Você já parou para pensar o que é psicopatologia? Atualmente, esse termo tornou-se um pouco mais comum entre nós, porém, é fundamental esclarecer o verdadeiro significado dele. Segundo o autor Dalgalarrondo ao recorrer ao pensamento do pesquisador Campbell a psicopatologia é um ramo da ciência que trata da natureza essencial das doenças mentais, na qual busca estudar as causas, mudanças estruturais e funcionais que afetam e alteram as cognições dos sujeitos que são acometidos por elas e podem vir a ser associadas a vários tipos de transtornos com algumas formas distintas de manifestação. Em outras palavras, a psicopatologia pode ser definida como um conjunto de saberes que referem-se ao adoecimento mental do ser humano. 

A psicopatologia clássica volta o seu olhar para o sintoma e suas causas, elencando uma série de sintomas que são utilizados como base para poder certificar o fator pré-determinante para classificar uma doença mental, em outras palavras, a metodologia clássica está voltada para a doença e não para o doente. Contrapondo este ponto fundamental, a psicopatologia fenomenológica propõe reflexões fundamentais e busca compreender o sujeito em sua totalidade, considerando suas particularidades de maneira clara, além de compreender também todos os aspectos psíquicos e físicos que afetam o indivíduo em questão.

Uma das referências modernas em psicopatologia é Karl Jaspers, que entende essa ciência como auxiliar a psicologia clínica e a psiquiatria, e tece alertar importantes sobre como não se deve usar o conhecimento desta para padronizar ou apenas classificar levianamente os indivíduos. Jaspers propõe que não se deve reduzir o homem aos conceitos da psicopatologia, utilizando até a famosa frase “nosso tema é o homem todo em sua enfermidade”, para evidenciar a importância de se destacar o homem enquanto subjetividade e vivência e não impor o conceito patológico a este. Dessa forma, é importante saber até onde podemos ir pelo caminho das classificações e como o indivíduo não pode ser esquecido.

O que se pretende quando falamos sobre psicopatologia fenomenológica é estabelecer um caminho para a compreensão do sofrimento emocional a partir de um olhar não padronizado, como vemos na psicopatologia clássica, e sim valorizar a vivência do indivíduo frente ao que se apresenta como sofrimento, e até o lugar ocupado por este sofrimento ou angústia como parte do processo existencial, conforme explica Karwowski:

Isso posto, posso concluir que a psicopatologia fenomenológica revela, em última instância, as condições precárias do próprio estudioso; não mais pela ausência de garantias que a detenção do conhecimento psicopatológico poderia oferecer contra a ocorrência das psicopatologias no próprio estudioso, pois essas garantias o mero estudo da psicopatologia clássica já havia feito ruir; mas pelo fato de revelar naquela normalidade segura que se supunha habitar (livre de angústias, temores e sofrimentos) a própria angústia, o temor e o sofrimento, não como estruturas supostamente psicopatológicas, mas como elementos ontológicos, logo, inarredáveis da existência humana.  

O caminho aqui é aquele que se molda a partir do cliente, podemos estabelecer que partimos da redução fenomenológica, como o processo dar valor às experiências da pessoa em relação a queixa então apresentada, é aproximar-se do fenômeno com os olhos de quem te procura e não com uma verdade já pré-estabelecida.

Parte importante da ideia de uma compreensão fenomenológica da psicologia e psicopatologia é entender o conceito de intencionalidade, em nossa relação como mundo, atribuímos sentido às coisas, as pessoas e ao sofrimento, este entendimento é vital para um direcionamento do existencial fenomenológico no contexto das psicopatologias. 

Temos aqui então a compreensão de que a psicopatologia é uma vital área das ciências voltadas a saúde mental, estabelece leis e padrões que auxiliam a melhor conhecer e tratar os diversos fenômenos psicopatológicos que podem envolver cada ser humano, ao passo que não podemos deixar de olhar para a individualidade ao expor essa pessoa a esses conceitos. O que a fenomenologia nos propõe é pensar o homem a partir dele mesmo e não do conceito pronto e redutivo que pode ser as classificações mentais.

Referências:

DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. São Paulo, 2008. 


Karwowski, Silverio Lucio. Por um entendimento do que se chama psicopatologia fenomenológica. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/rag/v21n1/v21n1a07.pdf. Acesso em 11/08/2021.

FORGHIERI, Yolanda Cintrão. Psicologia fenomenológica: fundamentos, método e pesquisa. São Paulo : Pioneira Thomson Learning, 2002.

KARWOWSKI, Silverio Lucio. Por um Entendimento do que se chama Psicopatologia Fenomenológica. Revista da Abordagem Gestáltica – Phenomenological Studies – XXI(1): 62-73, jan-jun, 2015

Por: 

Psi. Rauane Monte Mor

Instagram: @rauanemor.psi 

e Patrício Lauro


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