Assim como Ana M. B. Bock fala, e bem, sobre Psicologias no lugar de psicologia, torna-se muito adequado empregar a expressão em plural quando o assunto também diz respeito à psicopatia e, sendo assim, o seguinte texto busca mostrar um pouco do porquê disso.

Muito se fala sobre psicopatia, seja nos jornais, no cinema (serial killers), best-sellers, na academia, na área da saúde e etc, e esse tema além de gerar terror e fascínio, também ganha modificações da ficção e das repercussões e gera confusão naquilo que diz respeito ao seu claro entendimento. Então, por onde ela é compreendida? / o que é a psicopatia e como ela se apresenta? / quais suas características? / como estudar, diagnosticar, prever, tratar??

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A Psicopatia no DSM-V

Uma das curiosidades iniciais é que ao buscar o termo no DSM-IV e DSM-V, este último, a versão atualizada de uma das principais referências internacionais para diagnóstico e tratamento das desordens mentais, a palavra psicopatia não é encontrada enquanto um transtorno descrito, mas aparece, juntamente à sociopatia, enquanto sinônimo do Transtorno de Personalidade Antissocial (TPAS). Sendo assim, percebe-se que a psicopatia guarda uma apontada relação com o TPAS, mas seriam a mesma coisa?

Para tentar compreender a situação, é necessário voltar à origem do termo e analisar suas transformações.

O Termo Psicopatia

Olhando para a história, encontramos que o termo já foi utilizado de forma genérica para sinalizar diversas patologias mentais, até ser, como nos dias de hoje, associado ao comportamento e a personalidade antissocial.

“Foi (Emil) Kraepelin quem cunhou o termo personalidade psicopática em 1904, incluindo nesta categoria os casos de inibição do desenvolvimento da personalidade, tanto na esfera afetiva como na volitiva, e, também, alguns casos iniciais, fronteiriços de psicose”

(Shine, 2000, pp. 14-15)

Falar de psicopatia ainda é um assunto de divergências entre literaturas e um terreno nebuloso de solo instável quando se busca um consenso científico, haja visto o termo sociopatia, empregado pelos behavioristas, que vem apontar o papel das contingências de aprendizagem, por meio do reforçamento e punição, ou seja, a importância do meio para a construção do quadro. Este termo é aceito e utilizado por alguns livros, mas completamente excluído por outros.

“alguns médicos e pesquisadores, assim como a maioria dos sociólogos e criminologistas que acredita que a síndrome é forjada inteiramente por forças sociais e experiências do início da vida, preferem o termo sociopatia, enquanto aqueles, incluindo este autor, que consideram que fatores psicológicos, biológicos e genéticos também contribuem para o desenvolvimento da síndrome geralmente usam o termo psicopatia”.

(Hare, 2013, p. 39)

Dentro da ótica psicodinâmica, existem diversos conceitos que já foram empregados por autores distintos e se relacionam, em algum nível, com a temática exposta, como: personalidade psicopática, caráter psicopático, caráter antissocial, caráter impulsivo, organização psicopática da personalidade, tópica do psicopata, perversão de caráter, comportamentos dissociais, tendências antissociais, perversão e perversidade, entre outros…

Embora os termos variem bastante, eles costumam fazer referência a um ponto padrão, que é a questão do comportamento antissocial, isto é, a presença constante de atos que vão contra as normas e instruções sócio-culturais partilhadas por grupos e comunidades. Os atos delituosos, transgressores e cruéis são considerados antissociais e seu aparecimento na infância relaciona-se com o conceito de tendências antissociais, proposto pelo psicanalista inglês D. W. Winnicott e fenômeno confirmado com a análise do desenvolvimento de diversos psicopatas e serial killers.

O Psicopata e o Serial Killer

Neste momento, vale a pena frisar a diferença entre o psicopata e o serial killer. Quando se fala em psicopatas e psicopatia, ainda que o termo possa ser observado por diversas e distintas óticas, faz parte da área da saúde e diz respeito ao funcionamento de personalidade de acordo com instancias psíquicas, cerebrais e/ou comportamentais. Já o termo serial killer é próprio do campo da criminologia e diz respeito a uma modalidade de assassinato. Em resumo, podemos encontrar serial killers que não são psicopatas e psicopatas que não são serial killers.

Vale dizer que os motivos que levam aos crimes e aos assassinatos não são exclusivos da psicopatia e também são observados em outros transtornos de personalidade, bem como no considerado funcionamento normal da personalidade.

No curso de As Psicologias do Psicopata, oferecido pela Sociedade dos Psicólogos, apresentamos e discutimos os fenômenos que levam indivíduos de personalidades neuróticas, perversas e psicóticas a apresentarem comportamentos antissociais. Foi percebido que a contribuição do estruturalismo, apresentado pela psicologia Lacaniana à nível de estruturas de personalidade e da relação desta com o objeto de desejo, guarda não só fortes relações com a psicopatia (quando correspondemos ao conceito de perversão), mas nos parece ter facilitado, enquanto aporte teórico-didático, na compreensão desta por meio dos participantes dos cursos.

Psychopath Checklist Revised (PCL-R)

Outro método de avaliação da psicopatia foi feito por Robert D. Hare, chama-se Psychopath Checklist Revised (PCL-R), tem grande consenso internacional, foi adaptado no Brasil por Hilda C. P. Morana e está validado desde o ano 2000.

“A Psychopath Checklist permite a discussão das características dos psicopatas sem o menor risco de descrever simples desvios sociais ou criminalidade ou de rotular pessoas que não tem nada em comum, a não ser o fato de terem violado a lei. Ela também fornece um quadro detalhado das personalidades perturbadas dos psicopatas que se encontram entre nós”.

(Hare, 2013, p. 48)

A PCL-R (também conhecida como Escala Hare) é composta por: manual de critérios para pesquisa; caderno de pontuação; roteiros para entrevistas e informações; e protocolos. Por meio dela são pontuados critérios emocionais e comportamentais como: falta de empatia; eloquente e superficial; ausência de remorso ou culpa; enganador e manipulador; impulsivo; problemas de comportamento precoces; entre outros, que resultarão, quando somados, em um grau de psicopatia ou não referente à um indivíduo específico.

O Cérebro do Psicopata

Outro tópico fundamental para a compreensão das Psicologias do Psicopata diz respeito aos aportes e descobertas da neurociência, que vem apontando padrões encontrados no funcionamento cerebral de psicopatas.

Já ouvi por mais de uma vez que “o psicopata não tem emoção”. Trata-se essa de uma falácia que muita gente acredita, mas que não é verdade. O psicopata tem emoção e pude confirmar com várias análises que fiz sobre a expressão facial da emoção de psicopatas durante relatos de seus atos. O que o psicopata geralmente não tem (vale dizer que alguns estudos já mapearam exceções) são sentimentos de culpa e remorso.

Em resumo, a literatura aponta para falhas no funcionamento do córtex pré-frontal e em suas conexões com a amigdala – região do sistema límbico considerada o centro emocional do cérebro. As perturbações nessas estruturas resultam em deficiências na função executiva, isto é, planejamento, controle inibitório, tomada de decisões e controle social, por exemplo, conduzindo a uma maior agressividade, impulsividade e manifestação de comportamentos antissociais.

A História de Charles Manson

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Referências consultadas

American Psychiatric Association (2014). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed.

Bock, A. B. M.; Furtado, O. & Teixeira, M. L. T. (2013). Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia. São Paulo: Saraiva.

Casoy, I. (2014). Serial killer made in Brazil: histórias reais, assassinos reais. Rio de Janeiro: DarkSide Books.

Hare, R. D. (1973). Psicopatia: teoria e pesquisa. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos.

Hare, Robert. D. (2013). Sem consciência: o mundo perturbador dos psicopatas que vivem entre nós. Porto Alegre: Artmed.

Goleman, D. (2012). O cérebro e a inteligência emocional: novas perspectivas. Rio de Janeiro: Objetiva.

Morana, H. C. P.; Stone, M. H.; Abdalla-Filho, E. (2006). Transtornos de personalidade, psicopatia e serial killers. Rev. Bras Psiquiatr., 26, 74-79.

Shine, Sidney K. (2000). Psicopatia. São Paulo: Casa do Psicólogo

Por Caio Ferreira

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