O termo “Zoom Fatigue” começou a circular pela mídia em 2020 e tem se intensificado cada vez mais devido a adoção e popularização das videoconferências

Desde março de 2020, quando nos vimos forçados a adaptar a rotina e relações sociais por conta da pandemia de COVID-19, o uso de aplicativos para vídeo conferência, como Teams, Google Meets e Zoom mais que duplicaram. Segundo pesquisa da CNN Brasil (2020), o download do aplicativo Microsoft Teams cresceu cerca de 500% em 2020, quando comparado o mesmo período em anos anteriores. 

Impulsionado pelo aumento no uso dos aplicativos de vídeo conferência, o professor Jeremy Bailenson, fundador do Laboratório de Interação Humana Virtual de Stanford (VHIL), examinou as consequências psicológicas de passar muitas horas por dia na frente do computador e plataformas de comunicação. Assim como o nome “Google” e “Twitter” se tornaram verbos com o passar dos anos, o termo “Zoom” (empresa estadunidense que fornece serviço de chamadas por vídeo, criada em 2020) passou a ser utilizado como um verbo genérico, sinônimo de reuniões. 

Jeremy identificou quatro causas, em nosso corpo e mente ,decorrente das exposições virtuais prolongadas que contribuem para o chamado “Zoom fatigue” também traduzido como o cansaço do Zoom.

  • Quantidade excessiva de contato visual durante uma reunião por vídeo conferência

Quando estamos em uma reunião com mais de duas pessoas e todas estão com suas câmeras abertas, fazemos contato visual com mais de uma pessoa ao mesmo tempo, enviando estímulos excessivos ao cérebro, algo que não aconteceria no formato presencial, onde nosso campo de visão limita a quantidade de pessoas e de informações em um mesmo espaço de tempo.

  • Visualizar a si mesmo durante uma reunião é altamente estressante 

Já imaginou se alguém te seguisse fisicamente com um espelho e você pudesse observar a si mesmo a todo instante? Certamente lhe causaria um incômodo ou até mesmo um mal-estar. Mas, é o que acontece quando estamos diante de uma reunião, consulta, chamada com as câmeras ligadas. 

  • O dia a dia virtual reduz drasticamente a mobilidade 

Muitas vezes permanecemos por um longo período de tempo na mesma posição, seja por reuniões ou pelo dia a dia de trabalho virtual, algo que no numa rotina “normal” seria diferente, pois teria o deslocamento entre casa x trabalho, estudo, compromissos, etc. Assim, nossos movimentos são limitados de um jeito não natural. 

  • Aumento na carga cognitiva durante videoconferências

Durante uma chamada, nosso cérebro tem que trabalhar muito mais para assimilar os sinais verbais e não verbais emitidos por todos os envolvidos. 

Em uma conversa presencial, comunicações não verbais fluem naturalmente, ao ponto que raramente prestamos atenção em nossos gestos. No contato virtual, essa realidade já não se aplica como antes. A depender da mensagem que queremos passar, necessitamos dar mais ou menos ênfase aos gestos, expressões faciais, olhares, tom de voz, entre outros, o que nos exige mais atenção e, consequentemente, atividade cerebral. Por isso, além da exaustão, queixas em relação a dores de cabeça, dores musculares, olhos cansados e irritados também são comuns. 

Como encontrar um equilíbrio entre a demanda de interações virtuais e o bem-estar físico e emocional?

Entendendo alguns dos motivos que nos leva a esse estado de exaustão, é possível adotar algumas medidas práticas para amenizar seus efeitos: 

  • Estabeleça uma rotina onde você possa organizar suas tarefas, ter horários para as refeições e também pausas durante suas atividades;
  • Continue ou crie rituais que possam te ajudar a ter hábitos e rotinas saudáveis. Se antes você achava que seu dia só começava depois de tomar banho ou de uma xícara de café, mantenha isso mesmo estando em casa, por exemplo. 
  • Prepare o ambiente em que você passará grande parte do dia para que você se sinta bem e confortável. Isso vale desde verificar a luz do ambiente até questões de ergonomia. 
  • Estabeleça limites de horário para as suas diferentes atividades e compromissos. Encontrar um equilíbrio entre as nossas atividades também é importante, seja trabalho, estudo, obrigações de casa e/ou autocuidado. Todos são pilares importantes que merecem nossa atenção e tempo. 

E a Síndrome de Burnout?

Embora a Síndrome de Burnout e o Zoom Fatigue possam parecer semelhantes, não o são. O Zoom Fatigue é um estado de exaustão causado pela exposição virtual prolongada, enquanto que a síndrome expõe a complexidade das relações de trabalho e sentimentos negativos associados a ele.

A Síndrome de Burnout é um distúrbio psíquico caracterizado pelo estado de tensão emocional e estresse provocados por condições de trabalho desgastantes, sejam elas físicas, emocionais e/ou psicológicas. 

O transtorno está registrado no grupo 24 do CID-11 (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde) como um dos fatores que influenciam a saúde ou o contato com serviços de saúde, entre os problemas relacionados ao emprego e desemprego. A síndrome se manifesta, principalmente, em profissionais que têm envolvimento interpessoal direto e intenso e apresenta sintomas característicos como perda de interesse, isolamento, alterações de humor, dificuldade de se desconectar do trabalho, entre outros. 

Tanto a Síndrome de Burnout quanto o Zoom Fatigue são assuntos relevantes e cada vez mais presentes na vida dos brasileiros, trazendo efeitos negativos para os âmbitos individual e coletivo e, portanto, exigindo atenção dos profissionais da saúde e também organizações. O resgate da qualidade de vida e bem-estar individual não é só fundamental, mas possível. 

Por Bruna Passarelli

Referências

CNN Brasil. Videoconferências aumentam na pandemia. Abril, 2020. Disponível aqui.

Stanford University. Four causes of zoom fatigue and solutions. Fevereiro, 2021. Disponível aqui


1 comentário

Motivação: Um mecanismo biológico que impacta nossas vidas | Sociedade dos Psicólogos · 10 de julho de 2021 às 17:06

[…] Zoom Fatigue: O que é esse esgotamento mental e como amenizá-lo […]

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