Jean William Fritz Piaget (1896-1980) foi um psicólogo, biólogo e epistemólogo suíço, considerado um dos pensadores mais influentes do século XX. Sua teoria do desenvolvimento cognitivo revolucionou a compreensão de como as crianças aprendem e constroem o conhecimento ao longo de diferentes estágios da vida.
Explorador de temas e conceitos como hereditariedade, maturação, adaptação, esquema, equilíbrio, entre outros, recusou a redução da inteligência aos testes psicométricos de QI e compreendeu que, desde o bebê esse já apresenta uma inteligência voltada às atividades sensório-motoras. Hoje vamos enfatizar os aspectos centrais da sua teoria que compreende quatro estágios sequenciais do desenvolvimento cognitivo humano: o sensório-motor (0-2 anos), o pré-operatório (2-7 anos), o operatório concreto (7-11 anos) e o operatório formal (11 anos em diante). Cada estágio é caracterizado por formas específicas de pensamento, raciocínio e interação que acompanham a maturação biológica e psicológica da criança.
Segundo Piaget, as crianças vêm a entender o mundo utilizando esquemas, estruturas psicológicas que organizam a experiência. Ou seja, esquemas são categorias mentais de acontecimentos, objetos e conhecimentos relacionados. Para o bebê, a maioria dos esquemas se baseia em ações.
(Kail, 2004, p. 142)
Embora Piaget enfatizasse os componentes biológicos e de crescimento do bebê e da criança, ele também julgava essencial a importância do ambiente, da estimulação (visual, auditiva, tátil e motora) e da aprendizagem social como determinantes para o desenvolvimento cognitivo. (Biaggio, 1991).
No caso de Piaget, não há dúvida também que o crescimento orgânico, a maturidade neurológica e fisiologia geral seja um dos determinantes fundamentais do desenvolvimento psicológico, mas este não será dado à criança. Ela quem irá construir seu crescimento mental. A criança é vista como agente de seu próprio desenvolvimento. Ela ira construir a partir dos quatro determinantes básicos, já citados anteriormente (maturação, estimulação do ambiente físico, aprendizagem social e tendência ao equilíbrio); e este processo é observado em todas as crianças.
(Rappaport et al, 1981, p. 64)
Sem mais delongas, vamos os 4 estágios.
Os 4 Estágios do Desenvolvimento Cognitivo
1. Estágio Sensório-motor (0-2 anos):
O estágio sensório-motor, primeiro dos quatro estágios propostos por Jean Piaget, marca um período crucial na vida do ser humano. É nesse momento que os bebês iniciam sua jornada de exploração e descoberta do mundo, lançando as bases para todo o aprendizado futuro.
- Durante este estágio, os bebês aprendem sobre o mundo principalmente através dos órgãos dos sentidos (visão, audição, tato, paladar, olfato, equilíbrio) e das ações motoras básicas (como agarrar, chutar, sugar);
- Ações reflexas iniciais, como agarrar instintivamente um objeto que é colocado na palma da mão, evoluem para ações intencionais e exploratórias à medida que o bebê ganha controle sobre seus movimentos;
- As principais realizações incluem o desenvolvimento do conceito de permanência do objeto – a compreensão de que os objetos existem mesmo quando não são percebidos – isto é, os bebês não têm a compreensão e agem como se o objeto desaparecesse quando ele não está mais visível, isso costuma ocorrer pelos 8 ou 9 meses;
- Inicialmente, os bebês podem não demonstrar essa compreensão completa, mas à medida que o estágio sensório-motor avança, eles desenvolvem a capacidade de procurar por objetos escondidos e manifestam desconforto quando um objeto familiar desaparece de vista.
- Aparecimento da coordenação de ações físicas simples para atingir objetivos.;
- A linguagem começa a se desenvolver no final deste estágio, à medida que os bebês associam sons e gestos a objetos e situações específicas, mas o pensamento ainda é principalmente prático e baseado em ações físicas;
- Também inclui o desenvolvimento das primeiras interações sociais e emocionais. Os bebês começam a reconhecer rostos familiares, respondem às expressões faciais e começam a desenvolver vínculos emocionais com cuidadores.
2. Estágio Pré-operatório (2-7 anos):
Nessa fase, as crianças se transformam em pequenas exploradoras da mente, utilizando a imaginação, a linguagem e a simbolização para construir sua compreensão do mundo.
- Neste estágio, as habilidades de linguagem e simbolismo se expandem rapidamente. As crianças começam a usar símbolos (como palavras, números e imagens) para representar objetos e eventos;
- O pensamento é egocêntrico e as crianças nesta fase são frequentemente incapazes de compreender pontos de vista diferentes do seu próprio;
- O egocentrismo é evidente na forma como a criança percebe e interpreta eventos e situações. Por exemplo, ela pode acreditar que os outros veem as coisas exatamente como ela vê, ou assume que todos têm o mesmo conhecimento que ela;
- O raciocínio se baseia em intuições e percepções imediatas, ainda sem a capacidade de realizar operações lógicas complexas;
- Atribuem vida e intenções a objetos inanimados e personagens ficcionais, demonstrando a crença na animação universal (animismo);
- A capacidade de utilizar símbolos para representar objetos e eventos ausentes abre portas para o mundo da brincadeira simbólica, onde as crianças assumem diferentes papéis e cenários imaginários;
- Nesse estágio as crianças costumam ter dificuldade com operações mentais reversíveis, isto é, em entender que uma ação pode ser revertida ou desfeita mentalmente para restaurar a situação inicial;
- Por exemplo, uma criança pode ser capaz de contar que há o mesmo número de bolas em duas fileiras diferentes, mas se as bolas em uma das fileiras forem espalhadas, ela pode não entender que o número total de bolas é o mesmo;
- A criança também pode acreditar que um copo alto e estreito contém mais líquido do que um copo baixo e largo, mesmo que ambos contenham a mesma quantidade de líquido – estudos de Piaget demonstraram esses fenômenos práticos.
3. Estágio Operatório Concreto (7-11 anos):
Este estágio é marcado por avanços significativos na capacidade da criança de pensar logicamente sobre situações concretas e observáveis:
- Consegue considerar diferentes perspectivas e pontos de vista, superando o egocentrismo do estágio anterior;
- Durante este estágio, as crianças expandem a capacidade de pensar logicamente sobre eventos concretos e reais; desenvolvem a capacidade de compreender relações de causa e efeito e buscam explicações lógicas para os eventos que observam;
- Começa a desenvolver um senso de justiça e moralidade, baseando-se em regras e normas sociais.
- Elas são capazes de realizar operações mentais reversíveis e começam a entender princípios de conservação (como a quantidade de líquido em diferentes recipientes, por exemplo);
- A conservação refere-se à compreensão de que certas propriedades de objetos ou substâncias (como quantidade, volume, massa) permanecem inalteradas, mesmo que a aparência externa desses objetos ou substâncias seja alterada;
- O pensamento lógico ainda é limitado a situações concretas e tangíveis; conceitos abstratos ou hipotéticos são difíceis de entender completamente;
- Ela pode realizar seriação, que é a capacidade de ordenar objetos ou situações de acordo com um determinado princípio (como tamanho, peso, comprimento) de forma lógica e ordenada.
4. Estágio Operatório Formal (11 anos em diante):
O estágio das operações formais é o último dos quatro estágios do desenvolvimento cognitivo propostos por Jean Piaget, abrangendo aproximadamente dos 11 anos em diante. Este estágio é caracterizado por um avanço significativo na capacidade da criança de pensar de maneira abstrata, hipotética e sistemática sobre conceitos e problemas complexos.
- Este estágio marca a transição para o pensamento abstrato e raciocínio hipotético-dedutivo;
- Uma característica distintiva deste estágio é o desenvolvimento da capacidade de pensar de maneira abstrata. Isso significa que o adolescente seja é capaz de manipular ideias, conceitos e símbolos que não têm uma correspondência direta com objetos concretos;
- Ele pode considerar possibilidades hipotéticas, resolver problemas com múltiplas variáveis e pensar sobre questões filosóficas e científicas complexas;
- Consegue usar o raciocínio dedutivo de maneira eficaz. Isso envolve aplicar princípios gerais para chegar a conclusões específicas. Ele pode formular hipóteses e testá-las através do raciocínio lógico, utilizando regras formais e abstratas;
- Este estágio facilita o desenvolvimento do pensamento crítico, onde o adolescente é capaz de avaliar informações de forma objetiva, identificar inconsistências e formar julgamentos fundamentados;
- A capacidade de pensar de maneira abstrata permite que ele considere questões éticas e morais de maneira mais profunda e complexa. Ele pode ponderar diferentes perspectivas e tomar decisões baseadas em princípios éticos universais e valores pessoais diferentes das normas sociais;
- O adolescente desenvolve uma compreensão mais profunda de seus próprios processos mentais e de como pode aplicar estratégias cognitivas de forma eficaz. Ele consegue refletir sobre seu próprio pensamento, avaliar suas próprias habilidades e monitorar seu próprio aprendizado;
- Este estágio também envolve a capacidade de pensar sobre o futuro, de planejar ações a longo prazo com base em expectativas, consequências e responsabilidades.
Recapitule com o vídeo o que você aprendeu
Conclusão
Os quatro estágios do desenvolvimento cognitivo propostos por Jean Piaget — sensoriomotor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal — fornecem uma estrutura valiosa para entender como as crianças constroem e organizam seu conhecimento sobre o mundo ao seu redor. Cada estágio é caracterizado por mudanças qualitativas significativas na forma como as crianças pensam, raciocinam e interagem com o ambiente.
Esses quatro estágios não são apenas sequenciais, mas também progressivos, onde cada estágio prepara a criança para os desafios cognitivos mais complexos do estágio seguinte. Além disso, as limitações observadas em cada estágio refletem não apenas características individuais, mas também o desenvolvimento natural e universal da cognição humana. E eles também não terminam por aqui, cada estágio pode ser estudado com sub estágios, que são abordados em literaturas aprofundadas como as citadas nas referências desse texto.
A proposta de Piaget não apenas influenciou profundamente o campo da psicologia do desenvolvimento, mas também forneceu um arcabouço fundamental para educadores, psicólogos e pais compreenderem como as crianças aprendem e se desenvolvem ao longo de sua infância e além. Este modelo continua a ser uma base importante para investigações e aplicações práticas na educação e na compreensão do desenvolvimento humano.
Por Caio Ferreira
Referências
Biaggio, A. M. B.. (1991). Psicologia do Desenvolvimento. Petrópolis: Vozes.
Kail, R. V.. (2004). A Criança. São Paulo: Prentice Hall.
Rappaport, C. R.; Fiori, W. R. & Davis, C.. (1981). Psicologia do Desenvolvimento: Volume 1: teorias do desenvolvimento conceitos fundamentais. (Org. Clara Regina Rappaport). São Paulo: EPU.
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