Psicologia da Inteligência: Inteligências Múltiplas e Inteligência Emocional

Fronteiras da inteligência?

O que é ser inteligente ou ter inteligência? Quais as fronteiras e intersecções entre a inteligência e a personalidade ou o comportamento, por exemplo? Como funciona a relação entre aprendizagem e inteligência? Inteligência é igual ao QI? Existem inteligências diferentes? Que raio é Fator G? Inteligência tem a ver com genes ou com o ambiente? A máquina é inteligente? E os animais?

Antes de tudo…

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Você é inteligente? Claro que é!

Definir a inteligência não é fácil. E olha que esse é um tópico estudado pelas ciências há vários séculos. No texto de hoje, busco articular pontos referentes ao tradicional estudo da inteligência em psicologia (testes, psicometria e QI, por exemplo), juntamente com teorias contemporâneas de compreensão, investigação e intervenção sobre essa (Inteligências Múltiplas e Inteligência Emocional).

Avaliação da inteligência

Com a investigação da temática, surgiu uma série de definições/conceitos sobre a inteligência enquanto objeto de estudo da psicologia e outros tantos testes foram criados para avaliar/medir aquilo que se entendia por inteligência. Antes de prosseguirmos, é importante frisar que falo de testes psicológicos, isto é, procedimentos que passaram por experimentações, validações e adaptações (a depender da região e população estudada). Portanto, tratam-se de ferramentas de uso do psicólogo, que segue um manual protocolo padronizado de aplicação/interpretação e busca controlar o setting, a nível de evitar perturbações ou estímulos que possam prejudicar ou que não sejam adequados ao procedimento em questão.

Os testes psicológicos costumam ser divididos em duas principais categorias, os testes de inteligência e os testes de personalidade (projetivos), sendo que, os testes de inteligência encontram-se em uma subárea de estudo da psicologia, chamada psicometria.

“Etimologicamente, psicometria representa a teoria e a técnica de medida dos processos mentais, especialmente aplicada na área da Psicologia e da Educação. Ela se fundamenta na teoria da medida em ciências em geral, ou seja, do método quantitativo que tem, como principal característica e vantagem, o fato de representar o conhecimento da natureza com maior precisão do que a utilização da linguagem comum para descrever a observação dos fenômenos naturais”. (Pasquali, 2009, p. 992)
E é por meio de números, proporções, estatísticas e por esse tipo de medida que a psicologia costuma se debruçar sobre o campo da inteligência e os mais conhecidos testes são:
  • Escala Binet-Simon de inteligência;
  • Escala de Stanford-Binet;
  • WAIS – Escala Wechsler para Adultos;
  • WISC – Escala de Inteligência Wechsler para Crianças;
  • Matrizes Progressivas Coloridas de Raven;
  • Escala de Maturidade Mental Colúmbia.
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(Imagem: CC)

QI e Fator G

O QI é a famosa sigla para Quociente de Inteligência (desenvolvido por Alfred Binet) e diz respeito à uma pontuação média obtida após um procedimento de avaliação da inteligência. Essa média é obtida pela equação QI = Idade mental/idade cronológica x 100 e guarda forte relação com o chamado Fator G.

Fator G significa fator geral de inteligência, é mapeável por meio de testes psicológios e diz respeito a um número que representa a facilidade ou dificuldade, por assim dizer, que alguém tem para realizar uma tarefa. Esse conceito tenta explicar boa parte da inteligência e foi desenvolvido, primeiramente, por Charles Spearman, que considerava esse fator como representante de cerca de 70% da inteligência de alguém. A vantagem do fator G, em comparação ao QI, é que ele é extraído a partir de um conjunto variado e misto de testes.

Falar de inteligência, é falar também de fatores específicos, habilidades específicas, competências ou inteligências múltiplas.

(Howard Gardner. Imagem: CC)

Inteligências Múltiplas (IM)

Crítico à mensuração da inteligência, ao QI e à visão de um fator de inteligência superior aos demais, na década de 1980, o psicólogo Howard Gardner, lider de uma equipe de investigadores da Universidade de Harvard, propõe a teoria das Inteligências Múltiplas. Visão essa que apontou 7 (e depois 8) conjuntos de capacidades, relativamente, independentes.

Conheci essa teoria na época da graduação em psicologia e pude trabalhar com ela por aproximadamente 6 meses, por meio de oficinas em um abrigo para crianças na região da Mooca. Foi muito interessante, pois as crianças nunca haviam ouvido falar de várias inteligências e, em resumo, aquelas que se consideravam “burras” (e pautadas na relação tradicional entre ensino e aprendizagem), após os encontros, descobriram uma série de aptidões, interesses, habilidades individuais e recuperaram parte da autoestima, ao passo em que se viram como inteligentes. Foi óbvio que as oficinas, as reflexões e as dinâmica propostas não só ajudaram no desenvolvimento do Eu, como refletiram na harmonia geral do grupo.

As inteligências apontadas por Gardner são:

  • Lógico-matemática;
  • Linguistica;
  • Musical;
  • Visual-espacial;
  • Corporal-cinestésica;
  • Interpessoal;
  • Intrapessoal;
  • Naturalista (a última acrescentada à lista).

Como o conceito de cada uma das listadas inteligências merece um texto próprio, farei-o, no futuro, juntamente com sugestões de exercícios para desenvolver cada uma delas.

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(Daniel Goleman. Imagem: CC)

Inteligência Emocional (IE)

Na listagem de Gardner, encontramos a inteligência interpessoal e também a inteligência intrapessoal – são as chamadas inteligências pessoais e uma aponta para a relação consigo mesmo, enquanto a outra aponta para a relação com o(s) outro(s), respectivamente.

Um autor que desenvolveu e elevou, ao meu ver, as inteligências pessoais à um novo nível, foi o psicólogo Daniel Goleman – um dos desenvolvedores do conceito de inteligência emocional.

Atualmente, esse é o tema que mais tenho estudado e o conheci por meio do meu contato com a psicologia das emoções. Foi analisando expressões faciais emocionais dos outros e de mim mesmo, observando respostas emocionais externas e internas, estudando comunicação, desenvolvendo a atenção e a consciência que comecei a compreender a inteligência emocional e sua importância. Costumo dizer que a inteligência emocional é mais do que regular as emoções: é desenhar a curva do próprio movimento – é estar no controle. Sendo assim, ela envolve, principalmente, autoconhecimento; controle emocional; compreensão dos outros; controle das relações; e autorresponsabilidade.

“A inteligência acadêmica pouco tem a ver com a vida emocional. Os mais brilhantes entre nós podem afundar nos recifes de paixões desenfreadas e impulsos desgovernados; pessoas com altos níveis de QI são às vezes pilotos incompetentes de suas vidas particulares”. (Goleman, 1995 ,p. 46)

Goleman fala muito de cérebro, busca traçar relações entre a sua teoria e as descobertas da neurociência, apresenta o QE (quociente emocional) e nos mostra que, por meio da plasticidade neural e de projetos de estimulação relatados, é possível desenvolver a inteligência emocional em qualquer idade.

Ele também divide as competências emocionais em sociais (relacionada à inteligência interpessoal de Gardner) e pessoais (relacionada à inteligência intrapessoal de Gardner), sendo que foram apontadas 5 categorias principais que dizem respeito à inteligência emocional, e estas são: autoconsciência; autocontrole; consciência social; gestão de relacionamento; e automotivação/performance.

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(Imagem: CC)

Considerações finais: psicologia positiva e o papel do psicólogo

Sem muito espaço para dialogar e auxiliar as teorias que foram desenvolvidas antes, as IM e a IE ganham mais força na chamada psicologia positiva, que é um ramo da psicologia científica que não se preocupa em tratar patologias ou amenizar o sofrimento, de forma remediativa (em comparação com as abordagens tradicionais que focam muito mais na doença, no sintoma, na “loucura” e em seu tratamento), mas visa aprimorar as faculdades saudáveis do indivíduo e promover mais qualidade de vida à ele (seja qual for a esfera da vida). Isso, pois a psicologia positiva estudou as pessoas extraordinárias, bem-sucedidas, que conseguiram grande feitos e que levam uma vida, além de harmônica, próspera.

Ao estudar o que torna alguém feliz, a psicologia positiva pôde relatar que não são os fatores externos (carro, casa, formação, relacionamento…) que são responsáveis pela felicidade, isto é, não se pode prever, a longo prazo e de forma precisa, o estado de felicidade de alguém, com base naquilo que ela tem (estatísticas perto de 10% de precisão), mas observando as motivações internas de alguém e como o seu cérebro processa o mundo, pode-se chegar aos 90% de certeza de que essa pessoa será feliz ou infeliz. Hoje sabemos que o cérebro se reorganiza e cria novas conexões durante toda a vida, e esse espaço de reprogramação tem sido bem aproveitado por essa linha da psicologia, que tem transformado, positivamente, a vida de milhares de pessoas.

No vídeo abaixo, Shawn Achor, professor do curso de psicologia positiva de Harvard, mostra porque apenas 25% do sucesso de alguém é influenciado pelo seu QI e porque 75% são decorrentes de otimismo, suporte social e capacidade de ver o estresse como desafio (e não como ameaça), por exemplo. (legendas em português disponíveis)

Sendo assim, ao invés de avaliar e diagnosticar “indivíduos retardados” (como a psicologia fez por muito tempo), ou propor programas de reabilitação, ou aplicar testes de psicodiagnósticos, ou realizar tarefas de recrutamento e seleção, por exemplo, novas possibilidades, naquilo que diz respeito à promoção de saúde, emergem para o psicólogo contemporâneo e estão diretamente relacionadas com o desenvolvimento das faculdades emocionais. E é com essa visão, que um psicólogo do esporte, por exemplo, vai trabalhar a estimulação das competências necessárias para os atletas de alto rendimento atingirem a meta definida. Em muitos casos, vai começar, justamente, auxiliando na avaliação do estado atual (na consciência) e no estabelecimento adequado da meta, sendo que, se esse trabalho emocional for bem feito, o atleta, ainda que criticado pela torcida/mídia e/ou perdendo a competição, ou seja lá qual for a circunstância adversa, conseguirá manter o foco e alcançar a performance ideal.

Quer saber mais

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Referências consultadas

Gardner, H. (2000). Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva

Goleman, D. (1995). Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Rio de Janeiro: Objetiva.

Pasquali, L. (2009). Psicometria. Rev Esc Enferm USP. 42. pp. 992-999.

Walton, D. (2017). Inteligência emocional: um guia prático. Porto Alegre: L&PM

 

Por Caio Ferreira

 

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