Psicologia, Psicanálise ou Psiquiatria?

O que são? Quais as diferenças?

Neste texto tentarei separar alguns conceitos que, por vezes, parecem estar misturados nas aulas das psis. Quando dizem: “Fulano” é psicólogo, “Ciclano” é psiquiatra, você saberia dizer a diferença entre as práticas e formação dos dois? Quando alguém procura terapia está procurando também análise? Algumas distinções e fazem necessárias quanto ao fazer de cada profissional. Vejamos.

Nas linhas seguintes, caminharemos por espaços e áreas que coincidem e separam-se mais vezes talvez do que gostaríamos.

Psicologia

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(Imagem retirada da Internet)

A psicologia é uma ciência iniciada em meados do século XIX, dá um passo importante nos laboratórios de Wundt, construídos para o estudo da Psicofisiologia.

Questões que eram incialmente discutidos pela Filosofia, começam à  ser pensados também pela Fisiologia e Neurofisiologia. É digno de nota, que a psicologia recebe status de ciência propriamente dita, quando se desvencilha da Filosofia.

O psicólogo, por definição, é um profissional graduado em psicologia, devidamente registrado no conselho regional que compreende a sua região, e atuante. Como regra, a graduação compreende 05 anos, em instituições de ensino superior, devidamente validado pelo MEC (Ministério da Educação).

O entendimento do mundo, à partir da psicologia, depende do prisma, através do qual se está olhando, isto é,

O objeto de estudo da psicologia, enquanto ciência, é múltiplo, depende da linha de entendimento de cada psicólogo. Para alguém que lê o mundo através de uma lente comportamentalista, o comportamento configura motivo de pesquisa, para um psicólogo psicanalista, o inconsciente é o foco (Bock, Furtado& Teixeira, 1999)

Psicanálise

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(Foto: IB, 2018)

A Psicanálise é uma ciência, iniciada por Josef Breuer (1842-1925), cujas pesquisas clínicas em temas como depressão e hipocondria, lançaram as bases para o trabalho de Sigmund Freud (1856-1939).

Freud, em sua obra magna “A Interpretação dos sonhos” (1900), funda as bases para a prática psicanalítica, como a conhecemos hoje. Encontra na “cura pela fala” (ou talking cure, para os ingleses), um método de tratamento (e pesquisa) das enfermidades neuróticas.

Como afirma Liége Lise (2014): “As terapias e a psicanálise têm em comum o tratamento por meio da palavra, mas a diferença fundamental entre elas se estabelece na forma como a palavra é trabalhada em cada uma dessas áreas” (p. 24).

A Psicanálise é, para mim, essencialmente uma ciência da linguagem, da fala, e, “Consiste em um tratamento singular, único, que escapa à normatização e ao padrão” (Lise, 2014, p. 21).

A Psicanálise busca atuar na relação entre o sujeito e o outro. “Mas trata-se de saber a que nível esse outro é realizado, e como, em que função, em que círculo da sua subjetividade, a que distância se encontra esse outro” (Lacan, 1953-1954/1996, p.70).

Configura-se como um discurso, um discurso que transmite a falta, e uma posição crítica, frente à práticas “prêt-à-porter”.

Psiquiatria

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(Imagem retirada da Internet)

Um psiquiatra é um profissional médico, especializado em Psiquiatria. Atua em instituições de saúde mental, como hospitais psiquiátricos, CAPS (Centro de Atenção Psicossocial), Manicômios judiciários, dentre outros dispositivos.

Ele pode atuar também em consultório, realizando psicoterapia e acompanhamento de casos. Importante apontar que um psiquiatra pode também ser psicanalista, se, na psicanálise apoiar a sua prática.

A nível de teoria, todas as formas de terapia e análise acreditam em uma “realidade psíquica”.

Um fato importante da prática do psiquiatra é que ele pode prescrever remédios, diferente do psicólogo e do psicanalista (não-médico) com efeito psiquiátrico. Ansiolíticos e anti-depressivos, por exemplo, que são os novos queridinhos do mercado farmacêutico em nossos dias. 60% da renda das empresas farmacêutica vêm de remédios de uso psiquiátrico.

Efeitos terapêuticos e efeitos analíticos

Terapia não é a mesma coisa que análise. Posto isso, avançemos.

Ninguém faz análise para se conhecer melhor, isto é um fato. Nunca está tudo bem, e o divã não é o lugar para se sentir “confortável”. O papel do analista é, justamente, de indicar para onde o paciente não gostaria de olhar.

Para a Psicanálise, a queixa que o paciente traz em um primeiro momento, não é o bastante para se estabelecer uma relação analítica. O sujeito deve querer mudar, mudar sua posição frente ao mundo. Para tanto, faz um pedido ao analista, formula uma demanda (Quinet, 2005).

Temos de diferenciar, portanto, os efeitos analíticos, dos efeitos terapêuticos.

Os efeitos analíticos dizem respeito à um reposicionamento do sujeito, frente ao seu próprio desejo, e ao limite. É o que se busca em uma análise. Já os efeitos terapêuticos, ocorrem quando há uma diminuição do sofrimento psíquico, pelo qual determinada pessoa está passando.(Fachinetto, 2017).

Embora os efeitos terapêuticos aconteçam no decorrer da análise (principalmente no início), são os efeitos analíticos que são visados no processo de uma psicanálise.

Para finalizar, acredito como diz, e bem Liége Lise (2014), que todos temos algum mal-estar, sentimos e fazemos coisas estranhas.

Viva a estranhice!

Até a próxima!

Por Igor Banin

Referências Bibliográficas

Bock, A; Furtado, O & Teixeira, M. (1999) Psicologias, uma introdução ao estudo da psicologia. São Paulo, Editora Saraiva.

Fachinetto, L. (comunicação verbal, 25 de Novembro de 2017).

Freud, S. (1900/1996). A Interpretação dos Sonhos. In A Interpretação dos Sonhos (I). (pp. 11-652 Obras completas de Sigmund Freud, v.4). Rio de Janeiro: Imago.

Lacan, J. (1953-1954/1996) O eu e o outro. In Os escritos técnicos de Freud (pp. 56-73, Os Seminários, Livro I). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

Lise, L (2014) Diferenças entre a análise lacaniana e as terapias: Como reconhecer o analista lacaniana? In Psicanálise, a clínica do Real. (pp. 21-36). Barueri: Manole.

Quinet, A. (2005) A função das entrevistas preliminares. In As 4+1 condições da análise. (pp. 13 – 34). Rio de Janeiro: Jorge Zahar.

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