Será que ele/ela me trai? Se não deixa pegar o celular é porque tá Traindo, Bebendo ou por que o Relacionamento é Saudável?

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Será que devo mexer no celular do parceiro?

A resposta é categórica e definitiva: não se você quiser estar em um relacionamento saudável. Mas por quê?

A Era dos Smartphones

Se pudéssemos escolher algo que defina completamente a década atual, definitivamente o celular representaria bem este papel. Apesar de já existir há muito tempo, foi na segunda década do século XXI que o smarphone, o celular como conhecemos hoje, se difundiu.

Acesso à internet, acesso às mais diversas redes sociais, conexão muda ou não com o mundo inteiro. Hoje é possível conversar, de graça, com alguém do outro lado do mundo sem dizer uma palavra sequer, quase que inutilizando as operadoras de telefonia. Mas, falando à China ou à esquina, algo não mudou: a comunicação deixa rastros – e é exatamente sobre eles que este texto vai falar sobre.

Só uma olhadinha…

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Estar em um relacionamento pode ser algo extremamente agradável, ou não. Mas Freud já nos avisou que estamos fadados a continuar procurando referências nossas citadas por alguém. Ou seja: continuaremos procurando aquelas coisas – ansiedades, desejos, traços, comportamentos, imagens, semblantes, alturas, vozes, etc – que completariam aquela figura idealizada por nós do parceiro perfeito. E ok, isso acontece. Não há nada de errado em querermos quem nos lembre (ou nos faça esquecer) de nossos pais, irmãos ou até de nós mesmos. O problema é quando solicitamos (ou ordenamos) provas cabais de que estamos ao lado desta pessoa que queremos. Pior ainda: quando isso é feito de sob intensa vigília.

A fidelidade – o ato de ser fiel – é um fardo muito grande. O fiel, segundo o dicionário, é aquele que tem fé, aquele que acredita mesmo sem provas. Mas será? Não é incomum encontrarmos relacionamentos onde as pessoas pedem “provas” da monogamia exercida pelo outro. E na Era Digital, na Década dos Smartphones, algumas pessoas querem o direito – apenas exercido pelos que detiverem um mandado judicial – de vasculhar o celular do par romântico, nem que seja só uma olhadinha.

Tá escondendo o quê?!

Há uma semelhança muito grande entre o ciúmes e a paranoia: a certeza. Assim como o indivíduo paranoico tem certeza de que estão falando, rindo, tramando contra ele, o ciumento tem a certeza de que é traído. A diferença é que a paranoia não é tão reforçada e romantizada na nossa sociedade: através de novelas, músicas e filmes. Mesmo que, em ambos, seja muito difícil (e desgastante) mostrar para aquele indivíduo que ele está errado. E já que estamos na Era dos Smartphones, qual seria a principal fonte de provas para as nossas convicções? Sim, você acertou. Aquele que, em muitos banheiros do mundo, desempregou os rótulos de shampoo; aquele que nos salva de filas de banco e até da solidão e ansiedade de esperar por alguém em algum lugar: o celular. Detentor de rastros de quem somos, do que fizemos e de nossos planos. E se você se recusar? Estará reforçando aquela certeza que já existia, logo, está escondendo alguma coisa errada. Portanto, está traindo.

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Mas vou como saber se a pessoa está sendo fiel?

No bom e velho português? Você não vai. Me preocupa que principalmente no Brasil, algo seja de uma naturalidade que me causa muito espanto: a condenação ocorre antes da acusação e o único advogado de defesa possível é a renúncia do direito à privacidade! Mas se a fidelidade é a Lei, e esta deve ser cumprida como regra, não deveria ela então, como toda regra, ter uma exceção? Pelo menos, acredito eu, em sua “fiscalização”, deveria. Pois já sabemos: o preço da fiscalização eficiente é a liberdade. Mas seria este, necessariamente, o preço de um relacionamento? Talvez não em um que seja considerado saudável.

A fidelidade é um presente que não se pode desembrulhar para saber como é. É como aquele caro adorno que se dá para alguém que pouco se vê: você nunca saberá se a pessoa ficou grata ou jogou no lixo, mas sempre terá a certeza de que você fez o seu melhor e acredita que a pessoa faria o mesmo por você.

É preciso confiar

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É preciso confiar na pessoa que escolheu para dividir suas alegrias e tristezas; saúdes e doenças; riquezas e pobrezas, pois assim somente a morte – literal ou figurada – de seu amor os separará; e não o ciúmes, a vigília, ou pior, o celular. Mil vezes a pessoa sorrirá lendo uma mensagem, dez mil ouvindo um áudio; mas se há confiança, tu não se sentirás traído.

Só se ama alguém que seja digno de nossa confiança. E convenhamos, o que te faz ficar com quem não merece a sua? Uma coisa é certa: enquanto continuarmos procurando n’outro a nossa certeza de uma traição, a dúvida do quanto somos amados ou o interesse deste por outrem: encontraremos, existindo ou não. Mas vale lembrar o que a necessidade desta procura já nos conta: se olharmos para dentro, veremos que tudo isso está morando conosco já há muito antes.

Talvez seja a hora de terminar com a insegurança.

Por Caio Cesar Rodrigues