt); e Surpresa (Surprise). Sua pesquisa também apontou para variações culturais que dizem respeito às regras de exibição (display rules) e atuam como moderadoras da expressão facial da emoção, por exemplo, no modo como elas são exibidas e sustentadas no rosto, de forma socialmente aceita.
Sendo a face humana, um sistema de comunicação tão importante, e tendo a necessidade de estuda-la de forma adequada, foi desenvolvido um método de mensuração chamado Facial Action Coding System (FACS), cujo uso e domínio permite, entre outros exemplos: a identificação de patologias; a avaliação da dor; da motivação; o reconhecimento de uma emoção verdadeira; e a detecção das incongruências emocionais (mentiras); a percepção e antecipação à situações de violência etc… e dialoga com áreas da atuação e do conhecimento, como: clínica; educacional; organizacional; justiça; segurança; esportes etc…
A imagem abaixo mostra um display da expressão facial para cada emoção básica:
Figura 2 – Fonte: Ferreira, C. (2017). As Faces das Emoções Básicas (FEB). São Paulo: CICEM.
Abaixo, imagem do “pai da psicanálise” codificada pelo F-MGB Lab, utilizando o FaceReader 7.0, software de reconhecimento automático e em tempo real da expressão facial. Esta análise faz parte de um estudo que está sendo realizado sobre o reconhecimento automático da expressão facial, das unidades de ação faciais e da respectiva correlação aos estados emocionais.
Figura 3 – Fonte: Ferreira, C. (2017). F-MGBLab Base de Dados FaceReader 7.0. São Paulo: F-M Group Brasil Lab.
Ekman, P. (2003) Emotions revealed: recognizing faces and feelings to improve communication and emotional life. New York: Times Books.
Darwin, C. (2009). A expressão das emoções no homem e nos animais. (L. S. L. Garcia, Trad.). São Paulo: Companhia das Letras. (Original publicado em 1872).
Ferreira, C. (2017). As Faces das Emoções Básicas (FEB). São Paulo: CICEM.
Ferreira, C. (2017). F-MGBLab Base de Dados FaceReader 7.0. São Paulo: F-M Group Brasil Lab.
Freitas-Magalhães, A. (2011). O código de Ekman: o cérebro, a face e a emoção. Porto, Portugal: FEELab Science Books.
Freitas-Magalhães, A. (2012). Facial expression of emotion. In. V. S. Ramachandran (Ed.), Encyclopedia of Human Behavior (Vol. 2, pp. 173-183). Oxford: Elsevier/Academic Press, 2012.
Freitas-Magalhães, A. & Ferreira, C. (2017). F-M Basic Emotions FaceReader 7.0 (F-MBEFR7). Porto: Facial Emotion Expression Lab.