Bolsonaro e o Efeito Dunning-Kruger: Por Que as Pessoas Incompetentes são Mais Confiantes?

Hoje é o dia da véspera do Segundo Turno das Eleições Gerais de 2018. A disputa se dá entre dois candidatos muito emblemáticos no cenário político brasileiro. Um representa o Partido dos Trabalhadores, que ocupou o Poder durante três mandatos e meio até ser substituído pelo MDB de Michel Temer em um desgastante processo de Impeachment; o outro, representa o Partido Social Liberal, um partido que ninguém de fato conhece muito bem. E aí é que está: de um lado, Fernando Haddad é menos lembrado do que o partido que ocupa — o PT. E do outro lado, o PSL é menos lembrado do que o candidato que lança: Jair Bolsonaro. E é sobre este último e seus eleitores que tentaremos discorrer algo no artigo de hoje.

Jair Messias Bolsonaro

bolsonhitler

A carreira do candidato começa no Exército Brasileiro, quando entra na Academia Militar das Agulhas Negras. Jair, um nome escolhido por seu pai com base em um jogador de futebol da época, Jair Rosa Pinto, é um nome que, por demanda de sua mãe, precisava ser seguido por Messias, uma vez que a gravidez complicada que esta tivera não explicaria o nascimento do filho senão pela presença de um milagre de Deus (BOLSONARO, F. 2017).

A carreira de militar faz com que Bolsonaro, em 1986, se tornasse finalmente conhecido como o Capitão no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista, a divisão que ocupou até ser preso por expor à Revista Veja detalhes sobre os salários do Exército àquela época. O histórico de comportamento explosivo e impulsivo do militar é corroborado não só pelos episódios que protagonizou à Câmara dos Deputados e nas entrevistas que dava, mas também pelo que aconteceria em Outubro do ano seguinte: Bolsonaro revelaria em público um plano de explodir pequenas bombas em repartições do Exército como forma de protesto aos baixos salários. Toda a repercussão do caso foi suficiente para que o militar se elegesse Vereador da Cidade do Rio de Janeiro em 1989 e Deputado Federal pelo mesmo estado em 1991 – o que se tornou seu emprego até os dias de hoje.

Mil Polêmicas e Dois Projetos

Jair-Bolsonaro-bocejando

A Isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) em produtos de informática e a autorização do uso da fosfoetanolamina sintética, a famosa e cientificamente ineficiente “Pilula do Câncer”, foram os dois únicos projetos que Bolsonaro conseguiu aprovar em todos os seus 7 mandatos como Deputado Federal. Mesmo com a apresentação de cerca de 171 projetos, a baixíssima taxa de aprovação de projetos do Deputado no Congresso, nos permite algumas indagações diversas sobre sua competência, suas habilidades de debater e expor suas ideias aos pares e até sobre o feeling que tem o Deputado, que foi durante 11 anos membro do Partido de Paulo Maluf , sobre como se faz a política e suas articulações.

Bolsonaro é constantemente refutado por especialistas, seu Plano de Governo tem falhas apontadas por diferentes profissionais no assunto, inúmeros jornais estrangeiros e a própria extrema direita francesa, representada por Marine Le Pen, corroboram o que é afirmado por intelectuais e classes laboriosas no mundo inteiro que alertam sobre suas incongruências e incompetências. O próprio Psicanalista e professor catedrático do Instituto Psicologia da Universidade de São Paulo, Christian Dunker faz uma análise do discurso do candidato, conforme poderá ser observado o vídeo a seguir.

Mas o ponto principal deste artigo é: mesmo com todas as informações, estudos e posicionamentos acima, uma grande parcela dos eleitores de Bolsonaro parecem carregar consigo algo parecidíssimo com o que aparece no próprio candidato. Uma espécie de convicção da própria certeza acima de tudo, mesmo que isso custe duvidar de todos. Mesmo que a lógica e a ciência sejam descartadas, há a inquestionável convicção de que o mundo está errado, ao contrário de si próprio. E, acredite ou não, este fenômeno já foi estudado, trata-se do Efeito Dunning-Kruger.

O Efeito Dunning-Kruger

IGNORENT+EXPERTand+the+dunning+kruger+effect

Em 1999, Justin Kruger e David Dunning, pesquisadores da Universidade de Cornell, publicaram um artigo no no Journal of Personality and Social Psychology intitulado “Unskilled and Unaware of It: How Difficulties in Recognizing One’s Own Incompetence Lead to Inflated Self-Assessments“, algo que poderia ser traduzido como “Incompetente e Ignorante da Própria Limitação: Como as dificuldades de alguém em reconhecer a própria incompetência o conduzem a uma arrogância ilusória das próprias capacidades”.

No estudo, os pesquisadores chegaram à conclusão que: em atividades variadas como compreensão de leitura, operação de veículos motorizados, jogar xadrez ou ténis, havia algo que os voluntários tinham em comum – sua ignorância lhes gerava mais confiança do que seu conhecimento.

“[…] se você é incompetente, você não consegue saber que é incompetente (…) As habilidades necessárias para fornecer uma resposta correta são exatamente as habilidades que você precisa ter para ser capaz de reconhecer o que é uma resposta correta. No raciocínio lógico, na educação dos filhos, na administração, na resolução de problemas; as habilidades que você usa para obter a resposta correta são exatamente as mesmas habilidades que você usa para avaliar a resposta. Portanto, nós demos continuidade à investigações para apurar se a mesma conclusão poderia ser verdadeira noutras áreas. E para nossa surpresa, era bem verdadeira.”

O Estudo apontou que um dos primeiros sintomas da incompetência é a própria ignorância sobre ela mesma; e a dificuldade de reconhecer a competência e habilidade das outras pessoas ao redor. Mais ainda: os próprios limites desta incompetência se tornam abstratos demais à consciência de seus portadores – estes só poderiam reconhecer sua falta de habilidade, suas limitações e suas ignorâncias, caso fossem ensinados e treinados sobre aquele assunto em específico. É como se um paciente cego tivesse uma lesão cerebral que o fizesse acreditar que enxerga. Ele só saberá que não enxergava após uma cirurgia que possa reverter o processo.

Para a realização do estudo, auto-avaliações sobre habilidade lógica, habilidade gramática, e humorismo eram aplicadas em alunos matriculados no curso de psicologia divididos em grupos. Em seguida, os alunos eram confrontados com seus próprios resultados e lhes era solicitado que nivelassem seus conhecimentos num nível em relação aos de seus colegas de grupo. A conclusão do estudo foi que: o grupo que se demonstrou mais intelectualmente competente nas atividades pareceu se nivelar em uma posição de conhecimento semelhante à que estava em relação aos outros, em realidade. Mas, para a surpresa dos pesquisadores, o grupo mais incompetente, se colocava em uma posição de competência ACIMA daquela em que seu suposto nível de conhecimento os localizava.

Em seguida, pareceu que aqueles que eram mais conhecedores e competentes, subestimavam o nível de seu próprio conhecimento, pensando que outros poderiam ter o mesmo nível de facilidade que estes apresentavam em algumas atividades. O que não os tornaria tão competentes assim.

dunning kruger

Então, se analisarmos o estudo de uma maneira mais simples, poderemos entender que as pessoas que detém pouco conhecimento sobre um assunto podem sentir/demonstrar saberem mais do que aqueles mais preparados. Isso é uma ótima receita para decisões erradas e resultados desastrosos, mas, de alguma forma, a sua dificuldade em reconhecer a própria incompetência e seus limites é o que lhes dá confiança para que se sintam intelectualmente superiores e tomem estas mesmas decisões. Uma espécie de Ilusão.

E contraditoriamente, há o risco de que alguém que realmente saiba o que está fazendo, exatamente por saber que sabe, por saber dos limites de seu saber e de sua competência, pode sentir a mesma ilusão ao contrário: pode sentir-se inseguro sobre sua competência e subestimar suas próprias habilidades, até podendo atribuí-las a pessoas que não as detém de fato.

Será que confiança e “pulso firme” são realmente sinônimos de competência?

bolso dorme

Por Caio Cesar Rodrigues.

Referências

Bolsonaro, Flávio (2017). Jair Messias Bolsonaro – Mito ou Verdade. Rio de Janeiro: Altadena Editora.

Justin Kruger; David Dunning (1999). Unskilled and Unaware of It: How Difficulties in Recognizing One’s Own Incompetence Lead to Inflated Self-Assessments. Journal of Personality and Social Psychology.

*Todas as imagens contidas neste texto foram retiradas de forma livre da internet. Caso seja proprietário de uma destas imagens, entre em contato com a Sociedade dos Psicólogos imediatamente.

3 comentários em “Bolsonaro e o Efeito Dunning-Kruger: Por Que as Pessoas Incompetentes são Mais Confiantes?”

  1. O Ser Humano tem o lado social e o profissional. O grande problema das mulheres é, geralmente, Não separar a mulher profissional da mulher social (esposa ou pessoal, por exemplo)! Trabalhei num orgão de “egos inflados”, onde na reunião um colega homem, atraente de “corpo” e que conduziu a reunião, colegas de ambos os generos percebiam o lado atraente dele como homem e inteligência e, justamente para muitos, a inteligencia invalida a atração como homem (no caso dele)! Num momento sincerão, como se diz, disse a ele, que durante a reunião meu corpo foi como sintonizando com o dele, que a atração fisica dele se destacava mais que a oratória que ele fazia; ele agradeceu a sinceridade e sabia que a oratória Não era o forte dele, tanto que muitas colegas, faziam desse detalhe, uma “compensação” para darem uma flertada nele! Eu e ele transamos, até mais vezes! Na questão Bolsonaro, ele se valeu do sorriso simpatizante e, do efeito JK; a queda pela suposta facada, visto que a queda ele se esmerou em igualar a do JK quando recebeu o tiro!

    Responder
  2. kkkkkkkk “um dos primeiros sintomas da incompetência é a própria ignorância sobre ela mesmo;” ou seja, é curioso e engraçado como esse texto auto descreve exatamente quem o escreveu, existem coisas que nem Freud explica!!! B22

    Responder

Deixe um comentário