Dra. Barbara Fredrickson (Reprodução/CNW Group/Tang Foundation)

amor é aquele micromomento de calor e conexão que você compartilha com outro ser vivo” (Fredrickson, 2015, p. 16)

Pioneira no estudo de emoções positivas, Barbara Fredrickson, PhD, é professora do departamento de psicologia da Universidade da Carolina do Norte de Chapel Hill e diretora do Positive Emotions and Psychophysiology Lab (PEPLab).

Embora seja considerada uma das principais pesquisadoras da atualidade em psicologia positiva, suas investigações sobre emoções positivas e bem-estar antecedem o nascimento dessa abordagem que ganhou forças e recursos a partir de 1998.

No Brasil há 2 livros dela que foram traduzidos e publicados, mas cujas tiragens estão esgotadas. (Positividade, 2009, Ed. Rocco; e Amor 2.0, 2015, Companhia Editora Nacional).

Teoria de Ampliar-e-Construir

Em um dos primeiros contatos que tive com a obra da Dra. Fredrickson esbarrei em sua teoria de ampliar-e-construir (ampliar-e-desenvolver, na tradução de 2015) (broaden-and-build theory), que busca elucidar a função das emoções positivas. Isto é, em boa parte da história da psicologia, essa se debruçou sobre as emoções negativas (medo, raiva, nojo, tristeza…), o que permitiu compreender diversos aspectos associados a elas, como funções sociais e protetivas, comportamentos associados, expressividade e também os desenrolares psicopatológicos, mas pouco se estudou e se entendeu sobre as emoções positivas para além da questão de que elas nos fazem se sentir bem.

E é aí que entra essa teoria de Fredrickson: assim como as emoções negativas reduzem o nosso leque cognitivo e comportamental, nos direcionando para ações e avaliações mais restritas, as positivas compreendem o oposto, isto é, ampliam nossos pensamentos e possibilidades de ação. As negativas têm mais relação com a sobrevivência e o “salvar a pele”, por isso as respostas comportamentais são mais restritas e direcionadas, enquanto as positivas não nos direcionam a realizar uma ou duas ações, mas sim expandem nossas opções mentais e comportamentais, momentaneamente, ampliando nossa consciência e possibilitando a construção de recursos saudáveis e duradouros.

Em uma situação de risco de vida, um repertório de pensamento-ação restrito promove uma ação rápida e decisiva que traz benefícios diretos e imediatos: tendências de ação específicas provocadas por emoções negativas representam o tipo de ação que funcionou melhor para salvar a vida e os membros de nossos ancestrais em situações semelhantes.
No entanto, emoções positivas raramente ocorrem em situações de risco de vida. Como tal, um processo psicológico que restrinja o repertório momentâneo de pensamento-ação de uma pessoa para promover uma ação rápida e decisiva pode não ser necessário. Em vez disso, as emoções positivas têm um efeito complementar: em relação aos estados neutros e à ação rotineira, as emoções positivas ampliam os repertórios momentâneos de pensamento-ação das pessoas, ampliando a gama de pensamentos e ações que vêm à mente. A alegria, por exemplo, cria o desejo de brincar, ultrapassar os limites e ser criativo.

Fredrickson, 2004, p. 1369, tradução livre.

E o Amor?

Bem, em um texto que escrevi para um outro portal, abordei 10 emoções positivas estudadas pela Drª Fredickson (admiração, inspiração, diversão, orgulho, esperança, interesse, serenidade, gratidão, alegria e amor). Diferentemente de outros psicólogos que podem considerar o amor como um sentimento ou como uma construção afetiva, Fredrickson compreende como uma emoção e como a emoção suprema. “Amor é nossa emoção suprema, que nos faz sentirmos vivos de verdade e completamente humanos. Talvez seja a experiência emocional mais importante para a vitalidade e para o crescimento” (Fredrickson, 2015, p. 17). Ela compreende a nossa necessidade de amor como uma necessidade biológica, comparando-a com a nossa necessidade de oxigênio.

Para essa pesquisadora, o amor não é: desejo sexual; romance; compromisso; vínculo; exclusivo; permanente; e incondicional. O amor é:uma emoção, um estado momentâneo que surge e flui por sua mente e seu corpo” (Fredrickson, 2015, p. 23). Essa experiência envolve 3 fenômenos:

  1. O compartilhamento de uma ou mais emoções positivas entre você e outra pessoa;
  2. Sincronia entre a bioquímica e comportamento de vocês dois;
  3. Um motivo das duas partes para investir no bem-estar um do outro que se transforma em atenção mútua.

Dessa forma, o amor é uma emoção e, como emoção, é rápido e medido em segundos ou minutos, mas não em meses e anos. Do ponto de vista climático, ele eleva a temperatura do nosso corpo durante a experiência, calor esse e conexão sentidas por ambas as pessoas ou grupo de pessoas. O amor é uma emoção compartilhada e envolve um investimento das duas partes no cuidado e bem-estar do outro. Lembro que, durante o curso livre que fiz com a Drª Fredrickson, ela disse algo como ‘uma pessoa faz café da manhã pra você, você não ama essa pessoa, mas essa pessoa que faz o café pra você tem uma propensão a mais de experienciar o amor por você’. Na página 25 do livro Amor 2.0 ela diz que: [o amor] “é aquela pontada áspera no coração que você sente quando olha nos olhos de um recém-nascido pela primeira vez ou dá um abraço de adeus em um amigo querido. É também a ternura e a sensação de um propósito mútuo que você pode inesperadamente sentir em meio a um grupo de estranhos que se reuniu para ver a eclosão dos ovos de tartarugas marinhas ou torcer em um jogo de futebol. O novo ponto de vista sobre o amor que desejo compartilhar com vocês é este: o amor aflora praticamente em qualquer momento quando duas ou mais pessoas – mesmo estranhos – se conectam por meio de uma emoção positiva, seja ela intensa ou nem tanto“.

Amor é nossa emoção suprema: sua presença ou ausência em nossas vidas influencia tudo que sentimos, pensamos, fazemos e nos tornamos. É o estado recorrente que o prende – seu coração e seu cérebro – à sociedade, aos corpos e cérebros daqueles em seu meio. Quando vivencia o amor – amor de verdade, que expande o coração/mente/alma -, você se torna mais capaz não só de enxergar as complexas relações da vida e a injetar vida nas conexões que importam a você, mas também a se colocar em um caminho que leva a mais vitalidade, felicidade e sabedoria.

Fredrickson, 2015, p. 21

Vale dizer que nessa publicação de 2015, boa parte do livro envolve práticas como a meditação gentileza-amorosa, desenvolvida e testada em laboratório pela Drª Fredrickson, mas que merece um texto próprio e que virá em uma futura publicação minha para esse portal.

Referências

Fredrickson B. L. (2001). The role of positive emotions in positive psychology. The broaden-and-build theory of positive emotions. The American psychologist56(3), 218–226. https://doi.org/10.1037//0003-066x.56.3.218

Fredrickson, B.L. (2003). The Value of Positive Emotions. American Scientist. https://doi.org/10.1511/2003.4.330

Fredrickson B. L. (2004). The broaden-and-build theory of positive emotions. Philosophical transactions of the Royal Society of London. Series B, Biological sciences359(1449), 1367–1378. https://doi.org/10.1098/rstb.2004.1512

Fredrickson, B.L. (2015). Amor 2.0. São Paulo: Companhia Editora Nacional.

Amor é a abertura efêmera e preciosa que você sente bem lá no peito, e não um anel sólido feito de metal precioso na sua mão esquerda” (Fredrickson, 2015, p. 24)

por Caio Ferreira


0 comentário

Deixe um comentário

Avatar placeholder

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *